Capítulo 17 - A Descoberta - Pte 1

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Vagarosamente, arrancando-se aos poucos da inconsciência, Wuxian começou a voltar a si. E, a medida que voltava, sentia uma onde de vergonha varrê-la de alto a baixo. Ah, como se odiava pelo que fizera! O que não diria Mingjue, por todos os deuses do Olimpo?

Adiava como podia o momento de abrir os olhos e enfrentá-lo. Como explicaria ao velho amigo seu ato impulsivo? Mas dali a pouco teria que enfrentar a ira de Mingjue, e não seria fácil!

Ouviu outras vozes e concentrou-se. Eram inequivocamente escocesas, com seu sutaque gutural, quase rascante. Cautelosamente, Wuxian se animou a abrir os olhos. Mas, á medida que ia compreendendo o que se passara, começou a sentir uma dor quase suave, penetrando-a como uma ponta de flecha, uma dor que encheu sua alma de raiva e impotência.

- Maldito seja, Wang Yibo! - explodiu, vermelha de raiva - Ponha-me no chão imediatamente, seu verme! Prefiro ser arrastada com cordas a ser carregado como um bebezinho!

Wang levou tamanho susto que quase a derrubou. Depositou-a no chão com cuidado, e depois enxugou a testa.

- Na verdade, estou contente de me ver livre deste fardo. Ufa! Acho que meu cavalo é mais leve que você.

- Demônios o levem! Por que não me deixou no campo? Meus pares iriam me recolher. Além disso, você não me capturou lealmente, e não foi sua espada que me derrubou!

Apesar da torrentes de repreensões, Wuxian viu-se obrigada a se apoiar em Wang, enquanto sentia a terra girando vertiginosamente sob os pés.

- Nada disso, você foi deixado como morto. Ora, havia até um saqueador tentando roubá-lo quando eu cheguei, está sabendo? Só fiz recolher seu corpo, pensando que seria uma boa idéia enviá-lo a Cheng, para que tivesse um enterro descente. Porque para mim você estava morto.

Enquanto falava, Wang se espantava com a frieza da própria voz. Desde que encontrara Wuxian, soubera no mesmo instante que ele não estava morto. Viver sem Wuxian era tolerável; mas viver num mundo onde ela não existisse era uma idéia tão aterrorizante que Wang nem ousava imaginar.

- Acha que pode caminhar?

- Claro que sim, não sou maricas!

Lutando bravamente contra a dor que a assaltava de todos os lados, Wuxian ergueu o queixo e conseguiu dar alguns passos cambaleantes, para logo em seguida parar, respirando ruidosamente.

- É melhor se amparar em mim.

- Não.

- Muito bem, então vou levá-lo nos ombros. É mais cômodo para mim.

- Está bem, eu me apoio em você.

Mas uma vez, Wang retomou em silêncio a interminável luta contra a fera que supusera adormecida dentro de si. Na Escócia não havia lugar para semelhante amor; se alguém dele suspeitasse, ainda que de leve, Wang seria desonrado e desterrado. E sua família viveria em vergonha. Não, isso não podia acontecer nunca!

O relacionamento entre Wuxian e Wang tornara-se tenso e difícil. Nada havia daquela camaradagem alegre que outrora existira entre ambos, no tempo do cativeiro. Os escoceses mostravam-se hostis e arredios, tratando-a com aberta desconfiança.

- Juro que ás vezes não sei qual de nós dois é o prisioneiro - declarou ele certa vez -Cá estamos num castelo escocês, dentro dos meus aposentos... Ainda assim, tenho a impressão de que eu é que sou o prisioneiro. Não posso arredar daqui, para tomar conta de você.

- Ótimo - fez Wuxian, com ar travesso -, assim você compreende melhor os problemas que eu tive quando a situação era inversa.

Wang jamais se referira ao fato de que Wuxian o salvara da morte certa; aparentemente, ele não percebera nada do que se passara.

Honey Of Sin - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora