Capítulo 40 - Formando laços

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POV Anne

Na primeira semana após o casamento de Carolina e a sua consequente partida, o tédio se instaurou em mim. As aulas pareciam sempre repetitivas, as anciãs cada vez mais irritadas, e as outras garotas, distantes.

Eu, anteriormente, havia me decidido por falar com Celeste, para almejar uma trégua entre nós, agora que o pai dela e minha mãe tinham se casado. Não que houvesse algum tipo de ressentimento da minha parte, mas eu sabia que essa ausência de raiva da outra não era mútua. No casamento, a raiva de Celeste era perceptível. Ela e Henry eram estátuas perfeitas, ambos me ignorando por motivos diferentes e da forma mais infantil que se poderia imaginar, quase achei cômico.

Celeste havia parado de frequentar as mesmas aulas que eu e agora estava focada na fase final da instrução das anciãs. Visto que seu 19º aniversário se aproximava, ela logo sairia da escola. Os tão estimados 19 anos, eram como a maturidade mágica real das bruxas, por isso, após completar essa idade, as garotas podiam escolher continuar na escola ou não e teriam sua escolha respeitada por todos, já que seriam reconhecidas como membros adultos da comunidade mágica.

À porta do quarto de Celeste, eu hesitei. O que eu diria? Que eu desejava fazer as pazes? Não é como se alguma vez tivéssemos sido próximas dessa forma. Ainda assim, algo me fazia querer falar com ela.

Bati na porta.

Silêncio.

Ouvi passos suaves se aproximando. Ela abriu a porta com muita delicadeza e me olhou.

– O que deseja, senhorita Gerard? – Não havia gentileza em sua voz e seus olhos não demonstravam boa vontade para comigo.

– Conversar. – Eu respondi, simplesmente. – Posso entrar? – Forcei um pouco.

– Creio que a senhorita se confundiu. – Ela fez uma pausa enquanto olhava para os lados do corredor vazio, por ser horário de aula. – Esse não é o seu quarto. Por que motivo imagina poder entrar? – Ela piscou demoradamente ao fim da pergunta.

Aquele comentário infantil era uma atitude tão previsível que a provocação dela nem sequer me incomodou.

– Porque do lugar de onde eu venho, as pessoas educadas resolvem suas desavenças com conversas educadas, as quais geralmente se realizam com ambas as partes confortavelmente acomodadas. – Eu respondi, da forma menos implicante que consegui.

Ela abriu totalmente a porta e se apoiou na maçaneta, a outra mão na cintura.

– Engraçado a senhorita mencionar pessoas e conversas educadas, porque de onde eu venho, pessoas educadas não mantêm as outras na ignorância por puro capricho. – Ela estava zangada, que irritante.

– Eu não vou discutir isso aqui, no meio do corredor. Caso queira ouvir o meu lado da história, insisto para que me deixe entrar para conversarmos. – Eu fiz uma última tentativa. O meu âmago se revirava com a necessidade de resolver logo aquela situação incômoda.

Celeste permaneceu calada.

Eu me preparei para me despedir e ir embora.

A garota Dubois abriu passagem para mim e disse:

– Que seja, entre logo.

E assim eu fiz.

Ela se sentou na cama e me olhou, esperando. Me sentei na cadeira da escrivaninha dela.

– Seriamente, qual o motivo de você ter vindo? – Ela tinha deixado o "senhorita" de lado.

– O ponto difícil por ter sido educada em grande parte por meu tio Elijah, é que ele passou para mim uma fração de seu estranho senso de justiça. – O rosto dela não revelou nada. – Eu sei quem seu pai é, ao menos eu acho que sei. Sei o que sua família representa e sei o que você supostamente deveria ser. – Eu respirei. – Vim aqui porque quero saber quem você realmente é, ouvir o seu lado da história, basicamente.

A filha de MarcelOnde histórias criam vida. Descubra agora