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A chuva caía como se fossem lágrimas contra a janela, distorcendo a imagem da cidade abaixo. Ela olhou a paisagem através dos traços de água: o Rio de Janeiro se estendia diante dela como uma imagem perfeita de cartão-postal.
Ela se apoiou contra a parede e continuou a olhar pela janela. As luzes exteriores lançavam sombras no chão do seu quarto de hotel por causa da chuva. Era estranho como o silêncio parecia tão bonito quando está em contraste com a realidade tumultuada da sua existência.Ela havia ficado parada olhando o nada por tempo demais. Sabia disso. Já devia ter se trocado. Já deveria estar se preparando para o evento de caridade que esperava por ela, mas não existia motivação para tal, e a tranquilidade do momento era muito tentadora.
Em vez disso, ela permaneceu ao lado da janela, olhando para o mundo, muitos e muitos andares abaixo, nos carros e nos sinais em neon, para as pessoas escondidas sob os guarda-chuvas que se protegiam da chuva de verão que caia, e sentiu-se, como sempre, desconectada; sentiu-se, como sempre, isolada. As perguntas de sempre a atormentando mais uma vez. As dúvidas que pairavam no ar todas as vezes que ela era entrevistada. Quando tempo ela poderia aguentar tudo isso? Quanto tempo até ela sucumbir sob pressão?
Ela suspirou, sua respiração manchando o vidro por um breve instante antes de desaparecer. Quanto tempo?
E então veio a inevitável batida na porta, seguido pelo inevitável som da porta se abrindo atrás dela. A luz a cegou por um instante, ela piscou várias vezes até que sua visão do mundo se tornou a visão do quarto. Ela se olhou no reflexo da janela por um minuto só para ver o desapontamento nos seus olhos antes de se virar para encarar o seu visitante.
Arthur Picoli estava parado na porta, seu corpo alto e malhado bloqueando a visão do corredor atrás dele. Ele parecia um modelo, vestido em um terno branco que ela havia escolhido para ele antes que viessem de São Paulo. Ela sorriu diante do desconforto dele. "Sarah, no caso de você ainda não ter percebido, esse quarto está equipado com eletricidade." Ele desligou e acendeu a luz de novo para dar ênfase.Sarah Andrade escorou suas costas na janela. "Ha ha." Ela sorriu para o seu melhor amigo antes de adicionar, "Você está bonito."
"Suponho que eu esteja mais do que bonito." Ele respondeu, alisando os lados do cabelo com a mão, mas com seus olhos castanhos traindo a satisfação do elogio. "Você tá me devendo por isso, apesar de tudo."Sarah sorriu, o tipo de sorriso que ela guardava para ele, e somente para ele. Se eu pudesse ao menos me apaixonar por você... o pensamento a fez sorrir brevemente. Ela passou por ele e foi até a cama onde havia um vestido a esperando. Encarou o vestido por um minuto pensando se realmente valia a pena o colocar. "Você acha que eles realmente sentiriam a minha falta se eu não fosse?"
"Hum, por favor, não me diga que você mudou de ideia. Eu sofri uma transformação dramática por sua causa." Ele apontou para o seu terno. "Eu estava muito feliz com meu boné neon antes de você jogar o convite que pedia traje esporte fino na minha cara."
"Você pode, facilmente, tirar isso." Sarah respondeu pacientemente.
"Você tá falando sério?" Arthur olhou para ela ceticamente. "Ou essa é uma daquelas coisas loucas de mulher que eu não entendo? Tipo, você vai me dizer que você não quer ir, aí eu vou me trocar, e dois segundos depois você vai bater na minha porta vestindo o seu vestido cravejado de diamantes gritando que nós vamos chegar atrasados e que a culpa é minha."
Sarah arqueou as sobrancelhas.
"Eu sei como as mulheres funcionam. Primeiro vocês confundem a gente, depois abusam da gente, e depois nos seduzem."
"Isso é bem profundo Picoli, mas eu não tenho nenhum desejo de seduzir você."
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The blind side of love
Hayran KurguSarah é uma atriz famosa e Juliette é uma estudante de artes que vende pinturas na rua. Um dia, Sarah se encanta por uma pintura de Juliette e pede para que um amigo a compre. Ela decide mandar um e-mail anônimo para Juliette elogiando seu trabalho...