Capítulo 20: A passagem Secreta

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Margery estava se sentindo bem naqueles dias. As semanas tinham lhe dado um vigor que ela achava que não conseguiria ter mais. Aproveitando  o dia de sol morno, ela decidiu ir colher maçãs, já que por ordem do rei, ela estava afastada dos serviços mais pesados que fazia antes do seu adoecimento.
Bronson a procurava por toda parte e a achou no pomar.
-Precisamos conversar majestade.
Margery olhou para os lados preocupada, atenta se alguém pudesse escutar o mordomo chamá-la daquela forma
-Por favor Bronson! Esqueça isso! Não deve me chamar assim. Se alguém escutar estaremos perdidos!
Bronson se sentiu desconfortável por toda aquela situação que parecia não ter fim.
-Perdoe-me... Diot. Precisamos conversar sobre seus planos. Não é possível que depois de tudo que o rei fez por..vos... por você.. ainda tenha em mente fazer algo contra a vida dele.
Margery continuou olhando as maçãs atentamente e colhendo as mais maduras. 
-Não posso te responder a essa pergunta Bronson. De uma certa maneira, ele foi o responsável pelo que passei nos últimos dias.
Por enquanto, mantenho o que planejei.
Bronson sentiu-se triste com aquela resposta de Margery.
-Não percebe que está agindo errado? Ele não foi o responsável pelo que você passou. As pessoas envolvidas no seu sofrimento de uma vida inteira, estão mortos! O rei Theobald tomou o trono, porque a balbúrdia imperava em Brugnaro e poderia comprometer o reino de Walden.
Margery ficou  indignada com as palavras de Bronson.
-Então está me dizendo que concorda com o rei  bastardo? Acha que ele está certo?
O mordomo a encarou com seriedade.
-Ele fez o que tinha que fazer. E insisto. Ele não teve nada a ver com o que lhe aconteceu no passado.
Margery o olhou com raiva nos olhos.
-Não acredito que estou ouvindo isso de você.
Bronson a mediu com o olhar.
-Pois acredite! A pior coisa que um ser humano pode ser é ingrato milady. E o rei esteve em sua cabeceira todos esses dias. Colocou a sua fortuna a disposição para que tivesse o melhor tratamento. Milady está acomodada no seu antigo quarto, quando ja poderia ter voltado a ala dos criados, mas não! O rei a quer instalada confortavelmente...
Margery não queria ouvir nada daquilo. Ela ia tomar o seu trono, custasse o que custasse.
-Ele teve culpa. Por isso fez o que fez.
Bronson a olhou tristemente. A rainha apesar de todo sofrimento vivido ainda tinha a personalidade rebelde e queria tudo a seu modo. Foi assim desde criança. E ainda era.
-O pior cego é aquele que não quer ver milady.
Deixando-a sozinha, Bronson caminhou lentamente até o castelo, e Margery ficou parada olhando a sua volta, pensando se o mordomo estava certo.

...,
Já era noite, quando Margery decidiu que iria entrar no esconderijo secreto que daria no quarto do rei.
Já se sentia forte o suficiente para poder iniciar de novo seu plano e acabar logo com aquilo.
Ao mover uma alavanca que ficava atrás da lareira, ela entrou num cubículo que era formado por um corredor escuro e apertado.
Com uma vela acesa nas mãos, ela caminhou sentindo uma opressão no corpo.
Ali era abafado e escuro! Sentiu uma tonteira e encostou-se na parede.
-Oh meu deus! Não estou sentindo o ar!
Margery apressou os passos. Se passasse mal ali, ninguém nunca iria achá-la. Precisava se apressar para chegar até a outra alavanca que a faria entrar no quarto do rei.
Ele estava fora. Havia visto ele sair pela manhã e tomou conta do seu retorno, que ainda não havia acontecido. Então o quarto estaria vazio e ela poderia surpreendê-lo e atacá-lo quando ele estivesse dormindo.
Ao pensar nisso, o coração de Margery doeu.
Os olhos cinzas tristes, voltou a sua mente. Ele era tão bonito e aquela tristeza que ele carregava era tão espessa que poderia corta-lá com um punhal.
Seu corpo se aqueceu ao lembrar do toque do seu beijo. Ela nunca havia beijado antes. Foi a sua primeira vez, e toda noite ela se lembrava da maciez da sua boca, da sua língua quente a invadindo, de suas mãos grandes acariciando seus pequenos seios...
-Oh! Nãoooo! Não posso pensar nisso!!!  Não posso!
Margery moveu a portinhola e ela não queria abrir. Decidiu empurrar com ombros até que finalmente a porta cedeu e ela caiu dentro do quarto do rei, finalmente!
Porém ao olhar para cima, lá estava Theo. Ele estava sem camisa usando somente a calça de cota e as botas de montaria.
Ele empunhava a espada e tinha nos olhos uma expressão quase selvagem. Quando viu que era Diot, ele largou a espada e correu par ajudá-la a se levantar.
Margery se levantou limpando as teias de aranha que estavam agarradas em seu vestido.
Disfarçava pensando qual seria a boa mentira que contaria para estar ali no quarto de sua majestade.
Theo olhou para dentro do esconderijo secreto, bastante surpreso.
-Onde vai dar isso?
Margery falou com uma voz suave, procurando demonstrar-se  surpresa também.
-Oh! Eu estava admirando o quarto da princesa e de repente, descobri essa passagem e olha onde bom parar. Me perdoe majestade, não tive  a intenção de incomoda-lo
Theo continuava olhando intrigado a passagem, observando todos  os pormenores da engenhoca.
-Ninguém havia me falado sobre essa passagem secreta. Você está bem? Não ficou com medo do que ia encontrar no fim desse lugar?
Margery sentiu o rosto enrubescer.
-Claro milorde! Mas a curiosidade foi maior e por isso continuei.
Theo fechou a porta.
-Amanhã mandarei saber se existem mais dessas passagens. Isso pode ser um risco para a segurança do castelo.
Margery olhou a sua volta. Queria tirar os olhos de cima do torso nu do rei. Ele era magro, mas era forte e musculoso. Seu corpo tinha muitas cicatrizes, de vários tamanhos e formatos.
Ele estava com os longos cabelos presos e enquanto ia acendendo as velas nos candelabros, ela fingia olhar um quadro pendurado na parede.
-Não conheço esse lugar. É bonito.
Theo acabou de acender as velas e se encostou na parede olhando-a. Parecia incrível que ela estivesse ali em seu quarto. Uma situação que ele imaginou dias e noites a fio.
-É Walden.
De costas para ele, Margery respirava com dificuldade. O rei a a deixava desconfortável. A atração que sentia por ele era imensa. Margery  sentia que havia uma ligação forte entre os dois e ela só queria ir embora dali. O mais rápido que pudesse.
-Muito bonito milorde. Acho que vou para meu quarto. Mas vou sair pela porta, senhor.
Theo não se mexeu. Ele simplesmente sussurrou:
-Fique.
Margery estava próxima a porta. Um passo e  ela estaria fora dali, longe daquele encanto que Theo tinha sobre ela.
-Fique comigo esta noite.
Margery suspirou pesadamente e o olhou. Ele se aproximou lentamente e a tocou no rosto carinhosamente.
-Preciso de você. Fique comigo por favor.
Margery olhou seus olhos cinzas. Havia uma solidão tão profunda, e  ela  não resistiu. Ela também precisava dele! Precisava dele com todas as forças do seu coração!

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