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"Ei," ele cumprimentou Juliette, que levantou o olhar de seu desenho para encontrar Lucas olhando para ela. "Eu tentei te ligar."               

Juliette olhou para baixo, incapaz de encará-lo. "Eu sei."

Ele acendeu um cigarro e se sentou ao lado dela no banco. Por um bom tempo ele ficou apenas olhando os estudantes passando e Juliette não sabia como iniciar uma conversa com ele.

"Como foi a aula?" Ele perguntou finalmente.
                   
Juliette respirou fundo. "Olha Lucas, sobre ontem à noite—'               

"Eu te perdoo." Ele disse.               

"Me perdoa?" Juliette perguntou, chocada. "Eu não estou pedindo desculpas."
                    
"Você perdeu totalmente a noção das coisas ontem, Juliette. Eu acho que um 'Me desculpe' não vai te fazer mal." Ele disse batendo na ponta do cigarro para jogar fora as cinzas. "Primeiro você me envergonha na frente da sua família –'              

"Calma aí, como que eu te envergonhei?"
                  
"Você não me falou que aquele assunto sobre o Miguel era um tabu. Nós somos um casal. Nós deveríamos conversar sobre coisas do tipo, 'Ei, meu meio-irmão é homossexual agora. Não fale sobre esse assunto na mesa do jantar.'" Ele bateu na ponta do cigarro de novo e Juliette assistiu as cinzas voando pelo ar até atingir o chão. "Eu acho que no final das contas, ele não teria se interessado nas peças novas do meu carro."
                    
Juliette encarou o perfil de Lucas, indecisa entre gritar com ele ou dar com o caderno na cara dele. Como era possível amar e odiar alguém ao mesmo tempo? "Eu estava falando sério quando eu disse que nós tínhamos terminado," Ela falou por fim. "Eu não quero continuar com você mais."                

Lucas olhou para ela. "Não seja ridícula."
                     
"Oi?!"
                
"Você deve se achar muito fina e poderosa com toda essa história de arte, mas o que você vai fazer com sua vida, Juliette? Se você terminar comigo, quem vai pagar pelas coisas que você não pode pagar por conta própria? 'Ei Lucas, eu estou precisando de uns materiais novos.' Ou 'Ei Lucas, cortaram a TV à cabo de novo.'"
                 
"Eu nunca te pedi dinheiro." Juliette disse, tentando manter sua voz estável.
                
"Eu sei, mas você nunca recusou quando eu ofereci. E eu sempre ofereço." Ele jogou o cigarro no chão e se virou para ela. "Eu estive aqui por você e sua família durante todo esse tempo. Quando Vinícius foi preso por aquela merda que ele fez, quem pagou a fiança, hein? Eu. Quando o carro dos seus pais pifou, quem comprou a bateria nova? Eu."
                 
"Eles sempre te pagam de volta," Juliette disse. "E por que tudo pra você é por causa de dinheiro? Você acha que eu fiquei com você esse tempo todo por causa do seu dinheiro?"                  

"Eu sei que meu dinheiro contribuiu para você gostar de mim."              
"Você está enganado."
                    
"Então por que ficou comigo?"
                     
"Porque eu te amava." Juliette disse, suavemente.
                
Lucas afastou o olhar. "E não ama mais. É isso?"
                  
"Eu não estou mais apaixonada por você."
                 
Lucas assentiu devagar. "Então eu acho que não tenho mais nada para dizer." Ele disse, se levantando.

"Calma," Juliette disse enquanto procurava por seu telefone na bolsa. "Você provavelmente quer isso de volta."
                 
Lucas pegou o telefone e ficou encarando por um tempo, depois simplesmente levantou os braços e jogou o celular contra a parede que estava perto dele. O aparelho se quebrou em milhões de pedaços e caiu no chão.

The blind side of loveOnde histórias criam vida. Descubra agora