Primeiro Amor

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Manchas vazias de poeira sobre o piano. As quais não se sabe se o tempo, a madeira ou o pó trouxeram consigo as cartas, os artigos, os poemas. Nasceram dele. Nasceram de ti.
À espera, longamente, de sua volta de uma ida sem som.

As folhas em branco que se estendem de uma longa mesa aos bancos. Poderia eu ter sido mais veloz que essa insistente penumbra?

Pregos vazios pelas paredes. Os vestidos de renda neles pendurados já não fazem sentido sem o ar de suas gravatas. Quando o lápis se veio à dançar e meu coração se lembrar de palpitar... ah, doce nó; precisarei de vossas confissões.

Ignorado os ecos de poeira lidei com o vazio de limpá-los. O que colocaria no lugar? Construções marítimas? Pontes para navegar! Tudo que me desperte, me impulsione. Até você chegar.

Memórias frescas como palmeiras. Palmeiras têm mesmo um perfume peculiar? O que faria eu com seus desleixos, laços, rupturas, traços, a não ser, expor numa prateleira inalcançável e me permitir colecionar?

Escuto batidas de sapato em meio à um ruído asteca correr os solos da escada. Conheço essa madeira. Seria ela a culpada de tanto puxar meus eus para perto dos seus? "Fez-me sentir mal". Ouça bem, mal seria a postura doutrinada que me ensinou antes de me inverter? Ou apenas nasci assim? De cabeça para baixo, como piões marrons em suas doces voltas.

O que poderá apagar a marca sublime de uma caneta à tinta sobre o ar? Anulo-me em tentativa de trégua. Dentro de mim, você nunca deixará de estar. Dentro de você? Sei que já tenho um lugar.

Não queime as matas. Não queime os galhos. Não abstenha as madeiras. Me dê seus isqueiros, me dê suas sinas, me dê seus medos. As velas gentis em seus cálices, o que lhe despertam?
Ainda sinto seu ar fresco passar pelas correntezas que seu nome soletra.

Observe a luz natural, deite-se sob ela. No escuro, rigorosamente noturno, olhe para mim. Eu estou aqui. Como chuva, nos desertos sem guarda-chuva. Veja, sou sua árvore, se esconda em mim.

Manchas vazias de poeira sobre o piano. [...]

2019,
HannaMello.

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