Assim que acordo percebo que estou em minha cama debaixo das cobertas. Me sento na cama e olho ao redor. Não me lembro de como cheguei aqui mas ainda estou usando as roupas de tênis.
Percebo que Tomas esta sentado no divã que tenho no quarto, está com a cabeça inclinado para trás e de olhos fechados. Me levanto e vou em sua direção, sinto meu corpo dolorido mas nada que impeça meus movimentos.
- Tomas - chamo mas ele não responde então eu balanço seu ombro um pouco - Tomas.
Ele se endireita num pulo, quase não tive tempo de dar um passo para trás.
- Alice você está bem? - ele se levanta e me abraça.
Não consigo segurar e começo a chorar me agarrando a ele. Ele é tão grande que me sinto uma criança novamente.
Ele me leva junto se sentando de novo, eu me encolhi toda no seu colo, ele tenta me acalmar passando a mãe em minhas costas. Ficamos assim por um tempo e o vejo digitando em seu celular mas em nenhum momento ele me tira de seus braços.
" Eu senti tanta falta dele. "
Alguns minutos depois escuto vários passos subindo a escada e os rapazes aparecem na minha porta.
Eu vejo em seus olhos a preocupação comigo, não gosto disso. Prefiro ver seus sorrisos. Essas caras fechada, senhos franzidos não combinam com suas personalidades.
- Entrem - diz Tomas.
Todos se ajeitam a nossa volta. Saimon e Tay ficam de pé encostados na parede ao lado da porta, Nicolas se senta na minha cama, Dominic na cadeira da minha escrivaninha e Natan senta ao nosso lado e me entrega um prato com um sanduíche natural e um copo de suco.
- Obrigada - digo baixinho e pego o prato de sua mão, não havia percebido que estava com fome - Por quanto tempo eu dormi?
- Por três horas pequena - diz Tay.
Apenas balanço a cabeça afirmativamente e começo a comer, todos esperam que eu termine, mas posso sentir que haverá muitas perguntas a caminho.
Termino de comer, Dominic tira tudo das minhas mãos e coloca na escrivaninha e se senta novamente. Sinto o olhar de todos eles mas é Tomas quem fala primeiro.
- Alice nós já sabemos quem lhe trancou no vestiário - olho direto em seus olhos - Quero que me diga. Elas fizeram algo mais? Te machucaram de mais alguma forma?
- Não.
- Certo - sinto seu corpo relaxar, mas sua voz ainda está rígida - Não se preocupe está bem, elas irão pagar pelo que lhe fez.
Encosto meu rosto em seu peito e afirmo com a cabeça, lembrando do momento que passei trancada lá dentro.
- Alice tem mais uma coisa que precisamos que você nos explique - Tomas me afasta um pouco para que possa olhar em meus olhos novamente - Por que você falou que havia fogo e fumaça lá dentro?
Fico sem compreender então olho para os outros.
- Quando te encontramos desacordada no vestiário você disse que havia fogo e muita fumaça princesa - diz Saimon da porta - Mas eu conferi tudo, não haviam botado fogo lá dentro.
Sinto meu corpo esfriar, ficar tenso novamente, minha respiração acelerada.
Não quero falar deste dia, um dia de muito medo e tristeza.
- Alice por favor me conte - pede Tomas.
Fico um pouco na dúvida, porque pelo que eu sei ele está ciente de tudo. Mas os seus olhos dizem outra coisa.
- Está bem - respiro fundo várias vezes, e as memórias começam a voltar - O colégio interno tinham regras e condutas deferentes do que tem agora. Elas estão mais rígidas e menos tolerantes por causa de algo que aconteceu a oito anos atrás.
Ninguém diz nada, ninguém faz nenhum som e muito menos se move, apenas esperam. Então eu contínuo.
- Quando entrei para o colégio os dormitórios eram em um único prédio, a cada andar ficava duas faixas etária, então naquela época com dez anos eu estava no segundo andar. As crianças até treze anos deviam se recolher as 20 horas, os demais podiam ficar até às 22 horas - paro um pouco para respirar, minha mão está suando então as limpo em minha saia - Era uma quarta feira, todos já deveriam ter se recolhido já que passava da meia noite.
" Mas ninguém sabe o por que ou a diretora não nos fala, havia duas garotas no terreiro onde é a sala, lá fica as TVs, fofas, algumas mesas, e várias outras coisas para nós. E por algum motivo elas começaram a brigar. Foi o que as câmeras filmaram. Só que para ficarem lá durante esse horário tiveram que usar velas."
- Mas por que velas ? - pergunta Dom.
- Eles cortam a energia da sala de recreação, para impedir que fiquemos lá depois do horário. Apenas nos quartos tem. Da porta para fora é uma escuridão total. Então elas levaram velas para enxergar. E durante essa briga derrubaram as velas. Lá é uma área com muitos carpetes, sofás, almofadas, cadeiras e mesas. Então para começar um incêndio foi muito rápido.
" Mas isso tudo aconteceu quando estávamos em nossos quartos, então não escutamos nada até o fogo já está tomando todo o térreo. Elas tocaram os alarmes, chamaram as monitoras, eles começam a tentar apagar o fogo mas estava se espalhando muito rápido. Então começaram a passar de andar em andar para avisar e retirar todos. "
Espero um pouco para continuar, sinto minha garganta seca e irritada como se estivesse lá de novo.
" Quando acordei já havia fumaça entrando por baixo da porta, escutava muita gritaria. Quando abri a porta o corredor estava tomado de fumaça, crianças correndo em direção as escadas de emergência, uma monitora no início do corredor conferindo quarto por quarto. Estava ruim para respirar, então comecei a correr também. Mas quatro portas depois da minha eu escutei uma das meninas bater na porta do lado de dentro pedindo ajuda."
Paro de falar. Não posso continuar e reviver aqueles minutos. Meus olhos ardem com as lágrimas se acumulando, Tomas aperta mais seus braços ao meu redor.- Eu e mais duas meninas paramos para tentar ajudar, a monitora ainda estava longe, no corredor. Nós tentamos abrir a porta mas estava trancada, gritamos para ela abrir, mas ela não conseguia. Não nos falaram se ela no meio do pânico perdeu a chave ou o que realmente aconteceu. Nós realmente tentamos ajudar, não havia nada que conseguíssemos levantar pesado o suficiente para jogar na porta - minha voz começa a falhar, sinto uma lágrima começar a escorrer, há um nó na minha garganta.
- Alice está tudo bem pode parar agora.
- Não, não. Eu quero falar, preciso falar pra alguém - eu nunca conversei com ninguém sobre esse dia, tinha uma psicóloga no colégio, mas sempre permaneci quieta - Tinha muita fumaça, não conseguia respirar direito, uma das garotas não aguentou e saiu correndo para fora. Eu e a outra que fico tentamos mais e mais. Minha garganta já estava queimando. Foi quando a monitora apareceu e foi nos empurrando para fora. Nós tentamos dizer a ela que ainda havia uma lá dentro, que ela estava trancada, mas era muita confusão, e muito barulho, acho que ela não nos escutou.
" As escadas de incêndio dos andares de cima dava para a mesma, então tinha muita crianças e adolescentes tentando descer ao mesmo tempo. Algumas das maiores até pegava das menores no colo, algumas caiu nas escadas. Era muita coisa acontecendo e eu já estava perdida. Os professores estavam tentando controlar o fogo até a chegada dos bombeiros. Muitas crianças tiveram que ser atendidos pelos paramédicos, eu tive que ficar no oxigênio por um bom tempo. Até que finalmente os bombeiros conseguiram apagar o fogo. "
- Alice - sinto meu irmão me apertar, ele está tremendo, sinto algo pingando em mim e quando olho para cima vejo que á lágrimas descendo pelo seu rosto - Tu es là, tu vas bien Alice. Est de retour à la maison.
Eu não sabia que ele aprendeu a falar Francês, e isso me faz chorar ainda mais.
" Sim Tom, eu pude voltar para casa."
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Somente Você
Romance"Depois de 11 anos longe de casa, estou finalmente de volta." Mandada para o colégio interno na França aos 7 anos, Alice Dowen finalmente pode retornar para casa. Para morar na casa da sua família com seu irmão e seus cinco amigos. Ela os conhece dê...