Capítulo 18: A chegada de Felicia

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Quando Felicia recebeu a mensagem de Derek, ela imediatamente arrumou sua bagagem e sua maleta com ervas e seu elixir. Ela não sabia quem era o paciente, pois nem Derek sabia ao certo, mas para ela não importava. Ela iria ajudar Theobald, no que ele precisasse.
Antes de sair de Craig, foi até o quarto de Roshlyn que estava ocupada bordando as últimas peças para o nascimento do bebê que em poucas semanas iria nascer.
Quando a viu chegar Roshlyn abriu um sorriso. Sua cunhada, a rainha de Craig estava cada vez mais feliz com a gravidez e ela e Derek viviam um casamento dos sonhos.
Nunca pensou que iria ver o irmão tão dedicado quanto ele estava agora com sua esposa e com todos do reino. Er muito bom presenciar  tempos felizes em Craig.
-Olhe Felicia! Olhe esse bordado que Bozena fez! Não é lindo?
Felicia assentiu e quando Roshlyn notou que ela estava com a capa de viagem, colocou a mão no ventre avantajado pela gravidez:
-Onde vai Felicia? Vai viajar?
Felicia levou a cunhada até a cama onde sentou-se com ela, apertando-lhe as mãos.
-Fui chamada com urgência em Brugnaro, por Theobald. Algo de muito grave deve estar acontecendo, pois ele nunca fez isso antes.
Roshlyn apertou os lábios preocupada.
-Ele não falou o que era? Será que está adoentado?
Felicia franziu o cenho.
-Não sei o que me aguarda milady. Só vou saber, quando chegar em Brugnaro.
-Deus a leve minha querida menina e a traga de volta para o parto de seu sobrinho.
Felicia a beijou no rosto.
-Estarei aqui minha irmã. Pode ter certeza disso!

...

Theo aguardava Felicia e quase correu ao seu encontro quando viu a bandeira de Craig apontar no início da estrada que levava ao castelo.
Felicia chegou a cavalo juntamente com uma bandeira de aproximadamente cem homens. Havia  algum tempo que Derek havia aumentado a segurança de sua família, pois sempre havia um malfeitor a espreita, e no caso específico da família real, havia um homem sendo procurado pelo sequestro da Rainha Roshlyn.
Theo a ajudou a desmontar do cavalo e beijou seu rosto.
-Seja bem vinda alteza. Estava esperando sua vinda com ansiedade. Deseja descansar? Comer algo?
Felicia negou com a cabeça.
-Não milorde. Vamos aos fatos,imediatamente.
Theo a acompanhou até o quarto da rainha Margery.
A jovem estava acompanhada de duas criadas que Theo dispensou rapidamente.
-Essa é Diot. Uma das criadas do castelo. A prendi na masmorra por cinco dias quando fomos informados do seu estado de saúde. Alesander cuidou dela até onde foi possível, mas ela simplesmente não acorda.
Felici o ouvia atentamente ao mesmo tempo em que tirava a sua capa de viagem. Ela então aproximou-se da cama e sentou-se na beirada, abrindo os olhos de Diot, tocando sua testa para ver se estava febril e escutando seu coração com o ouvido.
-Há quantos dias está assim?
Theo se aproximou e a olhou preocupado.
-Há mais de dez dias.
Felicia levantou-se e abriu sua maleta.
-Por favor milorde, abra as janelas para entrar ar fresco. Dê- me também um lençol limpo e roupas limpas, por favor.
A princípio Theo não sabia muito bem o de achar aquelas coisas todas, mas foi abrindo os baús e pegando os objetos solicitados por Felicia.
-Peça na cozinha que faça uma sopa de legumes com caldo grosso e bem fervido. Ah! Peça também que toda água servida a ela, seja fervida em fogo alto.
Theo correu para a porta e chamou um guarda dando a ele as instruções de Felicia.
-Descobri nos meus estudos que a limpeza contribui bastante para uma boa saúde. A luz do sol também parece ser importante. Então a partir de amanhã, colocaremos ela para tomar sol por poucos minutos, todos os dias.
Theo a escutava atentamente.
-Ajude-me aqui, milorde. Segure-a um minuto.
Theo com todo cuidado a pegou no colo enquanto Felicia forrava a cama de pelos com um lençol de linho macio e bem limpo.
-Traga-a aqui. Vamos trocar essa roupa por uma outra, limpa.
Theo deitou o corpo frágil de Diot na cama. Ela pesava tão pouco, estava tão debilitada que Theo ficou  profundamente comovido.
Ao iniciarem a troca de roupa de Diot, Theo e Felicia perceberam que o corpo da criada era cheio de cicatrizes. Cicatrizes de todos os tipos; desde grilhetas e grilhões até marcas de queimadura.
Felicia olhou para Theo assustada com o que via. Em seus olhos,  uma só pergunta.
Theo não conseguia tirar os olhos do corpo marcado de Diot.
-Não fui eu que mandei fazer isso.
Felicia suspirou. Por um minuto, pensou que Theobald poderia ter ferido aquela jovem daquela maneira tão horrível.
-Pobrezinha.
Theo estava profundamente horrorizado com o que viu.
-Eu a mandei para a masmorra, sem saber que... isso havia acontecido com ela.
Fabrícia levantou a cabeça de Diot e lhe deu um gole de seu elixir.
-Vou cuidar dela com o meu elixir, mas o que temos aqui milorde, não é  uma doença do corpo. É uma doença da alma.
Theo olhou para Diot. O que ela escondia? Qual era o segredo que ela possuía? E quem foi o maldito que fez isso com ela?
Sentindo uma raiva fora do comum, ele se prometeu que haveria de encontrar cada pessoa que a machucou daquela forma.
-Quem você acha que pode ter feito isso? Perguntou Felicia, trançando os longos cabelos de Margery.
Theo tinha o rosto duro como uma rocha.
-Não sei, mas vou descobrir. Pode ser um maldito nobre em algum castelo, soldados, mercenários, um explorador de escravos... seja quem for eu vou descobrir!
Felicia assentiu. Olhou para Margery e falou suavemente com Diot, enquanto acariciava seus cabelos .
-Quero que saiba que está em segurança agora. Pode acordar sem medo, que você está sendo cuidada por pessoas boas, que querem seu o bem.
Theo olhou a cena, comovido.
-Você acha que ela vai acordar um dia?
Felicia sorriu.
-O coração dela está batendo e não podemos velar um corpo vivo. Tenho certeza que ela vai acordar sim! Tenha fé, milorde.
...
Durante os   dias que Felicia estava no castelo, ela seguiu uma rotina rigorosa de saúde para Diot:  higiene diária, banhos de sol, ventilação, alimentação reforçada com caldos de ervas selecionadas, e cuidados médicos alternados entre ela e Alesander, que anotava em papiros todas as recomendações da jovem Felicia.
A jovem também passava o tempo todo conversando com Diot, e sempre lhe falava sobre o que estava fazendo, o que ele estava comendo, como se ela estivesse acordada.
Depois de três dias, começaram a perceber que ela mexeu as mãos e começou a balançar a cabeça de um lado para o outro e a sussurrar:
-Não... não... não...
Theo que estava no quarto nesse momento ficou estarrecido com o que via.
Felicia enxugou a mão no avental e tocou o braço de Theo.
-Fale com ela, milorde.
O rei não sabia o que falar. Estava comovido ao vê-la reagir, depois de tantos dias sem ela dar  sinais de vida. A culpa de tê-la levado  àquela situação o estava deixando consternado e o fez entrar num estado de medo e confusão.
-O que falo com ela?
Felicia sorriu.
-O que seu coração mandar.
Lentamente, Theo se aproximou da cama e Diot estava  claramente em aflição. Era como se ela quisesse acordar, mas algo a impedia. Com o coração aos pulos, ele se ajoelhou ao seu lado e pegou suas mãos.
-Você está segura entre nós. Lhe prometo que nunca mais farei isso com você. Volte... Volte para nós... ficará bem...pode acreditar em mim.
Então Margery se acalmou e Theo sentiu que ela apertou a sua mão.
Devagar, ele passou a mão por seus cabelos.
-Lhe prometo que ficará segura. Ninguém nunca mais vai ferir você...
Margery então, sentiu um beijo em suas mãos. Era doce e forte. Aquela voz lhe transmitia força e verdade. Será que ela podia acreditar que estaria segura?
Será que ninguém nunca mais a machucaria? Será que não precisava mais ficar naquele mundo de sombras e dor?
Aquela voz  firme guiava de volta pra vida, e ela queria mais do que nunca acreditar que nunca mais sofreria maus tratos, que nunca mais encontraria quem a fez sofrer tanto.
Seu corpo podia estar curado, mas as dores que carregava eram profundas e ela não queria mais viver se esforçando para esquecê-las.
Mas nas sombras, ela vivia recordando o passado, num ciclo de dor interminável.
-Coragem... coragem... acredite... volte a vida... volte... preciso confiar... essa voz tem verdade... quero acreditar... sim... eu vou acreditar...
Então Margery  foi abrindo  os olhos lentamente. Estava no seu antigo quarto e ela sentiu o conforto da familiaridade. Era tão bom estar no seu quarto! Na sua cama! No seu mundo!
Virando o rosto ela viu uma figura grande ao seu lado. Era um homem ajoelhado  com  o semblante e olhos cinzas tristes e preocupados.
Margery reconheceu seu algoz, mas mesmo assim, sentiu uma alegria verdadeira ao vê-lo ali ao seu lado.
O homem lhe deu um meio sorriso e falou:
-Bem vinda a vida, Diot.

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