Duas memórias de distância

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As palavras que se guardam são as mais difíceis de pronunciar. 

Robin segurou a vontade de pedir qualquer coisa à Finney por tanto tempo e, de repente, eles tinham um acordo. 

"Eu sei que temos coisas para resolver, mas, por favor, será que, apenas por agora, podemos fingir que somos amigos?"

Aquele acordo não era a forma de reconciliação, muito menos a resolução daquela relação conturbada e destruída. Era apenas um acordo que beneficiava ambos os lados: Finney não teria de aguentar os colegas de escola e Robin teria ajuda em matemática. 

Talvez fosse só o começo de uma série de problemas a mais. Como socializar com Finney depois que tudo explodiu?  

Robin estava ferrado em diversas questões, a começar pelo motivo no qual tomou coragem para propor aquele trato entre ele e seu amigo de infância. 

O motivo fora Billy Showalter, o garoto que lhe aconselhara tanto e tentara ajudar desde o princípio, mas tudo que Robin fez fora pisar em seus sentimentos em um momento de egocentrismo. 

Ele estava nervoso, desesperado e não sabia como lidar com o fato de que não tinha coragem para se reconciliar com o amigo de infância que decepcionou há seis anos, e Billy parecia tão...

Tão confiante e certo de que as coisas poderiam voltar a funcionar, como se tivesse passado por aquilo alguma vez durante sua vida, que Robin chamara de medíocre e chata. 

Robin perseguiu Billy naquele intervalo até o banheiro, mas o flagrou apenas se retirando do local, já longe e repleto de lágrimas incertas - o que contrariava a postura que impôs sobre si mesmo - e pressa. Ele sabia que seria um erro tentar pedir perdão no mesmo dia que fizera a merda, já que Billy parecia tão chateado.

Não que Robin fosse um mestre dos sentimentos, muito menos dos alheios, mas ele tinha noção de que seria uma bagunça enorme para Billy caso tentasse se reconciliar. Seria mais efetivo se o deixasse derramar as lágrimas que pareciam estar escondidas há tanto tempo.

"Tentar ser o suficiente para todo mundo, até mesmo para a porra dos meus pais, que não param de brigar."

Era impactante, melancólico e frustrante.

Sua única escolha, então, era usar o banheiro para pensar um pouco. Mas antes que adentrasse, escutou uma discussão se desenrolando logo depois daquela porta.

— Você acha que a gente gosta de pau como você? Seu nojento.

Robin reconhecia, lá no fundo de seu subconsciente, a voz que cuspia um tom rude, mas não sabia dizer quem era. 

— Gostar de homens não significa necessariamente gostar de pênis... - Outra voz se fez presente no ambiente. — Mas vocês falam tanto disso, que achei que vocês sabiam.

Oh.

Esta voz Robin reconhecia até nos pesadelos que envolviam aquela pessoa que tentou evitar por tanto tempo. 

Era Finney Blake. 

— Eu quero tanto te bater, você não tem ideia. - A primeira voz voltou.

Robin cerrou os punhos. Alguém queria levantar a mão para Finney? 

Não importava quanto tempo se passou ou se passasse, Robin jamais toleraria qualquer um tentando se superiorizar sobre Finney. 

Ele ainda gostava de seu amigo de infância, querendo ou não, negando ou não. E saber que alguém queria bater em Finney era o prenúncio de uma briga que faria questão de iniciar, como fizera com Rick e como deveria ter feito nas vezes que viu três garotos desconhecidos caçoando de seu amigo de infância, mas era confuso na época e Robin queria negar que ainda se importava com a figura tímida, doce e preciosa que era Finney Blake.

The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora