Formas de Lut(o)ar

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A menina misteriosa
Disse que a mãe tinha morrido
E narrava os fatos com uma resiliência digna de empatia instantânea
Seu jeito de ser, livre e visivelmente tão imbatível despertou-me a paixão que em mim fez morada.

Acreditei em cada palavra
Mesmo que seu olhar fosse duvidoso, com um alerta "não confie em mim" escrito em sua íris
A dor era nítida, transmitia-me o mais profundo luto
Seu sorriso se mantinha meigo enquanto seus olhos só emitiam devastação
A cena de que ela iria devastar à todos nós por puro prazer e diversão era nítida
Talvez a dor tenha construído um paradigma imaginário de que ela era apenas bonita e miserável
Brincando com corações humanos
Tentando entender pra que eles serviam.

Ainda assim, sua presença era cativante
Um querer confiar mesmo que placas vermelhas imensas sinalizassem para que não o fizesse
Tudo ali era bem maior que sentidos racionais
A racionalidade não nascia na terra que ela cultivava.

Até que sua mãe aparece
Desesperada, descabelada, declarando aos deuses
Sacudia a garota, perguntando o porquê fazia aquilo
"Te procurei por toda parte!"
Não me lembro de tudo o que ela disse
Mas lembro dela ter falado que "ela sempre fazia isso".

Não entendi
Quem falaria à todos que perdeu a mãe e que sua falta era o buraco mais escuro cujo ela já avistou e por lá ficou?
Qual seria seus motivos?
Suas pretensões?

Era perceptível que a mãe já estava acostumada com a sina da filha
Disse que a esperaria em algum lugar por estar perdida demais, tentando desembaralhar o nó daquele enigmático novelo.

"Eu perdi um amor que não poderia revelar até que o solo se abra e me leve junto de suas raízes
Raízes estas tão traiçoeiras..."
Disse ela
"Eu era apaixonada por ele
Lutos e suas dores não se diferem."

2022,
Hanna

𝓹𝓸𝓷𝓽𝓸 𝓼𝓮𝓶 𝓷𝓸́.Onde histórias criam vida. Descubra agora