O corô vai comê

191 23 2
                                    

⚠️ leiam os avisos finais, por favor ⚠️

~

Soobin cuidou de seu menino todos aqueles dias. Ou ao menos tentou.

Se dedicava a tentar animá-lo e fazê-lo rir, pedia que cantasse uma ou duas músicas, chegava a arranhar algumas notas, na intenção de despertar alguma vontade de
soltar a voz no garoto.

Comprou tintas, telas e pincéis. Deixou tudo na sala de estar. Não ligava em transformar sua casa em mais um ateliê para o garoto.

Mas tudo que teve foi uma pintura em tela pequena, de um rosto de criança, disforme, desfalcado e enevoado por um borrão de tinta azul.

Um tanto angustiante para Soobin.

E Beomgyu, entendendo seu esforço, sorria pequeno nesses momentos, lhe dava um beijo morno, mas carinhoso, e agradecia silenciosamente suas tentativas. Ao mesmo tempo, com os olhos, pedia que parasse.

Ele chegava do trabalho com calma, tomava um banho demorado, e na maioria das vezes, ia estudar na mesa da cozinha para as provas de vestibular. Alguns poucos dias pegou seu skate e ia praticar no skatepark, até tarde da noite.

Soobin ficava em seu apartamento, fumando na varanda, o acompanhado com os olhos. Aquela velha sensação de deja vu vinha acompanhada de uma agonia muda, que não o permitia falar.

Sentia-se apreensivo em tocar naquele assunto, mas é que não entendia porque Beomgyu estava tão afetado por aquela carta.

Pela foto da criança.

Era sua família, é verdade, mas já não estavam distantes a muito tempo de qualquer forma?

Soobin perguntou até onde ele sabia sobre Beomgyu e sua vida antes de sair de casa. Ou se apenas estava sendo insensível.

Mas achava que aquilo estava tomando um lugar muito maior do que deveria no coração de seu pequeno.

Então, simplesmente, decidiu que tomaria medidas.

Naquela noite Beomgyu ligou, disse que ficaria em sua própria casa durante o fim de semana. Soobin estava no mercado quando recebeu a ligação:

— Desculpa hyung, realmente não tô afim de companhia.

Sua voz ao telefone soava tremida. Soobin cogitou argumentar, mas o garoto negaria de qualquer maneira. Então o disse que estava tudo bem, e desligou o telefone.

Encarou o pacote de sabão em pó em sua mão. O que estava mesmo fazendo alí?

Sentia-se inútil quando não conseguia mudar as coisas. Estava ali, parado, comprando produtos de limpeza, enquanto Beomgyu ficava cada vez mais abatido.

Achava até que, mais do que chateado, Beomgyu estava inconformado com a situação, e talvez se sentia tão impotente quanto ele. Tinha a sensação de que o menino estava alimentando aquela espécie de rancor dentro de si.

E provavelmente isso já era assim a muito tempo, mas Soobin só se deu conta naquele momento, em que era difícil mascarar.

Enquanto passava as compras no caixa, ideias começaram a se formar em sua mente. Pensou que gostaria de ir até Bogum, trazê-lo amarrado a Seoul, e o fazer se ajoelhar em frente a Beomgyu, implorar seu perdão por tê-lo deixado para trás, por lhe fazer mal.

Questionar sobre tudo, e principalmente porquê enviou aquela foto.

Se não queria que sua família fizesse parte da vida de sua criança, por que enviar uma foto? Por que fazê-los remoer dores passadas (e ainda presentes)?

Antes tarde do que nunca (Soogyu)Onde histórias criam vida. Descubra agora