dono dos meus pensamentos

285 41 35
                                    


Tenho que parar com isso, pareço um maníaco.

Esse foi o pensamento de Soobin ao se dar conta de que era a quinta vez na semana que ia até sua sacada observar o skatista bonito.  Não entendia bem, mas se sentia satisfeito ao ver o menino se divertir.

Tornara-se um hábito observar o garoto. Ele sempre aparecia durante a tarde, um pouco antes de anoitecer. Soobin, sem perceber, decorou os horários mentalmente, e todos os dias estava alí, em sua varanda, pontualmente, esperando-o aparecer. E ele sempre aparecia, entrava de mansinho, cumprimentava a todos com simpatia, mas se mantia alheio aos demais. Interagia de verdade com alguns poucos meninos, que assim como ele, estavam alí para praticar.

Ele tinha um jeitinho de criança arteira, e sorria muito bonito. Quando ria alto, podia se ouvir a distância. Diferente dos demais, nunca o vira beber ou fumar ali. Ia apenas andar de skate.

Agora, parecia estar praticando uma manobra no corrimão, mas pelo visto não estava tendo sucesso. Repetia o movimento incansáveis vezes, mas sempre caia e o skate ia longe. Pela primeira vez, parecia frustrado.

Soobin sorriu ao perceber que o garoto parecia uma criança emburrada. 

O moreno fumava encostado no parapeito, enquanto se dedicava a sua nova função de admirador secreto. Mas o cigarro não era mais o suficiente para lhe aquecer. O tempo estava esfriando. 

Resolveu entrar e passar um café, mas quando abriu o armário, notou a decadência que estava sua própria casa. Não fazia mercado a dias, e até o pó de café havia acabado. Soobin às vezes ficava tão entretido com algumas coisas, que esquecia todo o resto, mas não havia motivo para deixar as coisas faltarem daquele jeito, trabalhava em casa, e lhe sobrava tempo para aos menos fazer compras. 

Meu Deus pensou Estou virando uma garotinha de colegial

Estava com a cabeça na lua, decidiu que precisava voltar aos eixos.

Pegou uma jaqueta e saiu, tentado pela vontade de tomar café. Iria no mercadinho alí perto, de a pé mesmo, porque não era muito longe. No caminho passou de frente a pista de skate, era cercada por corrimões de ferro, e o letreiro em cima do portão dizia  "Seoul SkatePark". 

Não se demorou muito por alí, não queria parecer estranho observando os adolescentes brincarem. Chegou ao mercadinho rápido e pegou o que precisava, a dona estava no caixa, uma senhora já bem idosa e muito atenciosa.

— Ah Sr. Choi, está muito bonito hoje!

— Obrigado Sra. Kang, mas a senhora sempre diz isso — Soobin brincou, já pegando sua carteira.

— Mas se digo é porque é verdade! Terá lindos filhos viu!

O moreno agradeceu sorrindo, então pegou sua sacola e foi embora. Era melhor não dar corda para senhora Kang.  

Na volta não se preocupou em ter pressa, foi observando o movimento nas ruas. Distraído, já estava virando a esquina do Skatepark, quando sentiu algo bater com força em sua perna. O objeto era pesado, então doeu um pouco. Quando se virou, viu que era o skate roxo. 

O skate caiu com as rodas para cima, então pode ver bem os detalhes. Havia várias figurinhas e lantejoulas, o que Soobin achou uma decoração peculiar. Em uma das pontas, havia um nome pintado a tinta. 

— Ei moço, é meu! 

Beomgyu. Era esse o nome.

O menino que Soobin tanto observava vinha correndo em direção à ponta do park, onde o mesmo estava. O cabelo balançava com o vento. Soobin pegou o skate com a mão livre, e esperou o dono se aproximar. Sentiu uma pontada forte de ansiedade no peito quando viu que era o garoto, mas o vendo tão perto, se sentiu estranhamente calmo. Ansiava por isso, talvez.

O garoto chegou meio ofegante pela corrida, e pulou a grade do park. Ficou de frente para Soobin, e parou por uns instantes recuperando o fôlego. Soobin pode esquadrinhar todo seu rosto naquele instante, e constatou que os detalhes eram muito mais bonitos do que conseguia ver de longe.

— Desculpa aí — falou sem jeito, um pouco constrangido — Pela perna.

A voz dele era um tanto grave e macia, Soobin também percebeu que o menino era um pouco mais baixo que si.

— Não tem problema — Soobin olhou novamente para o nome no skate — Aliás, bonito skate, Beomgyu — responde devolvendo o skate para o dono.

Beomgyu pegou o skate e sorriu tímido, comprovando que aquele era realmente seu nome — Valeu, eu mesmo pintei.

O garoto olhou em seus olhos por poucos segundos e logo desviou o olhar, segurando mais firme o skate. Soobin achou que talvez pudesse estar secando o garoto muito descaradamente, porque ele parecia encabulado e tímido de uma forma que não havia visto até então. Antes que pudesse se desculpar, o garoto se mexeu incomodado.

— Bom, eu vou voltar então… tchau!

Soobin somente assentiu com a cabeça, Beomgyu deu meio volta e começou a correr em direção a pista.

Soobin ficou parado mais um pouco, vendo o menino se distanciar.

Estava meio desacreditado pelo encontro repentino, logo voltou a si e retomou seu caminho. Quando chegou em casa, deixou a sacola na bancada da cozinha e se jogou no sofá, esquecendo até mesmo o café que tanto queria.

Ficou pensando em como a pele do menino parecia porcelana, mesmo estando todo ralado e cheio de band-aids. O sorriso de perto era mil vezes mais bonito, e ele ficou uma graça todo tímido. 

Soobin suspirou cansado e esfregou os olhos por debaixo do óculos. Estava ficando maluco. 

Mas agora sabia o nome do dono de seus pensamentos.



Antes tarde do que nunca (Soogyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora