Uma cabine de distância

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Deus salve Finney Blake. Não bastasse ter o olhar daquele garoto desconhecido fitando os seu a cada cinco segundos, como agora ele estava lhe fitando com uma expressão de choque.

Será que tinha alguma coisa em seu rosto? Que vergonha. 

A chamada continuava. Algum nome familiar ou outro vinha aos seus ouvidos, mas também nomes desconhecidos. 

Mas queria saber o nome do aluno novo que já chegara chamando atenção. Para estar sendo tão encarado assim - não que pudesse dizer muito, estava fazendo o mesmo -, aquele garoto deveria algo consigo.

Será que tinha arranjado briga inconscientemente?

A espera de minutos parecia milênios, na qual Finney podia imaginar perfeitamente todas as suas reencarnações passadas de tanta ansiedade que sentia. Uma necessidade confusa dentro de seu corpo exigia pelo conhecimento de um único nome de uma única pessoa por nem sequer uma única razão. 

Por que as coisas estranhas só aconteciam consigo? 

Quando viu o garoto fazendo menção de se levantar, Finney parou de viajar sobre suas vidas passadas e prestou atenção no nome que estava para ser dito.

— Robin Are... Arel... Are...

Risadinhas reverberaram pela sala, claramente atingindo o garoto que se encontrava em pé. Seu rosto estava vermelho; talvez de raiva, talvez de vergonha. 

— Arellano, senhor. - As palavras saíram da boca da figura intrigante, soando um inglês diferenciado, claramente pertencente à um sotaque estrangeiro.

Robin... Arellano? Sotaque... Estrangeiro?

— Você não é daqui? - O professor estava com aquele olhar por cima dos óculos novamente, parando de traçar alguma coisa naquela lista de chamada com sua caneta azul. 

— Não, senhor. Sou do México.

México...

Finney queria se recusar, não aceitar, negar e impedir a realidade, mas, no fundo, ele sabia: conhecia aquele "garoto desconhecido".

Seu corpo arrepiou. Por que teve que descobrir quem era aquele maldito? 

— Dá para perceber, por esse sotaque esquisito. - Rick, um garoto que era conhecido por ser o "palhaço da turma", comentou, conseguindo tirar mais algumas risadas. Finney nunca tinha trocado mais de três palavras com ele, talvez só na vez que foi chamado de garotinha pela forma como tropeçou.

Mas o apelido não durou muito tempo. Quando foram jogar handball durante uma aula de educação física, Finney acabou acertando a bola fortemente no rosto do garoto. Foi acidental, mas conseguiu fazer o nariz de Rick sangrar o suficiente para que aquele apelido morresse. 

Ainda tinham outros, mas normalmente provinham de pessoas de outras salas. 

— O sotaque esquisito é capaz de te xingar em duas línguas diferentes, capullo de mierda. - Robin rebateu, virando o rosto e demonstrando sua fúria ao cerrar os punhos. Finney sentiu o coração fraquejar com tal atitude. 

Por que sentia orgulho? Talvez fosse por que queria que conseguisse rebater os xingamentos da mesma forma? 

— Oh, sinto muito. - Robin prosseguiu, atraindo a dúvida de todos os presentes - até mesmo do professor, que, supostamente, deveria estar impedindo o cenário atual. — Eu esqueci que gente burra como você não entende. Deixe-me traduzir: desgraçado de merda.

As risadas estavam de volta, mas beneficiavam o lado do mexicano. Finney deixou uma risadinha escapar de seus lábios, embora tenha escondido-a quase que imediatamente. 

The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora