Um apelido de distância

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Havia um clima desconfortável quando Robin trouxe duas cadeiras para sua mesa. Finney apenas esperou, olhando o garoto mexer objetos para lá e para cá, e aproveitou a "solidão" para pensar em sua antiga caneta em formato de foguete.

Era sua caneta predileta, aquela que antigamente levava para todos os lugares.

Robin havia guardado por todos esses anos. Finney o tinha dado de presente numa conversa que tiveram, que, surpreendentemente, havia previsto tudo que aconteceria.

Balançou a cabeça, tentando esquecer o diálogo que tiveram, mesmo que o esquecimento fosse momentâneo. Não era hora nem lugar de ter memórias emocionais. 

Finney também guardou o que havia recebido de Robin naquele dia. Foi incapaz de se livrar durante todos esses anos; tentara diversas vezes quando o choque e a raiva lhe atingiram por ter sido deixado sem sequer uma explicação. Apenas desistiu ao ter seu ódio e sua surpresa substituídos por culpa e frustração, deixando o leve pedaço de pano guardado em um lugar especial, como Robin era para si antigamente.

— Terminei. - O suspiro de Robin interrompeu o transe de Finney, que imediatamente voltou a prestar atenção. — Ah, céus. Você ficou parado aí esse tempo todo? Poderia ter se sentado na minha cama.

Era tão vergonhoso. Qualquer diálogo que tivessem era vergonhoso. Estar ali era vergonhoso. E Robin ainda queria que Finney fosse descarado o suficiente para sentar-se em sua cama?

Se bem que havia xeretado levemente o armário de Robin. Talvez, em uma balança de constrangimento, seja pior do que sentar-se na cama de alguém.

A queda lamentável que iria ter também seria vergonhosa se Robin não tivesse lhe segurado pela cintura. O toque era quente e trazia segurança; espantava, de certa forma, a tensão que havia se formado por alguns segundos. 

Não se sentiu constrangido quando aconteceu, mas, agora, a cena bateu em sua porta e fez com que corasse. Por isso Robin estava tão tímido ao lhe segurar.

Por que tudo estava dando errado?

— Eu não quis incomodar, estou bem. - Finney abanou as mãos e sorriu gentilmente, tentando acabar com aquele incômodo interno. — Vamos?

— Sim.

Os dois garotos se moveram até as cadeiras e se sentaram um ao lado do outro. A mochila de Robin estava encostada sobre sua cadeira, dando a oportunidade de pegar os cadernos e colocá-los sobre a mesa. 

A capa da apostila de Robin era repleta de desenhos, desde o "MATEMÁTICA" escrito no topo até o "Nome do aluno" escrito embaixo - estranhamente havia um desenho ao invés do nome de Robin. 

Seria um bom tema para um diálogo saudável e sem tensão se os desenhos de Robin não fossem simplesmente garranchos e caligrafias iguais às das pessoas que pichavam as ruas.

Será que Robin era um pichador? Seu ex-amigo era um criminoso?

Finney engoliu em seco, pensando em tal possiblidade. Pior do que aquilo era apenas a insinuação de Billy de que Robin era um possível assassino em série.

— Ah, isso... - Robin reparou o olhar atento de Finney sobre sua apostila ao terminar de pegar seus cadernos. Finney ergueu o rosto para observar Robin e se deparou com bochechas tingidas por uma coloração variada entre vermelho e rosa. — É que eu queria grafitar algum dia, então eu comecei a treinar as letras.

Grafitar ou pichar? Finney esperava que ele estivesse falando a verdade. E, se não estivesse, Finney não faria nada para impedir, mas ainda se sentiria um cúmplice. 

— Entendi. Boa sorte. - Respondeu educadamente, abrindo a apostila de Robin de forma descarada e rápida para acabar com o assunto. — Vamos começar retomando alguns conceitos.

The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora