The blind side of love

1.8

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Quando Carla chegou de sua audição, Juliette estava terminando o seu e-mail para Sarah. Ou ela estava digitando por mais tempo do que achava, ou a audição de Carla terminou cedo demais. Ela manteve seu olhar na tela do computador até que o e-mail fosse realmente enviado. Então fechou a tela do notebook e se virou para olhar pra cozinha.
                     
Carla estava encarando a geladeira. "A gente realmente precisa ir no mercado comprar umas coisas. Tudo o que a gente tem é esse resto de macarrão que eu não sei nem que dia foi feito e cerveja." Ela pegou uma garrafa de cerveja e fechou a porta.
                   
"Essa audição foi bem rápida."
                  
Carla tirou a tampa da cerveja e jogou no lixo antes de se virar pra ir para a sala. "Foi um pesadelo."
                   
"Um tipo de pesadelo chato, ou interessante do tipo 'espere-eu-fazer-a-pipoca'?"
                 
Carla tomou um longo gole e se sentou ao lado de Juliette. "Definitivamente o tipo da pipoca." E então sorriu. "Se nós tivéssemos alguma aqui."
                   
"Então vamos direto pra história." Ela se endireitou no sofá para ficar confortável. "Manda ver."
                   
"Bem. Vamos ver. Primeiro, eu levei uma eternidade para achar o lugar porque ninguém conhecia o tal do Teatro Montenegro e quando eu achei que tinha achado o teatro, eu continuei sem achar nada, porque na verdade não era um teatro, era só um prédio normal."
                  
"Okay..."
                  
"E não era nem um prédio chique. Não. Aquele apartamento faz o nosso parecer luxuoso. Enfim, eu entrei no 'Teatro Montenegro', subi para o terceiro andar, como dizia a instrução, e bati na porta do 312. Nesse momento eu já tinha certeza que não era nada do que eu estava esperando. Mas daí eu pensei, uma audição é uma audição. Então eu bati e esperei. E esperei. Quando a porta finalmente abriu, do nada me aparece um cara vestindo um short curtíssimo."
                  
Juliette segurou uma gargalhada. "Só um short curto?"                     

"Só um short curto. Ele estava segurando uma garrafa de cerveja em uma mão, e me olhando de cima a baixo como se eu fosse uma stripper que tinha sido mandada para ele."
                  
E então ela gargalhou. "Isso é insano. E o que você fez?"
                   
"Bem... Ele me perguntou se eu estava lá para a audição. Primeiro eu pensei em dizer que eu tinha batido na porta errada, porque sério..." Ela gargalhou. "Mas então eu falei que estava, e ele me convidou pra entrar. Naquela hora eu já estava procurando o meu spray de pimenta na bolsa só por precaução. Enfim, eu o segui até um quarto bem pequeno e achei.... um cara muito lindo pelado."
                   
"O quê?"
                  
"Completamente pelado. Completamente lindo. Encurtando a história, era uma audição para um filme pornô."                      

Juliette piscou. "Okay. Por favor me diga que você não participou disso..."
                   
Carla bufou. "É claro que não, Juliette. Eu sou uma atriz séria. Eu fui pra Escola de Atores Wolf Maya. Eu tenho talento saindo até da minha bunda. E se a ridícula da minha mãe não tivesse traído o meu pai, e o imbecil do meu pai não tivesse colocado fogo na casa e minha vida não tivesse caído aos pedaços... bem... eu estaria em um lugar muito melhor em termos de carreira agora. Mas não. Eu estou indo em audições para um filme pornô no lugar."
                   
Juliette colocou a mão no ombro de Carla suavemente.
                  
Carla respirou fundo e sorriu. "A boa notícia é que eu consegui o número do cara lindo."
                  
Juliette tirou as mãos do ombro dela rapidamente. "O cara de short curto?"
                   
"Ha! Não, não... o pelado."

"Você vai namorar uma estrela pornô?"

"Claro que não." Carla gargalhou e colocou a garrafa de cerveja na mesa de centro. "Eu nunca namoraria um cara que dorme com outras mulheres para viver. Eu só vou transar com ele na próxima sexta. Daí eu posso riscar o 'dormir-com-uma-estrela-pornô' da minha lista de coisas-para-fazer-antes-de-morrer." Ela parou para considerar. "Apesar de eu não saber se esse cara é bom o suficiente."