Capitulo 6: A noite é perigosa

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Theo estava cansado de  sua longa viagem  de retorno de Craig. Estava cansado fisicamente e mentalmente. Agora, que os barcos estavam prontos para iniciar suas jornadas, ele iria ficar mais tempo em Walden para não deixar seu trono por tanto tempo sozinho. A instabilidade dos dois reinos era constante e ele também estava se cansando disso. Talvez tomar Brugnaro não tenha sido uma boa ideia. Reinar em dois reinos com tantos conflitos e intrigas estavam minando com todas as suas forças.
Antes de chegar em Walden, decidiu parar por alguns dias em Brugnaro. Precisava ver com Joran, como as coisas estavam se saindo e se havia algum motivo de preocupação como insurreição ou motim sendo planejado.
Suspirando, ele apeou de seu cavalo e deu uma olhada geral para ver se a segurança estava em seus lugares e acordados como  deveriam estar.
A madrugada estava fria e ele fechou seu manto de peles, caminhando de volta ao castelo. Sua mente vagueava entre o que deveria fazer e o que tinha visto em Craig. A felicidade de seus amigos estava o deixando incomodado. Não pelo fato da felicidade deles em si. Mas por ele estar se sentindo muito solitário ultimamente, a felicidade ao lado de uma outra pessoa parecia impossível para ele.
Havia aquele sentimento por Aysha que estava deixando-o desassossegado.
Havia muitos anos que nutria um amor platônico por ela. O tempo que passou em Craig  quando era um jovenzinho, fez nascer esse sentimento pela bela irmã mais velha de Derek. Ele nutriu esse amor por muitos anos, e quando soube de seu casamento com um barão muito importante, ele sabia que nunca haveria chances para ele. Por mais que o rei Zefferin tenha o acolhido e lhe tornado um guerreiro, ele acreditava que nunca  daria a mão de  sua filha para um bastardo. Ter passado esse tempo novamente em Craig, o fez relembrar do quanto amava e vê-la constantemente, não fazia esse sentimento abrandar.
Sem alarde, Theo entrou no castelo. Já era muito tarde, e não havia ninguém para servi-lo com alguma coisa quente para comer. Ele não havia avisado ninguém de sua chegada e quando virava um dos corredores, encontrou Ette, se arrumando e colocando ao mesmo tempo uma touca que ela sempre usava. Ao  ficar frente a frente com o  rei, ela fez uma reverência e  sem pensar, disse desculpando-se:
-Vossa majestade, Lorde Joran, acabou de me acordar. Vou servir algo quente para milorde.
Theo suspirou. Estava cansado. Os criados de Brugnaro não tinham muita interação com ele, possivelmente, achavam que ele era um usurpador.
-Se importa de me servir algo na cozinha mesmo?
A velha cozinheira o olhou sobressaltada. Nunca um rei havia  lhe falado diretamente. O único havia sido justamente o rei bastardo.
Surpresa e sentindo um certo orgulho deste fato, ela respondeu:
-Certamente vossa majestade, estou aqui para servi-lo.
A cozinheira então caminhou na frente do rei, como se ela fosse uma imperatriz orgulhosa  de seu reino.
Theo achou atitude da cozinheira incomum e divertida. Não iria de maneira nenhuma brigar com a pessoa que o alimentaria de madrugada.
Etthe ligeiramente  colocou um molho numa carne  e também esquentou pães e e legumes para o rei.
Ele comeu a deliciosa comida silenciosamente enquanto a cozinheira ficou em pé ao seu lado.
-Se quiser se recolher, ficarei bem.
Ethhe sorriu e muito solicita recusou a oferta do rei. Imagina se ia perder a oportunidade de estar ali sozinha com o soberano. Ele era gentil, educado e muito bonito,  falando a verdade, depois daquela noite, ela não se importaria se ele era um bastardo.Ele era um homem bom. Podia ver isso nele.
Quando Theo acabou de comer, ele levantou-se e olhou para a belga criada.
-Devo lhe agradecer pela comida, Ethhe não é mesmo?
A cozinheira não acreditou! O rei sabia-se nome!
Com a mão no peito apenas assentiu com a cabeça.
Theo notou a emoção da velha criada. Quem sabe não havia conquistado seu primeiro coração em Brugnaro?
-Vou me retirar. Boa noite.
Quando ia saindo ouviu a cozinheira responder.
-Durma bem, meu rei.
Ao ouvir essa simples resposta, Theo sentiu-se bem e sorriu.
...
Margery caminhava pelos corredores escuros com uma vela acesa nas mãos. Esperou todo mundo  ir dormir e foi até o seu antigo quarto, pois ter o acesso a ele,  seria primordial como parte de seus  planos para o rei.
Infelizmente, a porta estava fechada com um pesado cadeado, dificultando assim que ela pudesse ver as condições de uma passagem secreta que havia ali.
Ao virar no corredor que daria no quarto dos criados, ela esbarrou num peito forte e musculoso.
Ah não! Será que encontraria com aquele soldão inconveniente novamente? Seu nome era Harled e ele vinha fazendo tentativas de aproximação que já estavam deixando ela exasperada. Não queria conversas com homens do rei bastando! Aliás não queria conversa com homem nenhum!
Os braços que a seguravam não faziam força, apenas a abraçaram para que ela não caísse.  O homem a sua frente era grande e corpulento e ela levantou a vela para poder olhar quem era aquela pessoa que andava pelos corredores às escuras, aquela hora da madrugada.
-Cuidado para não cair...
Margery olhou para o homem e viu que seus olhos eram estranhamente cinzentos. Ele tinha a barba por fazer, e em cima do seu olho  esquerdo tinha uma cicatriz ainda avermelhada, demonstrando que ele havia sido ferido a pouco tempo. Mais um soldado em seu caminho! Teria que se livrar dele!
-Tire suas mãos imundas de cima de mim! Não existem mulheres de tabernas para que possam dormir com elas?
Theo se assustou com aquela jovem raivosa. Quem era ela? Sua beleza era tão especial que com certeza, se já a tivesse visto , nunca mais a esqueceria.
-O... O que está falando?
Margery estava sem paciência. Ele era um homem  muito belo e sua voz era absurdamente bonita e lhe deu um arrepio estanho na pele.
Mas não podia perder tempo com namoros com soldados. Tinha que manter seu foco, apesar desse soldado ser um homem muito... muito... atraente.
-Isso mesmo que você ouviu! Tire suas mãos de cima de mim! Agora!
Foi então que Theo percebeu que seus braços ainda estavam rodeando ela. Sua cintura era  bem modelada e ela cabia perfeitamente em seus braços. A jovem era pequena e sua pele era macia demais!  Ela não devia conhecê-lo e certamente o estava confundindo com um de seus homens.
Sem soltá-la, ele olhou dentro de seus olhos grande e verdes em um tom muito escuro.
-Quem é você?  O que faz aqui?
Margery não conseguia sair daquele abraço. Ela estava fortemente atraída por aquele homem , e isso nunca havia conhecido  em toda a sua vida.  Essa atração que está sentindo era inédita. O cheiro dele a estava deixando inebriada. Ela sentia seu hálito quente bem próximo e...
-Aí...
Ele a soltou imediatamente.
-Olha o que você fez! A maldita vê-la queimou meu dedo.
Theo a olhava impressionado. Ela tinha a boca suja. Sem querer,  ele sorriu.
-Olha você! Rindo de mim! Isso não é nada gentil de sua parte!
Theo a olhou fixamente.
-Quem é você?
Margery estava ocupada em trocar a vela de mão.
-Quem se importa com isso?
Theo então pegou a vela das  mãos dela,  e tocou seus dedos suavemente.
-Eu. Eu me importo.
Margery o olhou novamente dessa vez, observando os detalhes daquele homem. Sua armadura era polida e seu manto de peles era de  ótima qualidade. Notou então a espada ao lado do seu corpo e ela viu que ela era uma arma de um cavaleiro. Subiu seus olhos novamente até os olhos cinzentos. Uma sombra de dúvida, turvou seus olhos.
-Quem quer saber?
Theo não desgrudou os olhos dela.
-Theobald, o rei de Walden e Brugnaro.

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