Uma conversa necessária de distância

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— Eu não consegui fazer amigos. 

A estação de primavera chegara trazendo o reflorescimento da flora de Denver. As praças estavam repletas de cores, revestindo a cidade com sentimentos e emoções das esperanças das crianças, que ainda se mantinham intactas. 

A infância, em sua grande maioria, era algo doce. As flores sempre parecem conter um aroma agradável e renovador, mas quando se cresce, tudo não passa de plantas monótonas nas quais se veem todos os dias.

Embaixo daquela árvore, onde antes residia apenas um longo gramado verde, agora era diversificado em colorações e flores perdidas, levadas pelo vento. 

Robin tira mais uma pétala da flor rosa que achou ao seu lado quando se sentou na grama ao lado de Finney.

— Por que não? - Finney perguntou inocentemente. 

Robin tivera aulas em casa por alguns meses antes de se adaptar às escolas. Entrou em uma apenas no final do inverno como experiência, já que as férias de verão estavam para chegar novamente. 

Fazia-se meses desde que se conheceram, e Robin e Finney não eram capazes de se desgrudar. Apreciavam a companhia um do outro em um apego inexplicável, apenas sensitivo.

— Não sei. As outras crianças me olharam feio, disseram que eu deveria voltar para o meu país e que meu cabelo era feio. - Robin murmurou, ficando cabisbaixo. — Riram da minha bandana também.

Sua mãe vivia elogiando seu cabelo. Os fios negros eram hidratados e tratados com delicadeza, e Robin os admirava constantemente, sendo incapaz de se livrar deles. 

As bandanas que carregava consigo também tinham seu significado. Seu pai havia morrido em um acidente de carro tentando proteger um cão que ali passava. O instinto protetor inspirou Robin, então, para se sentir mais próximo e mais parecido com sua figura paterna, herdou o costume de usar bandana.

Saber que as outras pessoas achavam isso ridículo era um baque para uma criança de oito anos - seu aniversário já tinha passado. 

Seu primeiro dia de aula tinha sido um completo fracasso.

— Elas estão erradas. - Finney respondeu, alheio aos pensamentos inseguros do amigo. — Ninguém pode te dizer onde você deve ou não estar. E seu cabelo é incrível. Eu gosto dele.

Cosquinhas se fizeram presente em seu couro cabeludo quando a mão de Finney moveu para seus fios de cabelo, acariciando-o gentilmente.

— Eu acho sua bandana muito irada também. - Finney sorriu, continuando. — Combina com você.

Robin não entendia por que estava tão feliz com as palavras reconfortantes vindas de seu amigo. O sorriso que Finney lhe dava era o suficiente para que um calor ascendente reluzisse sobre seus sentimentos.

Retribuiu a expressão com seus lábios sorrindo da mesma forma. 

— Eu briguei com eles, na verdade. - Robin continuou, animando-se para continuar a história. — Não gosto quando falam da minha bandana. Ela é especial para mim.

— Por quê? 

Era difícil falar da morte de seu pai. Era um tanto recente ainda, mas estava superando surpreendentemente bem. 

Não sabia como responder a pergunta, as palavras não queriam se formar nos seus lábios e a voz não saía. 

— Segredo. - Deu uma piscadela, fazendo com que Finney formasse um beicinho.

— Injusto!

Os dois garotos riram, deixando suas gargalhadas esvoaçarem pela brisa que os envolvia.

The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora