Capítulo 11

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"A morte parece menos terrível quando se está cansado."
(Simone de Beauvoir)


Gizelly abriu os olhos e estava novamente no campo de batalha, via tudo em câmera lenta. Viu quando a bomba explodiu fazendo vários pedaços de seus companheiros voar, piscou algumas vezes e o cenário mudou, estava agora andando entre o campo de batalha, tudo que via a sua frente era poeira e sangue, não havia ninguém ela estava sozinha, fechou os olhos com força querendo que aquilo sumisse, mas quando abriu os olhos o que viu a sua frente foi ainda pior, uma escuridão sem fim. Pensou estar sozinha até escutar uma voz atrás dela.

- Isso é tudo culpa sua.

A morena virou-se procurando ver de onde vinha aquela voz tão familiar a seus ouvidos, e teve que levar a mão a boca para conter o grito que viria a seguir pelo susto, era o rosto de Lucas desfigurado, mas era ela, não tinha olhos era apenas a cavidade ocular.

- Me desculpa, Lucas.

- Você que deveria estar morta.

Outra figura masculina com o rosto do mesmo estado que o de Lucas surgiu ao lado do rapaz.

- Eu sinto muito, Px.

A morena já estava aos prantos ao ver seus ex companheiros de combate mortos. Aos poucos outros ex companheiros de Gizelly iam aparecendo falando que a morena deveria estar morta, e era isso que ela achava merecer também. Fechou os olhos por não aguentar mais ver tudo aquilo, sem forças, só conseguia chorar e quando abriu os olhos tudo tinha desaparecido.

Gizelly acordou gritando, sempre sonhou com o que tinha acontecido, mas nunca havia sido assim, a morena estava sentada na cama aos prantos, desesperada, queria sair correndo e sumir. Saiu de casa do jeito que acordou, nem ao menos trocou de roupa e saiu correndo pela pequena cidade de Belfast.

Ainda era cedo, não passava das 6h da manhã quando Fernanda chegava em frente a clínica para abri-la e se assustou ao ver a morena ali, sentada no chão em frente a clínica, ainda com roupa de dormir e como sempre, descalça.

- O que aconteceu Gizelly? - Perguntou chegando perto da morena que não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar.

Fernanda já trabalhava com Jaqueline a um bom tempo, conseguia identificar quando um paciente da doutora chegava tendo uma crise, assim que viu a morena, ela soube que era o caso dela, e já tinha sido orientada que nesses casos deveria ligar para a médica imediatamente. A loira abriu a clínica e pediu que Gizelly entrasse e a esperasse lá dentro enquanto ligava para Jaqueline, avisando que a morena estava ali.

Em menos de 20 minutos a porta do consultório foi aberta novamente revelando Jaqueline, que estava visivelmente preocupada com a situação de Gizelly.

- O que aconteceu, Gizelly? - A morena apenas chorava - Venha, vamos para a sala.

Jaqueline entrou com Gizelly na sala do consultório e apenas esperou que ela se acalmasse um pouco mais, para tentar entender o que tinha acontecido para a morena ter ficado naquele estado.

- Eu os vi, Jaque. - disse sentada com as mãos no rosto ainda chorando - Eu os vi, e eles disseram que eu deveria estar morta também.

- Quem você viu?

- Meus ex-companheiros.

- Entendo - disse pegando a ficha de Gizelly - E como você viu eles, Gi?

- Eles estavam mortos e desfigurados - disse passando as mãos no cabelo - Eles estavam em um lugar escuro, Jaque - a morena encarava a doutora - Você acha que eles estão sofrendo?

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