Capítulo 7: A manhã seguinte

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Margery estava sentindo os olhos pesados, mas havia um conforto e bem estar tão grande ali, que parecia que ela tinha voltado no tempo de criança e dormia no conforto e segurança de sua cama, de seu antigo quarto. Uma macia feita com pelos de animais e bem cuidados com óleos e alfazema.
Margery suspirou e virou-se de lado para se acomodar melhor naquele sonho maravilhoso. De repente, surgindo de uma névoa,  apareceu um homem alto  com profundos olhos  cinzas, que a abraçava ternamente. Aquele homem bonito e forte estava sorrindo para ela, e Margery  deixou que aquele sorriso a inebriasse de ternura e paixão. No sonho  tudo era possível...Não queria acordar e se lembrar que agora estava sozinha, tendo que lutar pelo seu futuro, que dormia numa cama dura feita de capim que lhe dava coceira pelo corpo, não queria lembrar de todo o desconforto, percalço, miséria e todo sofrimento que havia passado. Queria só ficar ali, naquele sonho, e se pudesse não acordaria nunca mais. Nunca mais. Queria ficar ali, dentro daquele sonho, dentro daqueles braços..
De repente seu sonho foi invadido pelo barulho de uma espada arranhando a parede e imediatamente ela lembrou-se que esse era um sinal. Um sinal do abuso que estava por vir. Um sinal que os homens fariam fila para dormir com ela, e depois a largariam naquela masmorra com ferimentos que não se curavam até a próxima noite de abusos. Margery não queria lembrar e ouviu novamente o barulho de uma espada arranhando a parede e se encolheu em posição fetal e começou a chorar e a murmurar ao mesmo tempo.
-Não! Não! Saiam daqui! Me deixem em paz!!!
-Diot! Diot! Acorde!
Diot? Quem era Diot?
Margery foi abrindo os olhos  e devagar foi percebendo onde estava. Então  viu  que dormia num lugar desconhecido, o que não nenhuma novidade para ela, porém, a sua frente, estavam Bronson, Lorde Joran e ele! O homem de olhos cor de tempestade! O rei de Brugnaro! O bastardo!  Ciente de que os três homens a olhavam entre preocupados e surpresos, ela foi levantando -se devagar, olhando ao redor e reconhecendo que estava na câmara  real.  O quarto de Malaki. O quarto de seus pesadelos e não de sonhos como o que acabara de ter.
Como fôra  parar ali? Margery então se lembrou do encontro na noite anterior, quando havia tratado Theo  como um soldado comum que queria abusar dela. Após ele se apresentar, sentiu o mundo rodar a sua volta e agora percebia que havia desmaiado! Saber que estava frente a frente com seu inimigo  e que havia sido ríspida e desrespeitosa, fez com que Margery saltasse  da cama, num pulo e fizesse uma reverência completa ao rei. Precisava arrumar uma boa desculpa para ficar bem com ele, mas se o rei fosse mal e vingativo, como ela supunha que ele  fosse, possivelmente, aqueles seriam seus últimos minutos  de vida.
Theo estava sentado  numa cadeira de espaldar alto a sua esquerda. Ele vestia  uma túnica  sobreposto com um grosso colete de couro. Sua expressão facial  era enigmática. Daria uma moeda de ouro para saber o que ele  estava pensando.
-Peço perdão a vossa majestade, por ter perdido os sentidos ontem...  e também...eu... não sabia que era vossa majestade eu o confundi com um soldado. Milorde
Theo a olhava atentamente. Ela estava dormindo como uma criança  e pela primeira vez em muitos anos, seu corpo reagiu a uma mulher com desejo e paixão.
Ela era linda, de uma beleza que ele nunca havia visto, mas tinha um ar misterioso, uma aura de perigo a rondava. Mas o que o intrigou, foi a sua passagem de um sono tranquilo, para logo depois, ela se encolher como uma pessoa ferida. Havia pavor nas suas feições. Realmente essa jovem era um mistério, mas infelizmente, era um mistério insondável para ele. Não tinha tempo para ouvir seu corpo. Não tinha tempo para ficar mais de meia hora olhando uma mulher dormir e admirando cada suspiro que ela dava.
-Dionisia é o seu nome certo?
Margery assentiu com os olhos baixos. Suas mãos tremiam. Ela não podia vacilar, não podia demonstrar todo sei ódio e rancor por aquele homem. Aquele usurpador bastardo!
Theo continuou, apenas para ouvir a voz dela. Era rouca e macia ao mesmo tempo. Aliás era era assim: uma mistura de doçura e força . Bronson havia lhe contado toda a história e Joran também. Seu encarregado achou por bem permitir que a sobrinha do Velho mordomo se juntasse aos criados para dar uma boa impressão aos criados, pois eles sabiam que precisam fazer políticas da boa vizinhança com eles, pois poderiam precisar dessas pessoas ao lado deles no futuro.Theo não discutiu com Joran. Isso era um assunto menor. Estava ali apenas porque a moça havia desmaiado depois de sua apresentação a ela. Theo sentia vontade de rir, pois podia imaginar a vergonha e o medo que ela devia estar sentindo agora, que talvez ele lhe desse um castigo, ou mesmo a expulsão do reino.
Sem saber o que fazer, levou-a para seu quarto e dormiu na cadeira, quando amanheceu convocou Bronson e Joran para saber quem era aquela linda desconhecida.
Margery estava tensa. Podia sentir o olhar intenso do rei sobre ela intensamente. Não sabia o que esperar dele, pois não o conhecia. A sua fama não era boa. Diziam que ele era cruel e exigente, não permitia que as pessoas se aproximassem dele, que ele sério e calado, que ele era capaz das maiores atrocidades desde da hora que acordava até a hora de dormir. Ele não era amado pelo seu povo. Todos tinham medo dele e não respeito, e diante de tanta informação negativa, não se surpreenderia se ele a mandasse para a masmorra.
-Sabe cozinhar Dionisia?
Surpresa com a pergunta, Margery não teve tempo de pensar e respondeu:
-Não vossa majestade.
Theo a olhou intrigado. Como uma camponesa não sabia cozinhar? Isso era algo realmente incomum.
Margery viu que a sua resposta verdadeira causou uma certa desconfiança.
Somente as mulheres nobres poderiam dizer que não sabiam cozinhar. Ela nunca chegou perto de uma cozinha até seus quinze anos e depois, só viveu reclusa e aí é que não aprendeu nada mesmo que uma jovem da sua idade e posição deveria saber.
Decidiu ser descontraída.
-Minha mãe sempre dizia que era melhor a cozinha ficar longe de mim, milorde. Meu tempero não é bom, mas eu sei fazer outras coisas como arrumar e limpar o chão. Faço isso muito bem.
O rei a olhou de soslaio. Precisava sair para Walden, seus soldados já o esperavam e ele continuava ali, perguntando sobre os ofícios de uma criada.
-Muito bem. Veja suas tarefas diretamente com Bronson. Estão dispensados.
Margery saiu do quarto simplesmente estupefata com o que havia acontecido!
Ele não a maltratou nem a feriu com bofetadas ou chicotadas. Simplesmente agiu como se todas as ofensas que ela lhe fez não tivessem a mínima importância.
Se bem, que sua atitude era perdoável, pois ela não o conhecia e o encontrou de madrugada num corredor escuro...
Não! Era imperdoável! Deveria ter agido com mais calma e inteligência. E se ele fosse um nobre? Ou mesmo um cavaleiro do rei?
Surpresa e intrigada, Margery caminhou com Bronson para receber suas tarefas do dia.
...
Assim que todos saíram, Theo colocou seu manto e sua espada na bainha. Ficou olhando para a cama desarrumada com as marcas do corpo de Dionisia.
Ele se aproximou da cama e viu em cima do travesseiro um fio de cabelo ruivo. Ele deu um meio sorriso parado mesmo. E sem se dar conta do que fazia, cheirou o lençol que a havia coberto a noite toda.
Um cheiro fresco, simples e delicioso!
Ele largou o lençol como se ele o queimasse.
-Esqueça isso homem! Veja o que aconteceu com Derek por se relacionar com uma criada!
Ele próprio havia sido contra aquela relação, porque achava inacreditável que pudesse haver uma paixão tão intensa e luxuriosa entre um homem e uma mulher.
Seu corpo lhe dizia que sim.
Mas sua cabeça, lhe dizia veementemente que não!

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