02. tate langdon.

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                        A casa onde os Harmon moravam, embora desagradável aos olhos com sua fachada antiga e esmaecida, guardava uma beleza discreta nas suas esquinas mais inesperadas: as telas que Maxine pintava, por exemplo, eram esplêndidas

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A casa onde os Harmon moravam, embora desagradável aos olhos com sua fachada antiga e esmaecida, guardava uma beleza discreta nas suas esquinas mais inesperadas: as telas que Maxine pintava, por exemplo, eram esplêndidas. Pintar havia se tornado um hobby importante para ela, algo que a ocupava enquanto a faculdade de artes não começava a dominar completamente o seu tempo. Maxine passava horas pincelando cada canto daquela imensa e decadente casa, buscando nas suas sombras algo que pudesse eternizar na tela, até que se cansasse de observar o ambiente.

Ela havia começado pelo próprio quarto. O processo foi tão fluido que terminou a pintura mais rápido do que esperava. Agora, vagava pelos corredores em passos lentos, decidida a encontrar novos espaços que pudessem ser transformados em arte. A casa, apesar de sombria e claustrofóbica, oferecia uma vastidão de cômodos esquecidos, e Max sentia uma excitação sutil ao imaginar como poderia preenchê-los com suas criações.

Com o pequeno caderno de rascunhos em mãos, ela se viu diante do desafio de escolher um cômodo maior para a próxima obra. Assim, ocuparia mais tempo e, quem sabe, conseguiria afastar o tédio. Lembrou-se que Ben, seu pai, guardava uma caneta de tinta forte em seu escritório. Decidida a encontrá-la, Maxine se dirigiu até o local.

Ao abrir a porta do escritório, seu olhar foi direto ao chão, evitando qualquer interação desnecessária. Ben estava lá, sentado em sua poltrona preta, imerso em anotações, a caneta entre os dedos.

—— Estou com um paciente agora, Max —— disse Ben, sem sequer levantar os olhos, apontando com a caneta para o jovem sentado à sua frente.

Maxine então percebeu o rapaz. Ele vestia um suéter verde e preto, seus cabelos loiros caíam sobre os olhos, e ele a encarava de uma maneira que a fez se sentir desconfortável, como se ela fosse o ponto alto daquela sessão. Sem esperar mais respostas, ela levantou as mãos em rendição e saiu do escritório tão rapidamente quanto havia entrado, sentindo os olhos do estranho seguirem cada passo seu até ela desaparecer pela porta.

Algumas horas depois, Maxine se deu por vencida e decidiu usar as tintas antigas que havia encontrado numa gaveta esquecida. As canetas já não tinham o mesmo fascínio. Do seu quarto, observava pela janela as árvores dançarem ao ritmo do vento gelado do final de tarde. Com o pincel nas mãos, começou a desenhar a natureza lá fora, traçando com precisão os contornos das árvores, suas sombras e nuances.

De repente, uma voz masculina interrompeu o silêncio.

—— A maior parte dos pintores morrem de forma trágica —— comentou o mesmo rapaz que ela havia visto no escritório de Ben mais cedo.

Maxine se virou, surpresa por vê-lo parado à porta. Ele parecia hesitar, como se esperasse permissão para entrar.

—— Contanto que eu morra com as duas orelhas, acho que não me importo —— respondeu Maxine, sorrindo de leve.

—— Tate, Tate Langdon —— ele se apresentou, dando um passo à frente.

—— Maxine Harmon —— respondeu ela, o sorriso tímido ainda nos lábios.

Tate a olhava de um jeito curioso, com olhos tão abertos que pareciam querer capturar cada detalhe dela. Max sentiu uma leveza estranha no ar, como se algo nele fosse simultaneamente encantador e perturbador.

Ele estendeu a mão, revelando a caneta que ela procurava. Maxine deu uma risada baixa e pegou o objeto.

—— Meu pai pediu para você entregar ou...?

—— Pediu sim —— respondeu Tate, balançando a cabeça, seu sorriso agora um pouco mais relaxado.

—— Obrigada —— disse Maxine, enquanto fechava a porta com suavidade. Em seguida, jogou a caneta sobre a cama, junto com o caderno de rascunhos, e voltou ao quadro que havia deixado inacabado perto da janela.

—— Tchau, Max... —— murmurou Tate, ainda parado diante da porta, como se não quisesse ir embora. Ele suspirou antes de descer as escadas, pensando em como uma garota tão intrigante como Maxine poderia estar escondida naquela casa decrépita.

(...)

Mais tarde, já imersa na noite, Maxine dava os últimos retoques em sua pintura, os detalhes finais que davam vida à vista sombria do quintal. Cada traço parecia carregar um pouco do clima pesado da casa, mas também uma tentativa de recriar algo belo naquelas sombras.

—— Não acredito que consegue olhar para essa vista o tempo todo. É quase deprimente —— disse Violet, jogando-se na cama da irmã.

Maxine riu, girando o quadro ligeiramente.

—— Fica menos triste se você olhar assim —— brincou, inclinando o quadro para o lado, como se a mudança de ângulo alterasse a sensação.

Violet soltou uma gargalhada curta, cruzando as pernas no colchão. Observou a irmã por um momento, enquanto Maxine finalizava os detalhes minuciosos da pintura.

—— O colégio também é deprimente —— comentou Violet, com um suspiro.

—— Qual parte? —— Maxine perguntou, sem desviar os olhos da tela.

—— Todas. Uma garota tentou me fazer engolir um cigarro hoje —— Violet respondeu.

Maxine não pareceu surpresa. No seu tempo de escola, as meninas também sabiam ser cruéis, embora nenhuma tivesse tentado algo tão extremo. —— Da próxima vez, apague o cigarro no olho dela — sugeriu Max, sem um pingo de ironia.

Violet riu novamente, levantando-se da cama. Após lançar um último olhar para a pintura e para a irmã, saiu do quarto, deixando Max sozinha com seus pensamentos.

Naquela casa cheia de segredos, onde o passado parecia se misturar com o presente, Maxine estava lentamente criando um espaço para si, através das cores e traços que espalhava pelas paredes. Cada pincelada era uma forma de se reconectar com algo perdido, enquanto o vento lá fora continuava a soprar incansavelmente, como um lembrete do tempo que não para.

 ﹙✓﹚ ultraviolence, tate langon. Onde histórias criam vida. Descubra agora