Capítulo 13 - O Casamento

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Dias depois.....

O casamento foi luxuoso, festivo e movimentado. Após as cerimônias, sucederam-se dois dias de torneios e justas. Como todos esperavam, Wuxian abocanhou a grande maioria dos prêmios, tendo lutado como campeão de Lady Wen Qing . Todas as honras ficaram na importante casa dos Jiang's. Cheng assistiu aos torneios ao lado da jovem esposa, contente de ver o irmão brilhar.

Depois de uma luta particularmente cansativa, Cheng foi a tenda de Wuxian.

- Mingjue me disse que você tem aceitado todos os desafios, Wuxian.

- Claro. Não gosto de fugir de desafios, você me conhece bem. Além disso, todo o mundo está satisfeito, incluindo sua mulher, minha patrona.

- Mas você não esta aproveitando a festa. Não o convidei para vê-lo lutar com a espada e nem rolar no chão.

- Essa é a melhor parte da festa, mano. Prefere que eu me sente no meio destas dondocas, segurando uma flor na mão?

- Cheng enrubesceu. Não fazia muito, Wuxian havia-o encontrado com uma flor na mão, pronto a dá-la a Wen Qing.

- Então acho que vou desafiá-lo - revidou zangado.

- Não, porque eu o venceria sem dó nem piedade, não duvide. Aceitei a honra de ser campeão de Lady Wen Qing exatamente para que você não me desafiasse. De que lado ela ficaria, homem de Deus? Não Cheng, deixe as coisas como estão. Será melhor para todos nós.

Quando Cheng deixou a tenda , havia uma tensão inexplicável entre os dois.

Perdida em seus próprios problemas, Wuxian não se apercebera dos olhares que a cunhada lhe lançava. O que começara como simples curiosidade e admiração transformara-se em adoração; e embora Cheng desconhecesse a extensão do problema, não duvidava que havia alguma coisa no ar. Por outro lado, parecia estranho a Cheng que Wuxian prestasse tanta atenção em Wen Qing e a observasse com tanta insistência.

Cheng sacudiu a cabeça. Bobagem! O próprio Wuxian dissera que a vida de Wen Qing era fonte de bocejos! Então, talvez fosse ciúme da parte de Wuxian. Sim, era isso!

Aliviado, ele voltou para a mulher e deu-lhe um beijo. Quando encontrasse Wuxian de novo, diria a ele que ninguém se interporia entre os dois irmãos. Ninguém, nem mesmo sua mulher.

Wuxian observava a etérea silhueta da cunhada, que esvoaçava no jardim como borboleta colorida, a enorme saia ao vento como asas transparentes. Seus sapatinhos eram tão pequenos e delicados, que Wuxian se perguntava, espantada, se eles não se gastariam naquele ir-e-vir incessante entre as flores.

E o cabelo, misericórdia! Wen Qing devia ter gastado horas empilhando aqueles cachos. As mãos pequenas e muito brancas, certamente jamais tinham pegado sequer num punhal.

- Ah, Wuxian, andei procurando você por toda a parte! - exclamou Cheng, entrando na sala. - Imagine só que um mensageiro veio hoje com um presente de casamento para mim. Adivinhe de quem?

- Papai Noel - riu ela.

- De Wang Yibo, mano!

Wuxian baixou os olhos, porque sabia que eles deviam estar brilhando como duas estrelas.

- Não diga. E qual é o presente?

- Uma peça inteira de renda Irlandesa, tão macia como nuvens. Minha mulher estar enlouquecida de alegria. Ele também mandou um tonel de uísque para nós dois. No bilhete que recebemos , aliás muito simpático, ele lhe manda cumprimentos e agradece pelo modo como foi tratado enquanto prisioneiro.

- Tratei-o como trataria qualquer outro cavaleiro vencido.

- Mesmo assim ele está agradecido. Venha, vamos abrir o tonel e beber a saúde de Wang!

Dizendo isto, puxou a irmã pelo braço e começou a tagarelar, alheio a expressão de sofrimento que de repente se instalara no rosto dela.

- Um drinque vai nos fazer bem - disse ele.

- É, acho que sim.

Talvez fosse bom tomar uma bebedeira. Pelo menos os fantasmas que a perseguiam também se embriagariam e se retirariam para dormir.

O primeiro gole desceu asperamente, transformando suas vísceras em fogo. O sangue circulou mas rápido e quente em suas veias. Como Wang fazia quando a tocava.

- Epa, esse negócio é forte! - falou Cheng.

- É, danado de bom - replicou ela, estendendo a taça vazia - Faz o sangue ferver.

Mas esquecer Wang era difícil. Nem que ela tomasse o barril inteiro de uma vez. Assim mesmo, resolveu seguir adiante. Pelo menos, se encheria com a bebida que "ele" enviara.

Horas depois, lágrimas de autopiedade escorriam pelo rosto de Wuxian. Mas não havia ninguém para vê-la; Cheng não aguentara acompanhar o ritmo da irmã e apagara minutos antes.

Wuxian deu um último gole e ergueu-se, oscilando perigosamente. Agarrou o irmão e jogou-o no ombro , caminhando com passos trôpegos, enquanto cantarolava uma antiga canção de guerra. Ora, que mulher ômega realizaria esta façanha igual aquela? Só ela.

O riso ecoou pelas paredes do castelo adormecido. Era um riso triste, amargo e solitário. O riso de um espírito atormentado que erra pelo mundo sem esperança de redenção por ter cometido pecado grande demais para ser perdoado....

Mas Wuxian não queria perdão. Porque, para obter perdão, era preciso haver arrependimento. E Wuxian não se arrependia de nenhum momento que partilhara com Wang. Ao contrário, agarrava-se á sua memória naquele momento, como nunca tivera coragem. A memória de Wang era a única migalha que receberia do banquete da vida.

- Wuxian!

A palavra saiu num grito áspero da garganta de Wang, sacudindo a noite, ecoando pelas paredes do castelo silencioso.


By...By... amores

Até a próxima...






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