Peter Pan

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Onde S/n para de acreditar na sua paixão de infância.
Filme: The lost girls.

Assistir o filme de animação do Peter Pan era literalmente meu maior vício quando criança. Sério, eu tinha uma queda enorme por ele. O primeiro crush a gente nunca esquece, nem a primeira rival... Eu morria de ciúmes dele com a Wendy, afinal a menina estava tomando de mim algo que na minha cabeça era meu.

Pra piorar o nome da minha irmã mais velha coincidentemente é Wendy, então desde pequena ela se gabava dizendo que o Peter Pan gostava "dela" e não de mim. Nosso nível de babaquice era tão grande que brigávamos real, mamãe até nos colocava de castigo.

Mas calma, tem como piorar ainda mais. Eu acreditava realmente que existisse um Peter Pan de verdade, por conta disso todas as noites eu ia até minha janela e ficava conversando sozinha ao admirar a estrela da "Terra do Nunca", jurando estar sendo ouvida.

O negócio se tornou problemático, chegou ao ponto de eu agir como se ele sempre estivesse assistindo tudo que eu fazia, tanto que até hoje tenho a sensação de ser observada constantemente. Isso virou minha maior paranoia, até já cheguei a ver vultos... Ou seja, tenho dúvidas da minha própria sanidade mental.

Lembrar dessa infância constrangedora me fez perder o sono. Sei que ninguém me via conversando com o "Peter Pan" de madrugada, porém isso fica me remoendo, como se eu sentisse necessidade de provar a minha mesma que não acredito mais nessa fantasia.

— Peter Pan.— Falei me colocando na frente da janela.— Estou ridícula fazendo isso, meu Deus.— Murmurei tendo vergonha de mim mesma.— Eu só vim deixar claro pra você, quer dizer... Pra mim, que eu não acredito mais em você.— Expliquei me embolando.— Acho que isso já estava meio óbvio pelo fato de que a última vez que agi feito uma esquizofrênica nessa janela foi quando eu tinha dez anos, mas só quis esclarecer.— Concluí me distanciando da janela em seguida. Deitei na cama novamente e fechei os olhos, tentando não pensar em todas as humilhações que já fiz durante toda minha vida, apesar de ser quase inevitável.

Fiquei naquela posição cerca de dois minutos, entretanto alguma coisa estava me incomodando. Eu sentia uma presença a mais... Abri os olhos e tomei um susto enorme. Havia um garoto aparentemente em cima da minha cama me encarando.

— Puta merda!— Exclamei levantando da cama assustada.— O que você tá fazendo aqui? Ou melhor, quem é você?!— Perguntei em estado histeria. Nesse instante finalmente o fitei melhor, ele vestia roupas verdes e havia uma pequena abertura na parte frontal da camisa. O mesmo possui cabelos castanhos, assim como os olhos, porém tem mais contraste por conta de sua pele clara. Assumo, esse menino é extremamente lindo. Não consigo explicar o que tem de tão diferente nele, mas algo me faz achá-lo o ser humano mais bonito da face da Terra. Talvez eu esteja exagerando, contudo me parece verdade. Ele está rindo sacana enquanto eu o analiso.

— Você demorou, viu?— Disse se esparramando na minha cama de um jeito folgado.— Estava só esperando você vir falar comigo de novo.— Revelou espreguiçando os ombros.

— Como assim falar com...— Interrompi minha pergunta começando a raciocinar.— Calma aí...— Murmurei digerindo a possibilidade maluca.— Você não pode ser o... Peter?— Falei franzindo o cenho.

— Na verdade meu nome é Louis.— Afirmou sentando mais reto na cama.— Mas você me chama assim por causa da Melanie.— Contou revirando os olhos ao citar a tal mulher.

— Melanie?— Repeti extremamente confusa.

— Foi a garota que levei pra Terra do Nunca há uns dez anos atrás.— Explicou como se fosse algo super normal.— Ela escreveu um livro e virou até filme.— Constatou zombando o feito.— Mas é claro que ela fez algumas alterações, como trocar nossos nomes e incluir um romance inventado pela mente iludida dela.— Debochou pegando o porta retrato de eu pequena da minha escrivaninha.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦 Onde histórias criam vida. Descubra agora