Capítulo 17 - Casa nova

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Cap.17

- Eu gostaria de ter vindo a cavalo. – Eu disse, descendo da carruagem na qual tia Rebekah, Carolina e eu viemos. O cocheiro que estava segurando a porta para nós me olhou como se eu tivesse lhe enfiado uma faca.

- Com o perdão da intromissão, - o homem disse – mas a senhora é uma dama. Esse tipo de atividade não é destinada a espécimes tão belas e frágeis.

- Antes de tudo, você não tem o perdão pela intromissão. Cuide de suas próprias coisas. E, para que o senhor saiba, nascer mulher não me impede de montar tão bem quanto qualquer um. Não aplique sua visão preconceituosa a mim.

- Perdão, senhorita.

- Que seja. Leve as malas para a dentro da casa e depois vá cuidar de suas outras obrigações.

- Claro. – Ele disse, se distanciando.

A casa era linda, relativamente isolada e com uma enorme área externa, toda gramada e com lindas árvores, a maioria sendo frutífera.

- Gostou? – Tia Rebekah indagou.

- É maravilhosa. Acho que eu nunca vi nada tão lindo.

- Foi presente da rainha. – Ela afirmou, encarando a mansão de tons pastel, uma mistura de creme e outras cores belíssimas.

- Qual delas? – Carolina perguntou.

- A antiga rainha da França, quando ainda era princesa. Éramos amigas. Vocês duas teriam gostado de frequentar os bailes que ela oferecia. Eram fabulosos.

Pela forma como minha tia falou da mulher, soube que ela morrera a tempos. Sendo assim, ela era realmente antiga.

- Desde que ela me deu essas terras e essa casa, tento mantê-las o mais conservadas possível. Mas fazia muito tempo que eu não vinha aqui.

Tia Rebekah parecia perdida em um tempo distante.

- Sobre o que estão falando? – Kol apareceu de repente em nossa frente.

Eu corri e o abracei.

- Kol! – Foi só o que eu disse.

- Também senti a sua falta, bruxinha.

Estar ali, nos braços do meu melhor amigo depois de tanto tempo longe, fazia com que os problemas parecessem um pouco menores no momento, quase minúsculos.

- Falávamos de Francesca. Lembra dela? – Tia Rebekah disse, devolvendo o questionamento.

- Claro. – Kol falou, desfazendo nosso abraço e ficado ao meu lado. – A loira de cabelos cacheados e profundos olhos azuis claros. Ela era lindíssima. – Ele estava nostálgico.

Aquele comentário me incomodou. Talvez porque ele a achasse bonita e ela fosse o total oposto do que eu sou. Mas eu nada disse.

- Eu vou para dentro. Estou cansada da viagem. – Comuniquei a todos.

- Não quer ver a propriedade? Posso te levar num passeio. – Kol ofereceu.

- Fica para outro dia, tio. Hoje eu realmente não estou com cabeça para isso.

- Cabeça para isso? – Ele riu e passou os braços ao meu redor, me erguendo como se não fosse nada. – Quantos anos você tem? 30?

- E você? – Eu disse, rindo. – Tem 10?

Ele me jogou sobre o ombro e começou a caminhar.

- Essa macieira dará frutos logo. Depois podemos fazer um piquenique à sua sombra, como em Nova Orleans. – Ele falou, ao parar em baixo de uma árvore frondosa.

Eu entendi o que ele estava fazendo. Ele queria que eu fosse feliz ali. Que eu me sentisse em casa.

- Tá bom. – Eu disse, sorrindo, mesmo que ele não pudesse ver. – Agora me ponha no chão. Eu vou para o meu quarto.

- Vamos lá. Vou te mostrar onde é.

Ele não me soltou. Ao contrário, ele só me ajeitou em suas costas e continuou caminhado em direção a casa.

- Kol, me ponha no chão. – Eu me debatia e esperneava sobre seus ombros. – Kol! Me solte!

- Agora eu sou Kol de novo? O que aconteceu com o "tio"? Já não está mais emburrada?

- Isso é absurdo. Eu não sei do que está falando. Eu não estava emburrada com nada. Só estava cansada.

- Não está mais?

- O quê? Cansada ou emburrada?

- Ah. Então você admite que estava emburrada.

- Como é que alguém pode ser tão irritante. Isso é humanamente impossível.

- Eu sou um vampiro.

- Tanto faz, Kol. Agora me põe no chão.

- Não. E pare de espernear. Não seja difícil.

- Falou o homem de mais fácil convivência de toda a Europa.

Kol abriu as portas da mansão e disse:

- Bem-vinda ao lar.

- Por enquanto.

- Detalhes. Não vamos nos ater a eles, não nesse momento. Seu quarto é por ali. – Ele disse, subindo a escada curva com corrimão em madeira lisa que era inteiramente branca.

- Me deixe andar até lá.

- Eu não poderia fazer tal barbaridade, afinal de contas, você não está cansada?

- E você não é o filho de um bárbaro?

- Ponto para você.

- Então me largue.

- Tudo bem.

Ele me tirou de seus ombros e me colocou no chão, delicadamente. Estávamos diante de portas duplas. Provavelmente as do meu quarto.

- Abra. – Ele me orientou. – Me diga se gosta. Caso não, eu posso mudar.

Abri as portas e fiquei em silêncio. O quarto era tão bem iluminado e tinha uma grande janela com cortinas finas de um tecido que eu não reconheci. A vista dava para a frente da casa, onde tia Rebekah e Carolina ainda estavam, a espera de meus tios e meu pai, eu presumi. No centro do enorme quarto, estava uma cama de casal com dossel, de onde pendiam cortinas semelhantes às da janela. Na parede que ficava aos pés da cama, estavam uma penteadeira de madeira avermelhada e um enorme guarda-roupas feito do mesmo material. Pelo chão de madeira se estendia um enorme tapete felpudo cor de creme, provavelmente escolhido para combinar com o tom das paredes claras. A luz da manhã que adentrava pela janela escancarada inundava todo o ambiente, fazendo-o ficar ainda mais lindo. Era magnifico. Esplendoroso. Incrível. Belíssimo. Tão suave e aconchegante. Não existiam palavras para descrever o que eu senti. Na parede ao lado de onde eu estava parada, havia uma enorme estante, ocupando toda ela, os mais variados tipos de livros, com diversas cores e tamanhos. Aquele quarto era o melhor presente que eu já tinha ganhado. Uma pena que eu só ficaria ali por um mês.

- E então?

- Eu amei, Kol. Muito obrigada. – Eu disse e o abracei calmamente. – Eu queria ter mais tempo.- Afirmei e comecei a chorar.

- Shhh. Está tudo bem. – Ele afagou minhas costas com a palma da mão. - Você tem todo tempo do mundo. Esse quarto é seu. Enquanto você o quiser. Quando você sair da escola, ele estará aqui. Esperando por você. Se quiser continuar morando aqui depois, eu ficarei com você. Exploraremos toda a França e a colocaremos aos nossos pés. – Ele disse, sorrindo quando o olhei.

- Obrigada.

- Não há de quê. Pode ir tomar um banho agora para descansar.

- Okay.

Quanto tempo aquela sensação de felicidade permaneceria comigo? Quanto tempo eu tinha com aqueles que eu amava? Não sabia dizer. A cada momento a resposta parecia mais distante. Mas ali, com eles, eu tinha encontrado esperança em meio ao meu completo desespero. Estando com eles, eu estaria em casa, independentemente de onde fossemos. Os Mikaelsons, minha família e o meu lar.



A filha de MarcelOnde histórias criam vida. Descubra agora