Capítulo 16 - Esse é meu!

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- Rapaz, entramos demais em território escocês! - resmungou Nie Mingjue, voltando mais uma vez o corpanzil na sela.

- Daqui a pouco seremos caçados como faisões, é o que digo. Se escaparmos vivos desta, podemos nos dar por felizes.

- Talvez você prefira dar meia-volta? - ironizou Wuxian, que estava disposta a vender a alma em troca de uma boa batalha.

- Mesmo que eu preferisse, você não me acompanharia. E eu não volto sem você.

- Ora, já briguei sozinho antes. Não preciso de babás segurando minha mão.

- Mas precisa de um médico para examinar sua cabeça, que só tem parafusos soltos. Você não faz outra coisa senão arriscar seu pescoço! Mete-se nas batalhas como se não importasse com a própria vida... Alguma coisa esta errada com você.

- Nada disso. Continuo lutando como sempre, e do jeito que você me ensinou. O que pretende Nie Mingjue? Me deixe em paz, homem de Deus!

- Há muito tempo desisti de chamá-lo ao bom senso, Wuxian. Mas parece que está procurando metodicamente sua morte. Não é normal lutar desse jeito, não é saudável. E está me cheirando a autodestruição, se quer saber.

Antes que Wuxian retrucasse, um soldado se aproximou galopando, de mão erguida.

- Alguma novidade? - perguntou Nie Mingjue.

- Escoceses! Um regimento dos grandes, esperando do outro lado.

Wuxian estudou o íngreme caminho em que se achavam, perto do alto pico, cujo flanco salpicado de flocos brancos indicava à recente nevasca.

- Vamos fazer um reconhecimento antes, depois decidiremos o que fazer - sugeriu Nie Mingjue.

- O rei pretende vir ao nosso encontro - comentou Nie Mingjue - Ele virá por aquele estreito do lado sul.

- Precisamos achar o local mais conveniente para nós e forçar os escoceses a nos atacar lá.

- Perca as esperanças - respondeu Nie, apontando para baixo. -

Veja só ali, o próprio Robert Bruce está entre eles. Esse homem é uma raposa velha, Wuxian. Não conseguiremos enganá-lo de jeito nenhum! Pelo visto, a vantagem está do lado de lá de novo. E a vitória também.

Mas Wuxian não ouvia, mergulhada numa sensação aguda de emoção e ansiedade. Acabara de ver a bandeira de Wang Yibo tremulando ao vento.

- Ei, você viu a bandeira de nosso amigo Wang? - perguntou Nie Mingjue - Isso é mau. Temos que ficar longe dele, Wuxian, principalmente você. O Wang quase se fez nosso amigo durante o tempo em que foi nosso prisioneiro, e eu sou de opinião que um homem ou é amigo ou inimigo. Não há meio termo, não pode haver! Muito menos no campo de batalha, concorda?

- Concordo - respondeu ela, num fio de voz.

- Vamos - disse Nie Mingjue, virando o cavalo. - Vamos sair daqui.

As horas seguintes foram permeadas de fogo e gelo para Wuxian. Embora ardesse de vontade de rever Wang Yibo, ainda que fossem por breves instantes, sabia que um confronto entre ambos seria inevitável. E ela não tinha intenção de se bater com ele. Pela primeira vez na vida sentiu inveja de Cheng, refestelado em segurança em seu belo castelo. Ah, se por um milagre ela pudesse voar dali para bem longe, onde não haveria perigo de terçar armas com Wang!

A imagem dele voltou-lhe à lembrança, viva e nítida. Uma imagem que conseguira enterrar fundo no coração, exceto quando sonhava em suas noites solitárias.

Repentinamente, decidiu que ficaria no acampamento e coordenaria a batalha de sua tenda. Odiava esta tática e nunca a colocara em prática, mas qualquer saída serviria para escapar da situação de encontrá-lo face a face. Antes, porém, que pudesse anunciar o plano a Nie, soaram trombetas de alarme.

Honey Of Sin - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora