Peter Pan (part 5)

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Não tinha como ser real, ele não podia estar na minha frente. Primeiro aquele sonho maluco e depois isso? Não, não pode ser. Pior que quando ele apareceu para mim pela primeira vez eu havia sonhado antes. Então David estava falando a verdade, ele realmente está vivo. Ele realmente passou um ano sem me procurar.

Pensar nisso me deixou atordoada a aula inteira. Fazia cerca de meia hora que a professora tinha retomado sua explicação após ser interrompida. Eu não aguentava mais ficar ali, era capaz de eu ter um treco na frente da turma toda.

— Posso ir ao banheiro?— Questionei ganhando a atenção de todos, exceto a de Louis. Eu já tinha a atenção dele muito antes disso, desde o momento que ele entrou naquela maldita sala.

— Pode sim...— A professora permitiu pausando sua fala.— Qual o seu nome mesmo?— Perguntou sem conseguir lembrar para concluir a frase. Que eu sou irrelevante aqui eu já sei, mas precisava deixar tão na cara?

— S/n.— Informei envergonhada, evitando ao máximo olhar o assento à minha esquerda, que era onde Louis se encontrava sentado.

— Pode ir, S/n.— Permitiu novamente enfatizando meu nome. Mal esperei um segundo para me levantar, minha necessidade de sair falou mais alto. Só bastou eu atravessar a porta para meu corpo ir desfalecendo. Não tive outra escolha a não ser me escorar na parede.

— Tudo bem, mocinha?— Uma senhora que vinha passando no corredor entranhou meu estado. Criei forças ficando totalmente em pé e a olhei tentando fingir naturalidade.

— Sim.— Confirmei encurtando o diálogo para chegar o mais rápido possível no único lugar que eu poderia desabar sem ninguém ver, o banheiro. Por sorte ficava perto da sala, então minha chegada foi facilitada. Entrei no ambiente vazio (por sorte) e me tranquei na última cabine.

Ali eu desabei, chorei derramando todas as lágrimas das quais achava que nem restavam mais. Óbvio que eu queria Louis vivo, foi meu maior desejo durante todo esse tempo, mas precisava ser desse jeito? Ele não podia simplesmente ter vindo atrás de mim? Mesmo sumindo depois, só para não me deixar afundada num luto que não existia. Sua escolha se baseava em sair como o herói e recomeçar a vida desvinculado de todo seu passado sombrio. Pelo visto quando a ilha o libertou não existia mais nada que lhe prendesse a mim.

O choro era tão intenso que eu não conseguia conter soluços e fungados. Minha pretensão era passar horas dentro daquela cabine, porém escutei um barulho vindo da porta de entrada do banheiro, como se alguém estivesse a trancando. Tomei um susto tão grande que enxuguei meu rosto e saí da cabine planejando encontrar outro lugar que eu pudesse ter privacidade, mas o que encontrei de cara foi o motivo do meu estado de angústia.

— O que está fazendo aqui?— Perguntei de modo firme para disfarçar que eu estava chorando, contudo não adiantou muito, minha face dizia por si só.

— Ninguém vai conseguir entrar.— Garantiu erguendo a chave do espaço, se referindo apenas ao fato dele estar dentro do banheiro feminino.

— Não, o que você está fazendo aqui...— Enfatizei tentando esclarecer que a dúvida era sobre ele estar na minha escola, sobre ele estar vivo.

— Eu precisava te ver.— Assumiu me encarando profundamente.— Te ter.— Adicionou se aproximando até nossos rostos ficarem à centímetros de distância. Fui hipnotizada por alguns segundos, entretanto caí na real me afastando no instante posterior.

— Então por que não me procurou?— Questionei temendo a resposta ao sentir minha respiração pesar. Não posso chorar na frente dele, eu me recuso.

— Eu estou aqui agora, não estou?— Desviou da explicação colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, a mesma que eu fiz questão de desarrumar em seguida.

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦 Onde histórias criam vida. Descubra agora