Reencontro

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[-Lena-]

Destranquei a porta do quarto. Estava morrendo de fome. Atravesso a sala num pulo e vou direto para cozinha. Abro a geladeira.

- Deixei um sanduiche para você em cima do balcão. – Ouço a voz vindo do sofá da sala. Samantha sentada vendo TV.

Conheci Sam no primeiro ano da faculdade. Estava no mesmo curso e nas mesmas aulas. Rapidamente nos tornamos boas amigas. No segundo semestre, passamos a morar juntas em um apartamento. Eu queria um lugar mais perto da Universidade e mais longe de meus pais. Foi a decisão perfeita.

Viro-me para o balcão e pego o sanduiche. Mordo um pedaço maior do que realmente cabe na minha boca.

- Hummm.

- Estava com fome mesmo. – Sam ri.

- Não consegui preparar direito minha alimentação para o cio. – Falo de boca cheia. – Ele veio antes.

Pego um copo da água e me jogo no sofá do seu lado. Sam franze o nariz e faz uma careta.

- Você precisa urgente de um banho, isso sim. Tive que ficar jogando Bom Air aqui já que a porta não segurou seu cheiro. – Ela me olha de relance. – Ainda bem que eu e nosso vizinho somos ômegas. Se passasse algum alfa perto, eu teria que entrar na porrada para manter ele longe daqui.

Sinto minhas bochechas corarem.

- E o isolamento acústico do seu quarto também não está tão bom. Podia ouvir seus gritos, Lena.

- Ok! Já entendi, Sam! – Suspiro. Ela tinha o dom de me deixa envergonhada. – Vou contratar alguém para reforçar o isolamento do quarto. - Ela dá um sorriso vitorioso. Já tínhamos conversado sobre isso nos meus cios passados. Mas não dei muita bola porque é uma vez a cada quatro meses. – Quer que eu faça no seu quarto também?

- Não tem necessidade.

Realmente não tinha. Sam não passava seus cios sozinha e também nunca era aqui.

- Então... foi a mesma coisa? – Ela perguntou curiosa. – Loira dos olhos azuis?

Prefiro quando os olhos estão pretos. Mas entendo seu tesão pelos olhos azuis, querida.

- Sim. Ela não sai da minha cabeça em nenhum cio. – Bufo inconformada. – Ela me estragou.

- Ai Lena! - Sam gargalha. – Devia procurar por ela.

Sim.

- Não.

Kara estava lá no meu primeiro cio, mas, quando ele terminou, ela tinha sumido. Meus pais me avisaram que para a alfa eu apenas fui uma ômega fácil. Ela foi embora sem olhar para trás. Eles me encontraram sozinha naquela sala e me trouxeram para casa, só então tive meus cuidados apropriados. Houve muitos sermões na época de como eu tinha sido irresponsável. A vergonha me atingiu por inteiro, principalmente pelo meus pais terem presenciado minha situação pós-cio, pelada e cheia de hematomas. No calor do cio tinha gostado de cada marca feita em mim, mas depois foram dias elas me lembrando que a pessoa que tinha feita havia sumido. Até a pílula tive que tomar para não correr o risco de engravidar, por ter feito sexo durante o cio. Infelizmente, não me arrependo. Nunca me senti tão viva como naquele dia.

O primeiro cio do ômega quando se tem 16 anos poderia facilmente ser despertado se estivesse na presença de um alfa, do alfa a mesma coisa. Por isso que as escolas segregavam ômegas e alfas, e por isso também os inibidores. Até porque, diferente dos próximos cios, os supressores para evitar que acontecessem não funcionam no primeiro cio.

A ausência de Kara era algo que sentia falta o tempo inteiro. Katie também sentia. Ela não comentava muito, já que sabia que eu não gostava, mas percebia nos seus sutis comentários. Porém tinha meu orgulho, nunca a procuraria.

- Vou lá tomar meu banho. – Coloco o copo na mesa de centro e levanto.

Preciso apagar a existência dela da minha mente.


...


O primeiro dia de aula era sempre tranquilo. Os professores optavam por usar suas aulas para se apresentarem e dar apenas uma introdução de como seria a matéria naquele semestre. O sinal ecoou na sala, indicando o fim daquele dia. Enquanto recolhia meus materiais, Sam fazia o mesmo.

O cheiro de amadeirado se aproxima. James.

- Oi Lena, você gostaria de ir tomar alguma coisa? – Ele pergunta galante.

Meu estômago revira. O cheiro de outro alfa, sem ser ela, me enjoa.

Talvez eu devesse aceitar...

Você sabe que não.

Katie já tinha escolhido sua alfa.

Kara realmente me estragou. Eu a odiava.

Eu não precisava de um alfa. Era isso. Já tinha decidido que ficaria sozinha pelo resto da minha vida.

- Desculpa, eu e Sam já tínhamos combinado de sair juntas. – Respondo educada.

- Sim, realmente! – Sam confirma minha mentira.

Mas ele não desiste.

- Posso acompanhar vocês.

- É um programa só de ômegas. – Sam rebate. Ela entrelaça meu braço e me tira de lá antes que eu precise mentir novamente.

Agradeço mentalmente a Sam por sempre ficar do meu lado.


...


Chegamos ao pátio descoberto e paro abruptamente.

Você está sentido?

Sim, Katie. Eu sinto.

Meu olfato capta o leve cheiro de canela.

Ela está aqui.

Meu coração acelera. Inspiro tentando sentir mais.

- Está tudo bem? – Sam pergunta com minha parada brusca. Ela me olha preocupada. – Lena?

Vai atrás dela.

- E-eu preciso ir.

Saio em disparada seguindo seu cheiro.

Na direção do estacionamento.

Quando desvio de uma árvore, eu a vejo. Kara está correndo em minha direção.

Ela realmente está aqui.

Nossos olhos se encontram e vejo o relapso dos olhos pretos por um segundo. Ela sorri e corre ainda mais rápido. Me abraça num impulso. Sinto todos os pelos do meu corpo arrepiarem e seu cheiro me envolver.

- Eu te encontrei. – Kara diz suspirando em meu ouvido e me apertando mais forte, me envolvendo completamente.

Maçã e Canela - SuperCorp (ABO) - Kara G!POnde histórias criam vida. Descubra agora