muito antes que você

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Soobin passou muitas horas de seus dias naquela varanda, observando o garoto, decorando seus detalhes. Mas nunca pensou que poderia estar sendo observado também.

— Perdão, o que-

— Lá da pista da pra ver. Digo, dá pra ver você. Não muito bem, mas dá.

Beomgyu sabia o tempo todo de sua existência, antes mesmo do encontro repentino no Skatepark.

— Aquele dia, que nos encontramos na calçada…

— Eu sabia que você era o cara do apartamento. Mas fica tranquilo, só eu reparei — Beomgyu falava despreocupado, o que amansava os instintos de Soobin. Ainda estava encostado no parapeito, e do sofá, o mais velho enxergava apenas seu perfil — Aliás, você devia parar de fumar.

Soobin permaneceu calado, sem saber na verdade o que dizer. Estava com vergonha por ter sido pego, não saberia explicar porque ficava vigiando adolescentes como um stalker.

Beomgyu saberia que ele olhava tanto para o Skatepark porque na verdade estava o admirando? 

— Ei cara, não precisa ficar em choque — Soobin mal havia percebido que Beomgyu se aproximara,  estava a seu lado novamente, sentado na outra ponta do sofá — É meio estranho sim, mas acho que você não tem muito o que fazer aqui né…

Soobin olhou ao redor, se dando conta do que Beomgyu estava dizendo. Havia poucas coisas e poucos móveis, tudo era meio monocromático, e não havia qualquer indício de outra vida habitando aquele apartamento. Tudo exalava solidão.

Olhou novamente para o garoto, percebendo que por mais estranho que o ambiente lhe fosse, ele já estava bem confortável. Havia tirado os tênis e se encolhido no sofá, abraçando uma almofada em seu colo. Beomgyu estava lhe encarando, e pareceu se divertir com o incômodo de Soobin perante a situação.

— Você poderia adotar um gato ou sei la… — sugeriu — Ou comprar algumas plantas, você tem cara de pai de planta.

Soobin riu baixinho do comentário.

— Obrigado, eu acho.

O silêncio caiu entre os dois novamente, mas agora havia algo de confortável. Dentro de Soobin, foi alimentando uma vontade de se aproximar.

Resolveu dar uma explicação ao garoto, mesmo que o outro não tivesse questionado nada.

— Vocês parecem se divertir alí. Você e os outros garoto, andando de skate. Eu… acho reconfortante ver você se divertindo.

Eu gosto de te ver sorrir. É o que Soobin queria ter dito.

Beomgyu sorriu pequeno.

— É divertido sim. É meu escape da realidade.

O mais novo estava na outra ponta  mas virou-se em sua direção e se aproximou um pouco mais.

— Você sabe andar de skate? — Perguntou, apoiando o braço sobre o encosto do sofá. Não estavam tão perto assim, mas daquela distância Soobin conseguia ver bem a cor dos olhos de Beomgyu. Castanhos.

— Eu? Não. Nunca nem subi em um skate.

Beomgyu sorriu um pouco mais.

— Eu poderia te ensinar, sabe. Se você quiser é claro. Mas eu prometo que sou bom professor.

Soobin achou Beomgyu extremamente fofo naquele momento.

— Não acha que já to velho pra isso? — Soobin não se imaginava aprendendo a andar de skate aos 28 anos. A imagem soava meio ridícula em sua cabeça, mas sabia que Beomgyu queria lhe animar.

— Não acho, que besteira! Idade não quer dizer nada.

Então, em um ato meio inesperado, Beomgyu inclinou e aproximou seu rosto, ficando a poucos centímetros de Soobin.

— Nunca é tarde. Né?

Soobin permaneceu na mesma posição, mas não pode deixar de apreciar o rosto do garoto assim, tão de perto. Tudo era desenhado com perfeição. A boca era tão atraente que Soobin não conseguiu desviar o olhar por alguns segundos.

— Vou pensar — respondeu por fim, voltando a olhar olha-lo nos olhos. Parecia que Beomgyu havia notado sua influência sobre o mais velho, e Soobin percebeu certa malícia nos olhos do garoto. Mas logo voltou a sua energia juvenil.

— Legal!

Beomgyu começou a falar animado sobre os fundamentos do skate, como um professor de verdade. Soobin não estava entendendo nada, mas achou adorável.

— Mas então, Choi Soobin — o garoto então mudou o assunto de repente  — O que você faz? Ou melhor, com o que você trabalha?

Soobin achou engraçado a curiosidade do garoto em si.

— Sou programador. Trabalho em uma empresa de jogos.

— Uau. Isso parece legal. Você deve ser bem inteligente.

— Estudo bastante. Mas e você, está estudando?

— Tô sim… mais ou menos — então Beomgyu riu sapeca — Eu to estudando pro vestibular, mas to meio ocupado esses tempos. Dou aulas de guitarra — completou, antes que Soobin perguntasse o porquê.

Beomgyu era o tipo de garoto que gostava arte e esportes. Era sociável e possivelmente muito popular. Completamente diferente do Soobin de 19 anos.

Mas ainda havia muitas coisas que Soobin não entendia sobre o garoto. Uma delas, estava martelando em sua cabeça desde que chegaram.

— Beomgyu, porque roubou aquelas coisas?

O garoto, que até então estava suave e relaxado, perdeu o ânimo na hora. Abaixou a cabeça envergonhado, brincando com as mãos. Soobin não queria o deixar desconfortável, mas precisava saber.

— É que eu gastei um pouquinho além esse mês, e o dinheiro só deu pro aluguel… Mas eu já vou receber no sábado, então era só um quebra galho! — Beomgyu explicou num tom mais baixo, a voz quase manhosa.

Soobin ouviu atentamente, sem esboçar reação.

— Você não tem ajuda de seus pais ou algum familiar?

— Não, eu… saí de casa.

Soobin entendeu naquele minuto que a vida de Beomgyu não era tão fácil.

— Bom, já que é assim, você vai vir comer aqui até sábado.

Não havia sido um convite, ou uma proposta. Beomgyu voltou a lhe olhar diretamente nos olhos, levantou uma das sobrancelhas.

— Não precisa, você já comprou as coisas pra mim.

— Mas não tem nada que preste naquela sacola, nenhuma comida de verdade. Venha pelo menos jantar aqui, precisa de uma refeição decente por dia.

Beomgyu se virou para frente novamente, encarando um ponto vazio. Ficou assim por alguns segundos, então calçou os tênis, se levantou e pegou a sacola que estava na bancada. Soobin permaneceu no sofá, enquanto o menino se dirigia à porta. Beomgyu agarrou a maçaneta, mas antes de sair, virou a cabeça em direção ao mais velho.

— Venho às 20h.

Destrancou a porta e saiu.

Soobin, que não havia se movido um minuto sequer, começou a se perguntar no que estava se metendo.

Antes tarde do que nunca (Soogyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora