Cap.30 -
POV Anne
Henry e eu voltamos para o festival, separadamente e em tempos diferentes, e sentamo-nos em nossos respectivos lugares, junto das nossas respectivas famílias.
Os meus tios me encheram de questionamentos sobre a história de eu ter sido pega usando magia fora da escola, e eu contei a eles a mentira que eu contei a todos os outros que perguntaram, não que eu quisesse esconder aquilo deles, mas eu não me sentiria bem se tivesse de revelar o segredo de Henry e a verdadeira motivação que me fez sair dos limites da escola naquele dia. Apesar disso, a minha frustração foi forte, já que mesmo eu tendo usado magia, queimado o corpo, possuído Henry para mentir para os pais dele, violado as barreiras da escola e ser pega por isso, os Odil descobririam toda a verdade acerca da morte do servo em menos de uma semana, quando o filho deles se convertesse em sua forma mais primitiva e perigosa. Eu suspirei pesadamente enquanto olhava de soslaio a família de meu amado. Em uma ocasião diferente, sem tantas mentiras, segredos e manipulações mútuas, teria sido bom os conhecer, talvez conseguir a benção deles para a minha relação com Henry, seja lá o que existia entre nós.
Quando o sol se pôs e a noite revelou-se astuta sobre nós, músicos instrumentistas começaram a tocar, as famílias e as alunas, depois de caminhar pelos jardins da escola durante a tarde, retornaram para o pátio onde anteriormente estavam dispostas as mesas nas quais eles tinham sentado-se durante o almoço e depararam-se com o espaço desocupado e substituído por uma pista de dança quadrada e muito extensa feita de pedra acinzentada, provavelmente tendo sendo uma iniciativa das bruxas para promover uma noite de danças entre os convidados.
Eu não fiz questão de participar dos rodopios compassados daqueles que se arriscaram a puxar um par pela pista, ainda sim, não tirei os olhos daqueles que dançavam. O duque e a duquesa humanos giravam com leveza e graça, transparecendo seu afeto um pelo outro. As alunas, em sua maioria, dançavam com as amigas em pares ou trios, cheguei a ver um grupo de quatro garotas rodopiando e sorrindo umas para as outras. Com exceção das famílias e dos pares que já estavam formados, não existiam muitos parceiros em potencial, uma vez que o número de rapazes era reduzido, e aqueles que estavam presentes, menos os comprometidos, estavam sendo totalmente monopolizados por Paula, que os escolhia e rodava com eles inúmeras vezes, revezando entre um e outro, sinceramente eu não entendo como ela não estava totalmente exausta, eu sentia-me tonta apenas por observá-la. Ela dançou com todos os acompanhantes do duque e da duquesa, os soldados "disfarçados" e com quatro dos seis servos do pai de Celeste, que por sua vez manteve-se longe da pista, assim como a filha. Bom, basicamente Paula só não havia dançado com os dois servos e com os homens da minha família, mesmo Henry ela convidou, e ele, incentivado pelos pais, cedeu a ela. Eu estava me sentindo tão terrivelmente ciumenta sobre eles, ainda que eu o visse me olhar a cada poucos segundos, a expressão ansiosa, como se pedisse para que eu não interpretasse mal, eu apenas acenei com a cabeça na esperança de tranquilizá-lo.
Rebekah e meu pai foram os únicos da minha família que se arriscaram na pista de dança, e quanto mais eles moviam-se juntos, mais perceptível era a sincronia deles. Eu sempre admirei a forma como os dois pareciam completar um ao outro, como seus ritmos estavam em harmonia constante, como eles pareciam sempre tão irremediavelmente apaixonados, sobre como não brigavam por tolices e sobre como buscavam resolver suas divergências em nome da relação e do amor um pelo outro. Enquanto o vestido dela balançava e as pontas soltas propositalmente em seu penteado seguiam com a brisa, seu rosto era frio ao olhar ao redor, mas ao encarar meu pai, ela sorria de forma apaixonada e encantadora, Marcel por sua vez, olhava-a totalmente hipnotizado. Eu sorri para eles quando seus movimentos os trouxeram para perto de mim.
Afastei-me da pista e fui em direção a uma dos garçons que estava com uma bandeja com bebidas variadas, eu mirava o whisky com gelo em um copo arredondado de crystal que provavelmente já tinha dono, mas eu não ligava para isso enquanto sentia minha garganta raspar com a sede causada pela ansiedade do dia que parecia estar se estendendo demais. A essa altura eu ficaria feliz se caísse um raio na cabeça de uma das velhas bruxas para ver o restante delas nos dispensar.
Quando me aproximei, o garçom parou para ouvir o que eu desejava. Eu sorri, tentando seduzi-lo para tomar para mim o copo de whisky. Funcionou. Eu peguei o copo e agradeci, mas ele me questionou.
- A senhorita não é muito nova para beber algo tão forte, mi lady? - Seu tom era respeitoso e preocupado.
Eu apenas sorri e me virei.
- De fato, você é. - Kol falou, seu rosto a centímetros do meu. Ele tomou o copo com a bebida da minha mão e o substituiu por um suco que aparentava ser maçã. Eu o olhei com descrença e devolvi o copo com suco na bandeja do rapaz que ainda nos observava, logo depois ele saiu.
Kol deu um gole.
- Cruzes, esse whisky é muito provavelmente um ou dois anos mais velho que você, Anne. Por que você beberia algo tão destoante da sua doce e gentil personalidade? - Ele perguntou, debochando de mim.
- Eu não sou mais criança, já tenho quase 17. Você sabe, Kol. Achei que você seria a última pessoa a reprimir a minha precoce formação de um vício.
- Porque? Apenas por eu ser um assassino e alcoólatra inveterado, além é claro dos outros vícios que não é certo mencionar na frente de uma dama. - Ele tentou defender-se, obtendo de mim o extremo oposto de empatia. Eu às vezes gostaria de bater nele por ser tão irônico com tudo. - Eu te repreendo porque você não tem que provar o quão adulta é, para ninguém, muito menos usando um artifício tão sombrio quanto beber uma coisa envelhecida em uma barril de carvalho por uns 20 anos.
- Não importa o quanto eu beba, ou faça as coisas que os adultos fazem, você e os outros vão continuar me repreendendo, eu acho que é apenas natural para vocês. - Eu sorri e o cutuquei com o ombro. Logo depois entrelacei nossos braços e começamos a caminhar, andando ao redor da pista de dança e comentando sobre um e outro detalhe da festa. Ele parecia bem à vontade ali, entre as bruxas. Ficamos nisso por quase uma hora e nesse tempo, eu não me senti nem um pouco ansiosa, não sentia nenhuma necessidade de beber ou qualquer coisa do tipo, ainda que vez ou outra eu sentisse os olhares das pessoas sobre nós, eu não estava nem ligeiramente incomodada sobre nenhum aspecto.
Quando algumas pessoas retiraram-se da pista e a música tornou-se um pouco menos agitada, Kol convidou-me para dançar e eu de bom grado aceitei. Dançamos duas vezes seguidas e depois sentamo-nos em um banco de ferro cheio de arabescos que estava sob uma árvore alta. A luz da festa ainda nos alcançava, apesar de mais fraca.
- Onde estão Klaus e Elijah? - Perguntei pouco tempo depois.
- Klaus deve estar assombrando alguma aluna qualquer e Elijah está sendo o irmão bonzinho/diplomata a serviço de nossa família, especificamente a meu serviço, na verdade. - Ele respondeu.
- Acordos diplomáticos, é? Com quem, posso saber? - Especulei, curiosa.
- Com o Maurice Dubois, ele é um bruxo muito influente que provavelmente não gostaria de tratar comigo diretamente, então enviei seu tio, que é mais paciente que eu.
- Apenas ligeiramente. - Eu debochei.
- Haha, você é muito engraçada. - Ele fez careta.
Uma brisa atingiu meu rosto e eu estremeci, eu estranhamente não tinha percebido o tempo esfriando ao nosso redor.
Kol tirou a parte superior de seu smoking e colocou-a sobre os meus ombros, carinhosamente. Eu agradeci e ele simplesmente sorriu levemente para mim.
- Espero não estar atrapalhando, mas me concederia a honra da próxima dança, senhorita Gerard? - A voz dele estava comedida, mas era óbvio que ele parecia meio irritado. Eu hesitei brevemente, mas devolvi o casaco de Kol e com a licença dele, segui para a pista de dança com Henry Odil.
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A filha de Marcel
FanfictionNascer bruxa no quartel francês já não era uma coisa muito boa, mas ser abandonada ainda bebê pela mulher que deveria me amar, foi ainda pior. Mas eu tive a sorte de encontrar um pai que me amou e que me deu uma família. Eu sou Anne Marie Gerard, um...