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Fic novo pra vocês, espero que gostem 🙃

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A folha preta amarronzada cessou a sua luta em ficar pendurada e finalmente rendeu-se, à força da gravidade, para o fluxo do vento. Voou impotente, sem rumo sobre os carros em uma dança improvisada, com passos improvisados até que, finalmente, pousou.

O lápis parou no meio do seu caminho, seu movimento interrompido por um intruso inesperado em seu caminho. Juliette freire limpou a folha com a sua mão esquerda antes de se sentar para examinar o seu progresso. Ela olhou para as linhas perfeitas em preto e branco que formavam uma réplica exata do parque ao seu redor: O banco que agora estava ocupado, as árvores nuas, as folhas secas que estavam próximas, as pessoas passeando. Ela levantou o seu olhar do seu bloco de notas para comparar a recriação quase perfeita do seu homólogo vivo, tridimensional, e suspirou.

Como era possível ela preencher uma página em branco com tudo o que ela via? Como ela poderia capturar sorrisos, sons, tristezas e desespero com um simples traçar de um lápis? Ela conseguiria? Era possível?

As mesmas perguntam que sempre pairavam pela sua cabeça e que eram impostas pelo fantasma que a obrigava a duvidar de si mesma. A necessidade de começar tudo de novo; a necessidade de criar e recriar até que nenhuma dúvida restasse. A folha se rasgou facilmente do seu bloco de notas e tornou-se nada mais do que uma bola amassada e desapareceu em uma eternidade de tentativas descartadas.

"Desculpe, eu estou atrasado." Ele disse num tom de voz que evidenciava sua falta de sinceridade. Seus lábios encostaram nos dela em uma apresentação apressada e ele se sentou ao seu lado no banco, uma mão enfiada no bolso do seu longo casaco preto e a outra segurando um cigarro.

Seus olhos castanhos escuros se demoraram no vazio da folha branca. "Já são cinco horas?" Ela perguntou, mesmo sabendo que já eram mais de seis horas. "Acho que perdi a noção do tempo." Então levantou o seu olhar e olhou para os olhos escuros do namorado tentando sentir alguma coisa. "A aula atrasou?"

"O professor queria falar comigo sobre o meu último trabalho." Ele disse enquanto a fumaça do cigarro saia dos seus lábios. Ele tirou um papel do bolso e entregou a ela. "Olha só."

Tinha um grande "10" estampado no topo da página com caneta vermelha. Ela sorriu, tentando se sentir orgulhosa, mas sentindo um ressentimento no lugar. "Esse trabalho é aquele que você fez de qualquer jeito?"

"Genialidade é uma coisa espontânea para algumas pessoas", ele riu enquanto jogava a guimba do cigarro no ar. A gola do casaco dele embolou com o ato e sem ao menos perceber Juliette a colocou de volta no lugar. Ele sorriu para ela e depois deu um beijo na palma da mão dela que repousou na bochecha dele. "Desculpe por eu estar tão ocupado ultimamente."

Juliette olhou para ele por um bom tempo, parando no lindo sorriso que um dia teve o poder de desarmar ela. O que aconteceu? Ela pensou. Pra onde foi? "Tá tudo bem, Lucas." Ela disse, sabendo que em algum momento teria que contar a verdade para ele.

Ele se inclinou para beijá-la e ela sorriu contra seus lábios, saboreando o doce amargo da familiaridade. Ela desejou que pudesse tirar uma foto daquele momento para moldá-la contra seus pensamentos sombrios. Ela queria sussurrar um "Eu te amo" por força do hábito, apenas, mas sufocou o impulso e se afastou.

"E então, o que você estava fazendo?" Ele perguntou, com seu olhar sobre o bloco de notas que agora estava no colo dela.

Juliette olhou para baixo e deu de ombros, sentindo raiva de si mesma por não ter nada para mostrar. Como ela desejava que alguma coisa maravilhosa aparecesse nas páginas vazias para que ela pudesse mostrar que ele não era o único com um futuro brilhante. Em vez disso, se sentiu nua, seu fracasso exposto na ausência explícita de motivação. "Eu... eu tinha feito um desenho, mas joguei fora."

The blind side of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora