Um vão entre carteiras de distância

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— Você já recebeu um presente especial? 

Desta vez era inverno. O frio assombrava a cidade de Denver, as crianças saíam para brincar totalmente agasalhadas, com botas marcando seus pés na neve.  

Finney e Robin estavam embaixo da árvore de onde se conheceram, apenas brincando com a neve do chão e conversando.

— O que seria um presente especial? - Finney perguntou de volta, confuso. O gorro de sua cabeça escorregou levemente, então moveu a mão para ajeitá-lo.

— Mamãe estava vendo um filme em casa. - Robin comentou, colocando a mão no queixo. — O homem do filme disse que tinha um presente especial para uma mulher loira lá. Mamãe a achou bonita, mas eu a achei feia.

Finney riu, voltando a acariciar a neve do chão.

— Acho que não. - Respondeu, desviando o olhar. — Nenhuma garota me deu um presente.

— Então eu vou te dar um presente especial. - Robin concluiu, determinado.

Os dois sorriam um para o outro. As bochechas e os narizes estavam igualmente avermelhados por conta do frio, mas contrastavam com a delicadeza de suas expressões. 

Os dedos cobertos pelas luvas desenhavam na neve. Finney fazia estrelas, foguetes e astros do espaço. Robin fazia animais e personagens dos jogos que gostava. 

Eles não se lembram quando e como decidiram que cada um desenharia a metade de um coração, formando uma figura torta.

— Robin, você tremeu aqui. - Finney riu, apontando para uma parte achatada do coração. 

— Mas eu achei bonito assim! - Robin rebateu, indignado. Um bico foi formado nos seus lábios pequenos e adoráveis. 

— Não disse que estava feio, desculpa. 

— Não precisa pedir desculpa. Eu gostei do coração.

— Eu também. 

Nem mesmo o inverno conseguia apagar o calor do sorriso das duas crianças. 

E Finney não sabe por que esta memória está voltando agora, mas sabe que não queria tê-la de volta. 

Seu corpo ainda estava tentando absorver o dia. No passado, dizer que Billy tinha começado a falar consigo seria a coisa mais louca em um dia monótono de aula.

Como em um único dia conseguiu socializar com o popularzinho, ser defendido por seu amigo de infância e agarrado por Vance Hopper?

Um calafrio foi sentido quando se lembrou da última parte. Um dos poucos da escola que tinham coragem de partir para a agressão era Vance Hopper.

— Finney! - Gwen estava na porta de casa, esperando que aparecesse. Ela era do nono ano, então, por não ser do ensino médio, não tinha o mesmo horário que o irmão. — Eu estava te esperando!

— O que você fez? - Finney perguntou de forma direta. Gwen nunca lhe esperava fora de casa. — Brigou com o papai? 

— Não, credo. - Colocou a língua para fora. — Ele não está em casa. É que eu...

Finney suspirou só de imaginar qual travessura sua irmã tinha cometido.

— Eu derrubei o arroz que tinha na geladeira. Acho que teremos que fazer outro...

Não podia nem descansar depois de um dia cheio de aula? Que tortura. 

— Certo. Vamos lá.

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The Space Between UsOnde histórias criam vida. Descubra agora