Amortentia

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Filme: Harry Potter.

Estudar em Hogwarts pode parecer uma dádiva para alguns, mas imagine se você fosse de uma família tradicional da Grifinória e caísse na Sonserina. Pois é, esse foi meu caso. Não me identifico com ninguém da minha casa, tanto dentro quanto fora da escola.

Os sonserinos no geral são metidos e se acham melhores em tudo, o que me faz ter um ranço da maioria dos meus colegas. Realmente não sei porque caí nessa casa. Qual é, só por eu ficar de cara fechada e odiar todos a minha volta?

Não que eu quisesse ser da Grifinória, feito minha família que tem o espírito heróico de salvar o mundo, incluindo quem não merece. Eu prefiro pensar em mim mesma, não preciso que me ajudem, muito menos vou ficar me desgastando pelos outros. Cada um tem que vencer na vida por mérito próprio.

Meu total descaso com a aula de agora deixa claro que eu não queria estar aqui, especialmente depois do sonserino que mais insuportável chegar perto de mim.

— Ei, Cleveland.— Partridge me chamou em tom provocativo. Ele sabe que eu odeio que me chamem pelo último nome, já basta suportar os professores.

— Oi, James.— Respondi vingativa. Eu sei que ele odeia ser chamado pelo segundo nome composto.

— Tá a fim de matar aula?— Sugeriu tramando algo. Aposto que seu plano é me levar no corredor proibido do terceiro andar e torcer para que lá realmente exista uma criatura perigosa como dizem.

— Não.— Neguei abrindo um pacote de Doritos para ignorá-lo.

— Isso dá câncer, sabia?— Avisou tendo apenas o intuito de me irritar.

— Fumar também.— Retruquei o deixando sem argumentos. Senhor Shughorn entrou na sala em seguida, o que significava que a aula de porções se iniciaria naquele instante. Eu estava torcendo que não fosse trabalho em dupla, afinal um certo babaca fez questão de sentar do meu lado.

— Bom dia.— O mais velho cumprimentou antes de colocar seus materiais na mesa.— Sigam as instruções da página 5.— Mandou adiantando o processo de preparação.

— Amortentia?— Hermione, uma sabe tudo da Grifinória, perguntou para confirmar.

— Exato, Senhorita Granger.— Assentiu terminando de arrumar seu espaço, assim voltando sua atenção para a classe.

— Alguém sabe me dizer o que é Amortentia?— Lançou a pergunta esperando um voluntário. Hermione prontamente levantou a mão, então não dei importância e continuei comendo.

— Senhorita Cleveland?— O professor me pegou de surpresa, fazendo eu guardar o pacote de Doritos.

— Ah... Eu não sei.— Assumi constrangida diante do contexto. Pude ver Louis segurando o riso.

— Saberia se abrisse o livro ao invés de ficar comendo nas aulas.— Disse em forma de repreensão, logo permitindo que Hermione respondesse como queria desde o início.

— É a porção do amor mais poderosa do mundo.— Iniciou objetiva.— Tem um cheiro diferente para cada pessoa, dependendo do que a atrai.— Contou sem precisar consultar o livro.

— Correto.— Assentiu confirmando a procedência da afirmação.— Obrigado por contribuir.— Agradeceu a mesma me olhando com um certo deboche.— Agora mãos à obra.— Lançou como incentivo para prepararmos nossas porções. Abri o livro humilhada o bastante.

(...)

Se passaram cerca de dez minutos e a maioria havia terminado, incluindo eu. O professor vinha aguardando, até que uma aluna quis tirar dúvida.

— Senhor Shughorn, se eu desse isso para alguém...
Hipoteticamente.— Esclareceu por precaução.— Essa pessoa de fato passaria a me amar?— Questionou interessada no assunto.

— Amortentia não cria amor real, isso não seria possível, mas gera uma paixão ou obsessão poderosa.— Explicou descartando a hipótese de amor verdadeiro.— Acabou, Senhorita Cleveland?— Se dirigiu a mim de repente. Ótimo, ele vai ficar me marcando por causa da merda de um salgadinho.

— Sim.— Assenti sem emoção.

— Poderia demonstrar um exemplo?— Indagou sugerindo que eu compartilhasse o cheiro com a turma. Não tive escolha e me aproximei do pequeno caldeirão. Segurei uma tosse após puxar o ar, parecia um vapor forte de menta, tipo aquele pod que o Partridge usa. Calma aí... Não pode ser.

Não sinto nada.— Menti temendo que Louis descobrisse que eu gosto dele. Quer dizer... Eu não gosto. Ou gosto? Infelizmente não consegui evitar de olhá-lo, portanto nossos olhares se encontraram e ficamos nos encarando por um tempo.

— Bom, pelo visto você fez a porção errada.— Acusou insatisfeito. "Bom, pelo visto você tirou o dia para me humilhar." Como eu queria poder dizer isso.— Vamos tentar com outra pessoa.— Anunciou procurando outro voluntário.— Senhor Partridge?— Escolheu o mais próximo, ou o mais indesejado por mim. Louis fez o mesmo que eu e sentiu a porção.

— Lavanda, colônia suave e...— Listou parando ao estranhar o último cheiro. Eu até me assustaria por ele estar descrevendo meu perfume, mas não é lá uma fragrância incomum.— Doritos?— Citou confuso. De imediato todos da sala olharam para mim. Talvez por ter sido o motivo da minha recente reclamação, ou simplesmente por eu comer quase todo dia.

— As vezes não se trata de uma atração pelo cheiro em si, e sim pela pessoa que o lembra.— A explicação do professor arrancou risos da sala. Louis Partridge sente atração por mim? Espero ter entendido errado.— Chega de gracinhas.— Repreendeu a agitação dos alunos e aos poucos eles foram parando de rir.— Os que não terminaram tratem de agilizar.— Mandou querendo deixar o ambiente organizado. Aquilo foi o auge da vergonha alheia. Pior, vergonha própria. Olhei para Louis e vi que ele não se importou como eu.

— Ainda tá a fim de matar aula?— Sussurrei para o mesmo, que reagiu surpreso. Eu só queria fugir dali. Louis não falou nada, apenas agarrou minha mão e me puxou para fora da sala. Ele realmente me levou no corredor proibido, mas por incrível que pareça não foi para me matar. Bem longe disso...




"Fim."

𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞𝐬- 𝘓𝘰𝘶𝘪𝘴 𝘗𝘢𝘳𝘵𝘳𝘪𝘥𝘨𝘦 Onde histórias criam vida. Descubra agora