O dom, a inteligência e a voz

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Soobin andou pelas proximidades da hospedaria, sentindo o sol do meio dia pinicar a pele. O ar de Daegu era levemente mais puro, mas o sol era mais intenso e incômodo.

Ou o problema era Soobin, que raramente colocava os pés para fora de seu apartamento.

Havia algumas casas, mercados, e poucas lojas. Nada alarmante, nada que indicasse a existência de vida noturna no lugar.

Bogum provavelmente ficará muito pouco tempo alí, não era um lugar bom para o tipo de negócio em que trabalhava.

Se perguntou o porquê de ser aquele lugar sua primeira parada. Seria porque era discreto?  Barato? Ou havia algo específico nas pessoas que trabalhavam lá?

Voltou para a pousada pouco antes das 13h. Assim que entrou, sentiu o cheiro da comida caseira invadir o olfato. Percebeu que sentia fome.

— Você está aí rapaz — a senhora Yu apareceu na porta ao final do corredor — Venha, o almoço é cortesia nossa.

Soobin seguiu a senhora baixinha até uma sala de jantar. Havia apenas uma mesa no estilo tradicional, já completa com pratos que pareciam muito bem feitos. Sentou-se e aguardou.

— O que está esperando garoto, vamos pode comer — disse a mulher ao pé da porta, já de saída.

— Não teria outros hóspedes para me acompanhar?

— Temos apenas um casal, mas eles preferem fazer a refeição no quarto — ela respondeu, não parecendo muito satisfeita.

— Bom, já que é assim, gostaria que me acompanhasse nessa refeição senhora Yu — Soobin usou o tom mais educado e agradável que possuía.

— Ah não não, eu precis-

— Faço questão senhora, já que preparou tudo isso apenas para minha pessoa. É justo que me faça companhia.

A mulher pareceu ainda mais indecisa, mas acabou que aceitou compartilhar aquela refeição. Parecia até um tanto agradecida. Comeram em silêncio pelos primeiros minutos, até Soobin concluir que ela se acostumara a sua presença.

— Está tudo muito bom senhora Yu — comentou casualmente, enquanto se servia de bulgogi.

— Ah, obrigada… — agradeceu timidamente — Bom, já faz um tempo que faço minhas refeições sozinha. É bom ter companhia, para variar.

Soobin se atentou aquela informação.

— Perdão a intromissão, mas a senhora cuida dessa hospedaria sozinha?

— Na maior parte do tempo sim — ela respondeu enfática — Minhas sobrinhas me ajudam com a limpeza, mas é apenas isso. E meu filho vem de vez em quando, me ajuda com as compras…

— Entendo — Soobin prosseguiu — Imagino que a senhora seja viúva…

— Isso mesmo! Meu querido marido já se foi a muito tempo — ela parecia orgulhosa e melancólica ao mesmo tempo — Me deixou essa hospedaria, o que não foi muita coisa — brincou — Isso e meu filho. Bom, apenas problemas!

Soobin riu por educação, entendo que a velha mulher estava se soltando, agradecida por ter alguma companhia com quem pudesse conversar e contar sua história.

— Seu filho está sempre por perto? — perguntou, tentando não demonstrar interesse — Digo, porque a senhora já está em uma idade avançada e precisa de supervisão.

— Ah, se todos os rapazes fossem gentis como você meu filho! — ela exclamou, encantada pela postura de jovem responsável, que aparentemente o filho não tinha — Minjoo não liga para a mãe que têm, só me arruma problemas!

Antes tarde do que nunca (Soogyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora