O Texugo e a Libélula

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O Texugo vivia triste, tristonho. Pra quem não sabe o que é um texugo, deixe-me lhes contar: é uma mistura de rato, com castor, com gambá... Pobre Texugo, nem ele sabia o que era de verdade. Observava os outros da mesma espécie e pensava "Será mesmo que nasci assim?". Tinham fama de desinibidos, não ligavam pra muita coisa, nem pro próprio risco de morte quando algum outro animal bem maior os confrontava! Mas esse Texugo em específico, era tão medroso, pobrezinho.
  Um dia, caminhando pela mata sozinho, viu uma cena estranha. Estranha, mas bonita. Havemos de encontrar graciosidade na estranheza se olharmos mais de perto. O Texugo via um coração, mas não um coração normal desses que desenhamos. Duas libélulas formavam esse coração. Pacientemente, Texugo esperou que o coração se desfizesse e, todo torto, foi perguntar a libélula o que tinha acabado de testemunhar. A Libélula tinha uma voz tão serena e articulava as palavras tão calmamente que o Texugo podia sentir os dentes-de-leão soprarem ao vento. Ela lhe contou que estava acasalando. "Acasalando?!" Perguntou surpreso o Texugo. "Mas era tão bonito! Vejo tudo ao redor tão bonito. E os outros me julgam por isso." "Bonito? Que curioso!" A Libélula exclamou. "Vivo muitos anos, mas como uma larva. Espero pacientemente que a presa venha até mim para que eu possa me alimentar, pois não me movo. Depois de virar adulta e poder voar como pipa solta ao céu, vivo tão pouquinho, que tenho pressa de acasalar para perpetuar minha espécie. Tudo tão rápido. Sem emoção. Mal sinto a vida passar. O coração que você viu... Oh, Texugo. A natureza é irônica, não percebe? O coração se desfaz na mesma velocidade que minha vida livre se vai." Texugo ficou confuso. Tão confuso. "Ouvia falar de você pela mata como um símbolo de renovação. Tinha esperanças de que pudesse me ajudar..." Exclamou ele, cabisbaixo. A Libélula ficou curiosa. "Ajudar? Com o quê? Você têm presas à sua disposição. Vive anos e anos podendo explorar a fauna e flora tão vastas cujo fomos presenteados. Por que pensou que eu poderia te ajudar com algo, meu caro Texugo?" A Libélula voa mais para perto de Texugo, acomodando-se com seus três pares de patas em uma folha verdinha, recém molhada pela chuva. "Sou apenas bonita. E mesmo enxergando tudo ao meu redor, mal tenho tempo de captar os detalhes. Já você, consegue enxergar a beleza à sua volta todo o tempo, sim? Do que está à reclamar, afinal?" "Ser um Texugo não é apenas ser ruim então, é verdade?" Pergunta ele mais uma vez. "Siga com sua beleza interior que saberá a resposta." Responde a Libélula, batendo suas asas e sumindo no horizonte.
  Texugo dá meia volta e caminha até seu bando. Vendo-se pela primeira vez, não teve mais só a imagem do bando. Teve a imagem de si.
  Rápido ou lento, interior ou exterior.
É simplesmente amor.

2023,
HannaMello.

𝗔𝘂𝗿𝗼𝗿𝗮Onde histórias criam vida. Descubra agora