Capítulo 36 - Frágil que nem porcelana?

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POV Anne

Enquanto caminhava para longe da sala, percebi-me sem lugar para o qual rumar.

Eu não queria voltar ao quarto e ter de explicar a Carolina o motivo de eu não estar em classe, a possibilidade de preocupá-la enchia meu coração de culpa. Eu estaquei no corredor, vazio, por ser meio do horário de aula.

– Anne. – Ela chamou meu nome e tocou meu ombro para atrair minha atenção.

Os olhos dela estavam ansiosos, a respiração levemente acelerada, ela havia corrido para me alcançar.

– Celeste? – Eu estava incrédula por vê-la ali, me encarando.

– Você está bem? – Ela perguntou.

Celeste não era do tipo que corria atrás das pessoas para perguntar a elas sobre seu estado de espírito, eu nunca havia ficado sabendo de uma única vez na qual ela ausentou-se de uma aula, a não ser que fosse a mando das anciãs. Ao olhar para o rosto preocupado dela, eu sentia a empatia, mas não era capaz de confiar cegamente em suas intenções. O interesse dela em mim me deixava apreensiva.

– Eu estou como sempre. A sua preocupação se faz desnecessária. – Eu me desvencilhei de seu toque em meu ombro.

– Uma pessoa no seu atual estado de saúde não deveria passar por situações muito estressantes. Sinto muito pelo ocorrido na sala. – Ela disse, educada e contida, de volta ao seu habitual.

Quando ela falou da minha saúde, de súbito, como se acionada pela voz dela, senti uma tontura repentina e meu corpo quis ceder.

Eu não iria cair, ainda assim, Celeste me amparou como se eu fosse.

– Deixe-me ajudar. – Ela pediu.

– Eu me recuso, senhorita Dubois.

– Não seja tão teimosa. – Ela disse, sua voz soava apressada. – Estamos perto do meu quarto. Você pode descansar lá e ir de volta aos seus aposentos quando o horário da aula acabar, assim não terá de dar explicações.

Eu não queria mais resistir. Meu corpo queria muito repousar, e eu decidi ceder.

– Eu aceito. Mas fique avisada de que eu não sou boa companhia nos últimos tempos.

O lampejo de um sorriso começou a surgir em seus lábios.

– Tudo bem, eu aguento.

Seguimos rumo ao quarto, ela me segurando hora ou outra, como se temesse que eu me quebrasse toda.

– Sabe, não precisa disso. Eu não sou de porcelana. – Eu protestei enquanto ela me amparava.

– Você parece estar prestes a se quebrar, e eu não sei se é física, por conta do seu estado de saúde, ou psicologicamente, por conta da vida que você leva. Então não me repreenda por me preocupar um pouco, certo?

Aquilo me constrangia. Por que ela se importava? Eu me sentia constantemente confusa com o quão familiar o cuidado dela parecia. Tinha sido a mesma coisa no dia em que desmaiei no quarto dela. Apesar de irritada, ela me deitou na cama e me cobriu. Era fraternal demais para o meu gosto.

– Faça como quiser. – Eu disse, sentindo o rubor subir às faces.

Ao chegarmos ao quarto, ela abriu a porta e me deixou sentar na cama primeiro e depois imitou meu movimento.

– Não prefere se deitar, Anne? – Ela perguntou, cordialmente.

– Não se preocupe. Apenas sentar é o suficiente. Eu me sinto bem agora. Vamos só matar o tempo aqui um pouco.

A filha de MarcelOnde histórias criam vida. Descubra agora