"Ele me olhava como se quisesse me devorar por completa, mas eu não poderia cair em seus joguinhos novamente, mesmo ele sendo um bom estrategista."
Após as mortes misteriosas de seus pais e a partida de seu irmão mais novo, Isabela Miller consegue...
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Isabela Miller
Era uma noite densa, o tipo de silêncio que carrega o cansaço no ar, e tudo o que eu queria era chegar em casa e me entregar a um banho demorado, permitindo que a água lavasse não só meu corpo, mas o peso que o dia havia depositado em meus ombros.
Julia e Nancy, provavelmente já adormecidas, repousavam na segurança de seus quartos. O silêncio de suas respirações deveria estar preenchendo a casa.
Dirigir por Las Vegas à noite sempre me trouxe uma sensação de liberdade quase palpável, como se as luzes da cidade fossem estrelas que guiassem minha alma cansada. Mas, antes de me render ao calor do lar, decidi fazer uma parada rápida no mercado. Petiscos para mim, Nancy e Júlia seriam uma boa surpresa para amanhã, algo simples, mas que traria alegria aos pequenos momentos.
Ao entrar no mercado, o som suave dos ventiladores de teto e o farfalhar distante das prateleiras sendo reorganizadas criavam um ambiente quase melancólico. A atendente parecia exausta, seu olhar vago refletindo o peso de um dia longo demais. Eu me aproximei, segurando o pequeno cesto com algumas guloseimas.
— Boa noite! — ofereci um sorriso suave, tentando iluminar seu rosto.
Ela me lançou um olhar cansado, sua voz saindo quase que por obrigação. — São 7 dólares.
Peguei a primeira nota que encontrei e a entreguei, sem muito pensar.
— Fique com o troco — disse, enquanto ela observava a nota de 50 dólares com uma surpresa discreta. Seu rosto suavizou por um instante, e um sorriso tímido escapou. Não era muito, mas eu esperava que, de alguma forma, tivesse melhorado seu dia.
Lá fora, as primeiras gotas de chuva começavam a pintar o asfalto. Acelerei meus passos para o carro, desejando evitar o frio que se aproximava com a tempestade. Assim que as sacolas estavam seguras no porta-malas, e eu já a salvo no banco do motorista, o som suave da chuva preenchia o ar. Em questão de minutos, estava de volta ao abrigo de casa.
Ao estacionar na frente da minha residência, notei como as luzes suaves da vizinhança contrastavam com o barulho crescente da chuva. Peguei as sacolas e, enquanto caminhava até a porta, senti uma leve onda de frustração ao perceber que a chave estava, mais uma vez, perdida dentro da minha bolsa desorganizada. Coloquei as sacolas no chão e comecei a revistar os bolsos.
— Onde eu deixei essa chave? — resmunguei para mim mesma, mais irritada do que deveria. — Será que ficou no carro?
Quando finalmente a encontrei, o alívio foi instantâneo, mas ele durou pouco.
A chave deslizou na fechadura, e o clique suave da tranca se tornou insignificante ao perceber que a porta já estava entreaberta.
O coração deu um salto. Me abaixei e peguei as sacolas rapidamente. “Será que Nancy esqueceu de trancar a porta?”, pensei, tentando acalmar o pânico crescente.
