Ping!

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Um gole de vinho. E me provoca um incêndio na boca.
Ping!
Sentou-se no primeiro degrau da varanda dos fundos. Começou a catar pedrinhas.
Ping!
Uma pilha de jornais, óculos escuros. Meus olhares coringas se desviando da sombra.
Ping!
Maiô poá, preto com branco. Deitada de bruços, observando-me ler minhas leituras.
Ping!
Leituras que jamais foram lidas.
Ping!
Ganância no toque, luxúria no olhar, pureza no ter. Blues tocando no rádio empoeirado do quintal.
Ping!
Folha de quadrinhos e resumo de filmes arrancados de meu jornal.
Ping!
Brilho pálido acima de minhas têmporas.
Ping!
Dinâmica que inflama a corda do receio, com fogo.
Ping!
Como pode me fazer queimar?
Ping!
Não vai acertar essas pedrinhas... Pedrinhas, céus! Em uma garrafa de vidro...
Ping!
Seu olhar é forte. Sua personalidade me consome.
Ping!
Vermelhidão dos espinhos, que faz brotar árvores artificiais no jardim.
Ping!
O pé imperceptivelmente acanhado para o lado esquerdo.
Ping!
Mira dura na ala clássica, sopra as folhas soltas no cabelo escuro.
Ping!
Tira peça por peça do varal estendendo o tornozelo, na luz azul-piscina que reflete do lago.
Ping!
Infinitamente envolta na velocidade dos toques estridentes e calma nas palavras.
Ping!
Por que é que sua maneira?
Ping!
Acertou a garrafa...
Ping! Ping! Ping!
Excita-me de maneira tão atroz?

2017,
HannaMello.

𝗔𝘂𝗿𝗼𝗿𝗮Onde histórias criam vida. Descubra agora