Happy new year

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Ano novo, uma data conhecida por ser a renovação de um ciclo, a criação de esperanças para um futuro melhor. Bem que Anne Shirley Cuthbert dizia, "Minha vida é um perfeito cemitério de esperanças enterradas." Todo ano uma nova clemência, uma expectativa de alcançar a felicidade, que no fim acaba nunca chegando.

Quando a gente cresce fica nítido que o "Felizes para sempre" não existe. A vida é feita de altos e baixos, não existe uma felicidade constante. Encontramos ela em momentos passageiros que ficam marcados em nossas memórias, porém é desgastante viver na base da tristeza e ter esses momentos tão raramente.

Apesar de tudo, sou grata pelas conquistas que 2022 me proporcionou. Foram relativamente poucas, contudo essas poucas tiveram grande impacto em minha vida. Aquele ano novo seria um dos mais importantes para mim, literalmente o início de uma nova etapa, minha versão adulta estando por vir. Crescer é assustador. Um dia você está brincando com as outras crianças no recreio, no outro você está saindo da escola e indo pra faculdade.

Me produzi inteira, fui no salão, fiz as unhas, cabelo e maquiagem. Aparentemente eu estava bem, mas por dentro eu só conseguia sentir um vazio. Cheguei na festa tímida como sempre. Encontrar minha família inteira me gera uma certa fobia social, ainda assim cumprimentei por educação todos que vi.

Para ser sincera eu prefiro me isolar em momentos como esse. Costumo ficar na salinha escondida da casa dos meus tios. Sim... Eu estou aqui agora, sentada no pequeno sofá ao lado do gato deles. Quando meus pais se reuniram com os demais aproveitei a distração e vim para cá. Eu não só queria fugir das conversas, como também da música alta.

— Você podia ser menos espaçoso, né?— Falei para George, que estava esparramado ocupando maior parte do sofá, mesmo sabendo que ele não entende o que eu digo. Se bem que o olhar intimidador que recebi me fez duvidar.— Eu sei que esse é seu pedaço, mas adivinha... Eu também quero ficar sozinha.— Justifiquei em tom de desabafo. Não acredito que estou falando com um gato.

"Miau." George miou em seguida. Não é que tive resposta.

— Vou levar isso como um acolhimento.— Afirmei fingindo não receber o mesmo olhar de antes.— Gatinho bonzinho.— O alisei me aproximando para tomar mais espaço, aos poucos ele foi cedendo e fechando os olhos com o cafuné. Pronto, acho que domei a fera.

— Vacilou, Rogers.— Escutei uma voz masculina grave que não consegui reconhecer. Esqueci de citar um detalhe desagradável, a salinha fica no canto da sala de estar. Ou seja... Teoricamente perto do terraço de entrada da casa. Eu só não esperava que fosse chegar mais alguém.

— Não, cara.— Outra voz negou, essa sim eu conhecia.— Tava nítido que... Opa. Oi, S/a.— Meu primo interrompeu sua fala após notar minha presença. Ele estava acompanhado de um garoto alto de cabelos castanhos. Eu não faço ideia de quem seja.

— Oi, Tom.— Cumprimentei notando que ele viria me abraçar. Nem lembrava que ainda não tinha o visto, apesar dele ser filho dos donos da casa, vulgo meus tios.

— Tudo bem?— Perguntou fazendo que eu levantasse do sofá para abraçá-lo. Assenti vendo que o garoto havia o seguido e agora me encarava.— Ah... Esse é meu amigo Louis, ele também mora aqui no condomínio.— Apresentou o incluindo na conversa. Tá explicado, faz mais sentido do que passar o ano novo longe da família. A casa dele deve ser vizinha.

— Oi.— O tal Louis disse se aproximando para me abraçar também. Retribuí um pouco mais desconfortável por não termos proximidade, ou talvez por ele ser um baita gost... Tá, parei.— Você é a prima carnal, né? A do lance dos irmãos com irmãs.— Supôs certamente já sabendo da história. Falando assim parece que é um incesto. Minha mãe é irmã da mãe de Tom, assim como meu pai é irmão do pai dele, o que nos torna primos de ambas partes.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦 Onde histórias criam vida. Descubra agora