Capitulo 38: É o fim.

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Calado, Theo tentava assimilar tudo o que ouvia. Ele estava desconfiado que possivelmente, ela estava lhe  declarando  sobre seu amor, porque julgava que ele não se lembrava de nada.
Mas... ao mesmo tempo, ela havia dito toda  a verdade com relação a outras coisas que havia vivido.
Será que o amor de Margery por ele era verdadeiro? Será que deveria acreditar nas palavras dessa mulher? Tudo fazia sentido no que Margery  lhe falava. Com um pouco de raiva de si mesmo, pensou que talvez, até mesmo ele agiria da forma como ela agiu. Era aceitável que ela fizesse um plano para ceifar sua vida. Ele era um obstáculo. E obstáculos existem para serem exterminados.
-Não pensou em vir até mim, se apresentar e propor um acordo?
Margery abaixou os olhos.
-Não milorde.
Theo se aproximou dela e sentiu seu cheiro fresco e adorável.
-E porque?
Margery levantou os olhos e o olhou frente a frente.
-Porque nunca me deram a oportunidade de negociar na minha vida. Meu pai e minha mãe me garantiram que eu escolheria meu marido. E na primeira oportunidade, meu pai me traiu e me negociou sem pensar duas vezes. Malaki, esse porco desgraçado, nunca sequer me deu importância, como poderia negociar com um homem que só tirou de mim tudo que havia de bom? E na prisão, não há conversas, meu rei. Então porque acha que eu pensaria em negociar com um rei desconhecido? Com  fama de perigoso e cruel? Um rei conhecido por ser linha-dura com seu inimigos? Não, milorde. Eu não tinha outra escolha a não ser fazer o que fiz.
Theo suspirou. Havia verdade ali. Novamente pensou que talvez, ele fizesse o mesmo. E no caso dela, uma mulher com tantas cicatrizes, o que poderia fazer?
-E a gravidez?
Margery passou a mão pelo ventre e deu um pequeno sorriso.
-Carregar o seu filho foi o presente mais inesperado nessa história toda. Milorde estava... estava... irascível e com uma posição determinada a me condenar. Eu sabia do amor de milorde pela princesa Aysha e sabia que isso dificultava toda a situação aflitiva em que nos encontrávamos. Eu... eu.. não sabia como dizer a milorde que estava carregando um filho seu. Tive medo, na verdade, pavor do que aconteceria comigo e com meu filho. Sei que não há explicações dignas, mas é tudo tão simples para mim. Tive medo. Tive medo, milorde. Um medo terrível que me fez omitir essa dádiva maravilhosa que é carregar um filho nosso.
Emocionado, Theo virou as costas paralela. Estava difícil se conter. Estava difícil não lhe revelar sobre tudo o que sentia por ela.
-A mentira é mais fácil não é milady?
O coração de Margery se apertou.
-A mentira muita vezes salva uma vida. Não tenho outra palavra a não  ser lhe pedir perdão milorde. E me colocar à disposição para que vossa Majestade faça comigo o que achar que é justo. Exílio ou morte.  Não me interessa mais viver.
Theo a olhou perplexo.
-Nunca mais fale isso! Como ousa dizer isso quando está cultivando uma vida dentro de si? Está renegando nosso filho?
Margery  estava  entre lágrimas.
-Eu nunca faria isso! Nosso filho é o que me faz acordar todos os dias pela manhã! Apenas não quero mais viver nesse purgatório, onde sou julgada culpada todos os dias da minha vida! Estou cansada de tudo milorde... estou simplesmente cansada. E, se tomar a sua decisão em relação a mim, eu aceitarei.
Theo pegou Margery pelos ombros e  a olhou fixamente nos olhos.
-Aceitará como aceitou tudo? A decisão de seu pai? O exílio de Malaki, o abuso dos soldados? Aceitará tudo como uma  menina assustada, ou se rebelará como fez? Juntando-se a um grupo de mercenários, caçando seus algozes e tendo a ousadia de conspirar um plano para  matar um rei?
Margery limpou as lágrimas e olhou os olhos cinzas do marido que estavam escuros, enevoados de angústia e.. e... paixão?
-Quem é você Margery?
A rainha se encolheu. Estava sentindo uma força  estranha tomar conta do seu corpo.
-Sou tudo isso milorde. Sou a mistura de tudo isso. Mas não posso mais suportar viver ao seu lado,  e ser repudiada a todo instante. Eu o amo de todo o meu coração, e mesmo que eu demonstre isso todos os dias, sinto que nunca me amará como ama a princesa Aysha. Não suporto mais sofrer! Não suporto mais tanta dor! O calvário é para os santos, e eu não sou uma santa milorde.
De repente as mãos de Theo que apertavam seus ombros, começou a deslizar pelos seus braços em movimentos lentos e carinhosos.
Margery fechou os olhos. Não queria a piedade dele!
-Bem sei que não é numa santa,  milady.
Margery abriu os olhos e viu o sorriso do marido. Largo, com todos os dentes perfeitos que transformavam seu rosto sério e austero em uma grande beleza para se admirar.
-Não sei porque sofreu sobre Aysha. Ela foi um amor de criança. Um amor nunca revelado e tampouco concretizado. Você ouviu o final da conversa entre duas pessoas que se amam sim, mas como irmãos. Eu não amo Aysha como amo você, milady.
Margery precisava se sentar pois sentiu que ia desmaiar. Nunca em toda a sua vida pensou em ouvir aquelas palavras da boca do rei.
-Eu a amo desde que a vi pela primeira vez, e achei que minhas atitudes lhe mostravam isso. Mas não. Acho que precisa de palavras. Eu a amo Margery. E a maior dor que senti, a despeito de todas as dores que carrego, a sua mentira foi a pior de todas. Eu apaixonado,  e você querendo tirar minha vida. Como acha que me senti?
Margery estava extasiada. Seu coração estava livre e pleno. Livre de toda a dor e amargura que carregava durante toda a sua  vida e pleno de amor e de expectativa.
-Acho que nós dois não  fomos verdadeiros um com outro por causa de tudo o que passamos nas nossas vidas. A dor catapulta a felicidade. Faz com que não nos sintamos dignos de merecer o melhor, mas eu quero lhe fazer feliz Theo. Quero viver a plenitude de te amar e ser amada por você.
Imóvel, Theo continuava olhando para a mulher a sua frente. O acervo das suas dores o impedia de fazer seja lá o que fosse naquele momento. Sentindo que o marido estava retraído, Margery levantou a mão para toca-lo e  parou  repentinamente.
-Posso tocar em você?
Theo fechou os olhos e assentiu. Era tudo o que ele queria na sua vida.
Ela então desenhou seu rosto com as mãos bem devagar. Sentiu com as pontas dos dedos, que as lágrimas desciam dos seus olhos fechados. Como o amava! Queria poder curar as suas dores, mas as dela também eram grandes. Os dois eram sobreviventes e ela faria de tudo para que tivesse ao seu alcance para terem  uma vida boa é longa ao lado da família que estavam começando.
-Eu o amo.
Theo abriu os olhos e ela estava bem próxima. Ele então a abraçou com sofreguidão. Tudo o que mais queria era estar ali com ela, dentro do seu abraço. Construir um pequeno mundo íntimo onde todas as dores do passado estivessem mortas e enterradas. Não ia mais lutar contra o que sentia por ela, sobre o que sonhava para os dois. Precisava dela e de seu amor. Precisava dela para ser o homem que era e suspirando ele sussurrou:
-Eu a amo mais.
Quando Lorde Joran bateu na porta do quarto e ninguém atendeu, ele empunhou sua espada e abriu a porta. E então ele viu o rei e a rainha juntos, unidos  num terno e carinhoso abraço. Os dois estavam tão envolvidos um com outro que mal viram o conselheiro abrir e fechar a porta com um sorriso de satisfação nos lábios.

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