POV Anne
Na primeira semana após o casamento de Carolina e a sua consequente partida, o tédio se instaurou em mim. As aulas pareciam sempre repetitivas, as anciãs cada vez mais irritadas, e as outras garotas, distantes.
Eu, anteriormente, havia me decidido por falar com Celeste, para almejar uma trégua entre nós, agora que o pai dela e minha mãe tinham se casado. Não que houvesse algum tipo de ressentimento da minha parte, mas eu sabia que essa ausência de raiva da outra não era mútua. No casamento, a raiva de Celeste era perceptível. Ela e Henry eram estátuas perfeitas, ambos me ignorando por motivos diferentes e da forma mais infantil que se poderia imaginar, quase achei cômico.
Celeste havia parado de frequentar as mesmas aulas que eu e agora estava focada na fase final da instrução das anciãs. Visto que seu 19º aniversário se aproximava, ela logo sairia da escola. Os tão estimados 19 anos, eram como a maturidade mágica real das bruxas, por isso, após completar essa idade, as garotas podiam escolher continuar na escola ou não e teriam sua escolha respeitada por todos, já que seriam reconhecidas como membros adultos da comunidade mágica.
À porta do quarto de Celeste, eu hesitei. O que eu diria? Que eu desejava fazer as pazes? Não é como se alguma vez tivéssemos sido próximas dessa forma. Ainda assim, algo me fazia querer falar com ela.
Bati na porta.
Silêncio.
Ouvi passos suaves se aproximando. Ela abriu a porta com muita delicadeza e me olhou.
– O que deseja, senhorita Gerard? – Não havia gentileza em sua voz e seus olhos não demonstravam boa vontade para comigo.
– Conversar. – Eu respondi, simplesmente. – Posso entrar? – Forcei um pouco.
– Creio que a senhorita se confundiu. – Ela fez uma pausa enquanto olhava para os lados do corredor vazio, por ser horário de aula. – Esse não é o seu quarto. Por que motivo imagina poder entrar? – Ela piscou demoradamente ao fim da pergunta.
Aquele comentário infantil era uma atitude tão previsível que a provocação dela nem sequer me incomodou.
– Porque do lugar de onde eu venho, as pessoas educadas resolvem suas desavenças com conversas educadas, as quais geralmente se realizam com ambas as partes confortavelmente acomodadas. – Eu respondi, da forma menos implicante que consegui.
Ela abriu totalmente a porta e se apoiou na maçaneta, a outra mão na cintura.
– Engraçado a senhorita mencionar pessoas e conversas educadas, porque de onde eu venho, pessoas educadas não mantêm as outras na ignorância por puro capricho. – Ela estava zangada, que irritante.
– Eu não vou discutir isso aqui, no meio do corredor. Caso queira ouvir o meu lado da história, insisto para que me deixe entrar para conversarmos. – Eu fiz uma última tentativa. O meu âmago se revirava com a necessidade de resolver logo aquela situação incômoda.
Celeste permaneceu calada.
Eu me preparei para me despedir e ir embora.
A garota Dubois abriu passagem para mim e disse:
– Que seja, entre logo.
E assim eu fiz.
Ela se sentou na cama e me olhou, esperando. Me sentei na cadeira da escrivaninha dela.
– Seriamente, qual o motivo de você ter vindo? – Ela tinha deixado o "senhorita" de lado.
– O ponto difícil por ter sido educada em grande parte por meu tio Elijah, é que ele passou para mim uma fração de seu estranho senso de justiça. – O rosto dela não revelou nada. – Eu sei quem seu pai é, ao menos eu acho que sei. Sei o que sua família representa e sei o que você supostamente deveria ser. – Eu respirei. – Vim aqui porque quero saber quem você realmente é, ouvir o seu lado da história, basicamente.
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A filha de Marcel
FanfictionNascer bruxa no quartel francês já não era uma coisa muito boa, mas ser abandonada ainda bebê pela mulher que deveria me amar, foi ainda pior. Mas eu tive a sorte de encontrar um pai que me amou e que me deu uma família. Eu sou Anne Marie Gerard, um...