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"Acabou o tempo." Professor Santana disse, ao som de resmungos ressentidos. "Pincéis para baixo. Deixem suas pinturas nos cavaletes. Por favor assegurem-se de terem colocado seu nome de forma legível na tela antes de saírem. Aproveitem suas férias! Vejo alguns de vocês no próximo semestre."
                   
Juliette colocou seu pincel para baixo e encarou a pintura em sua frente. Estava terminada, mais ou menos, e o arranjo de matizes azuladas na tela até parecia apresentável. Ela certificou-se de assinar o canto da maneira mais legível possível, e retirou sua bolsa debaixo do banco.
                     
"Juliette freire, por favor venha me ver antes de sair"
                   
Por um momento, Juliette pensou ter ouvido errado. Que o professor havia chamado um nome parecido com o seu, mas não tinha. Ainda assim, enquanto ela olhava em volta, ela percebeu os olhares que os outros estudantes direcionavam a ela e sabia que não havia erro. Professor Santana havia chamado por ela.
                     
Engolindo em seco nervosamente, Juliette fez seu caminho através das fileiras dos outros e esperou os estudantes que se despediam do professor se dispersarem.
                     
Era a primeira vez que o professor a chamava para sua mesa depois da aula, e ela esperava desesperadamente que não tivesse feito alguma merda. Ela esqueceu uma tarefa? Ela acidentalmente olhou em volta enquanto pintava, fazendo ele pensar que ela copiava o trabalho de alguém? Ela tentou não pensar sobre isso, enquanto esperava.
                   
O último aluno finalmente deixou a sala e o professor virou seus olhos frios para ela.
"Juliette" ele disse, em um tom de voz que não expressava se ele estava bravo ou não.
                   
"Sim, professor?"                     

Ele assentiu enquanto se virava para olhar para baixo, para algo em sua mesa. Juliette tentou ver o que era, para ter uma pista do que estava por vir, mas nada apareceu. "Você entregou uma peça chamada 'Silêncio', não foi?"
                    
Juliette assentiu, seu coração errando uma batida. Ela tentou lembrar dos detalhes da pintura, sem muito sucesso. "Eu entreguei."
                     
"Era..." Ele pausou para olhar pra ela. "...inspiradora."
                  
Juliette soltou um suspiro. "Oi?"
                     
"Eu não tenho o hábito de repetir elogios para artistas jovens e sem experiência para que eles possam ter seus egos inflados."
Juliette engoliu em seco novamente.
                     
Os olhos frios a observavam atentamente. Quando ele falou de novo, seu tom era firme. "Eu gostaria de exibir sua pintura na Exposição de Arte Estudantil semana que vem na Galeria de Arte de Ipanema. Você deverá escolher outras três peças, aprovadas por mim, é claro. Suas peças poderão ser colocadas à venda se você desejar. Um expert da galeria irá trabalhar com você para determinar o custo apropriado de cada peça. Eu não vou nem me incomodar em perguntar se você está ou não interessada, já que você seria burra se recusasse. Então, por favor esteja aqui novamente na segunda de manhã, às oito em ponto, com as peças de sua escolha. Traga muitas opções, pois sou muito exigente e tenho pouco tempo. Tenha um bom dia, Juliette."                   

A ficha dela não tinha caído ainda. Não totalmente. Mas ela reconheceu que era algo bom e respondeu de acordo. "Obrigada senhor! Estarei aqui na segunda-feira às oito, com certeza."                     

Ela já havia a dispensado e seu desinteresse na fala dela era evidente. Na verdade, ele virou sua atenção para o trabalho dos estudantes deixados na sala. Ela o observava com interesse, sabendo que ela deveria sair, mas querendo ver o que ele pensaria sobre seu último trabalho quando passasse por ele. Para o desapontamento dela, ele mal olhou para sua tela.
                   
Ela saiu, então, e caminhou para fora da sala. No corredor ela parou para absorver o que o professor havia dito a ela. Inspiradora, ele falou. Inspiradora.                                  

The blind side of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora