Um mal-entendido de distância

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Robin mal conseguia dizer o que sentira ao perceber a encarada profunda e odiosa que Billy direcionou a si. 

Era sua culpa e ele jamais esqueceria disso. Robin ainda estava pensando numa oportunidade única para se desculpar, mas palavras nunca foram seu forte e ele não sabia que tipo de coisa Billy gostava para presenteá-lo. 

Era tão irônico. Billy lhe conhecia como a palma da própria mão, mas Robin não era recíproco e desconhecia Billy como se nunca tivesse falado com ele. 

Apesar disso, o tempo que passou com Finney lhe distraiu um pouco. Fora divertido, sem dúvida, e trazia as sensações da infância, como se ainda quisesse voltar àquela árvore para discutir quem era melhor entre vikings e piratas. 

HQs que eram vendidos pela cidade faziam parte da influência que gerava aquelas discussões bobas e sem sentidos. E poderia ser infantil, mas Robin ainda guardava os gibis. 

Era naquele ciclo de dúvidas e confusões que se passaram duas semanas, nas quais Robin se esforçou ao máximo para montar o pedido de desculpas perfeito. 

Ele pediu para encontrar Billy diversas vezes com bilhetes no armário do garoto, mas nunca eram respondidos. Fizera incontáveis dúvidas de como poderia se redimir, mas também, como sempre, sem respostas. 

Robin jamais se sentiria magoado ou irritado por isso. Billy estava terrivelmente triste e frustrado, era direito dele recusar um perdão. Mas doía. Doía tanto que Robin se perguntava se era aquela dor que causou em Billy naquele dia.

Causou tanto sofrimento sem sequer saber do que o garoto gostava? Ridículo. 

Robin se aventurou por uma loja na cidade quando completou a segunda semana desde que pronunciara palavras odiosas e perfuradoras, que cravaram nos traumas de Billy. Ele não tinha uma noção de que tipo de coisa Billy passava, mas estaria disposto a ouvir se fosse isso que o garoto desejasse.

Um caderno em específico chamou-lhe a atenção. A propaganda dizia que havia um espaço em branco na capa, bem no centro, para o nome do dono ser colocado. Uma moldura em dourado adornava as bordas da capa predominantemente preta.

Os olhos de Robin brilharam. Era o presente perfeito! Billy sabia da vida de todo mundo, então por que não ter um caderno para anotar? Ao invés de escrever seu nome na capa, Robin poderia escrever algo como "Fofocas e Caos". 

A ideia lhe fez rir. Com algumas de suas economias, Robin pegou o caderno e foi para o caixa pagar. 

Iria entregar o presente no dia seguinte junto com um longo discurso que ainda iria planejar.

Robin só não esperava acordar adoecido. 

Uma febre tomava conta de todo seu corpo, deixando-lhe vulnerável e com um frio congelante. Sentia-se fraco e mal podia se mover; tudo doía e seus olhos ardiam.

Era naquele maldito, específico e tão esperado dia que Robin resolveria as coisas, além de ter aula de matemática com Finney naquela tarde. Mas o azar bateu em sua porta e adentrou sua casa sem nenhuma autorização.

Robin não tinha o número da casa de Finney para ligar e não avisou a ninguém que faltaria. Esperava que Finney fosse sábio e se sentasse com seus amigos mesmo que não estivesse lá.

Hijo mío, te preparé un poco de té. - Sua mãe adentrou o quarto com uma bandeja em suas mãos, e Robin se sentou nos lençóis da cama. — Estás mejor?

Sí, mamá. - Robin mentiu. — Puedes ir a trabajar. Voy a estar bien.

— ¿Estás loco? Nunca te dejaré en este estado.

The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora