Capítulo 5: Diot

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Havia um mês que Margery havia deixado o grupo de Svern e seguido para Brugnaro. Ao longo do caminho, se disfarçou de camponesa e seguia pela floresta para ficar o mais longe possível das estradas movimentadas por carros de bois , cavaleiros e pessoas que iam e viam entre os reinos.
A conversa geral que mais ouvia quando dormia nas vilas era que o rei de Craig, Derek, havia-se casado coma princesa de Havema e estavam esperando a chegada do herdeiro. Era de Craig também que vinha outras notícias. Os três reis haviam se juntado e estavam iniciando um negócio com barcos. Margery ficou pensativa com o tamanho dessa empreitada que estava sendo realizada pelos três reinos. Aquilo era uma coisa incomum, pois nobres e reis não costumavam fazer esses tipo de empreendimento. Mas ouvia-se falar que possivelmente, os reis iriam iniciar viagens ao oriente para fazer comércio.
Margery ouvia tudo com atenção, pois quanto mais informações tivesse, melhor seria para saber quais seriam seus próximos passos.
Depois de longos dias de caminhada, Margery chegou a Brugnaro. Pela floresta, ela alcançou o cume de um monte, de onde tinha uma visão privilegiada do reino, onde as pessoas viviam as duas duras vidas diárias.
Durante aqueles dias Margery cansou de ouvir reclamações, as pessoas só sabia falar de tristeza e desespero. Ela começava a se inteirar naquela interação com o povo, como eles pensavam e o que sentiam.
Mas Margery estava cansada. Foram longas semanas, caminhando, pois não podia aparecer em Brugnaro em cima de um cavalo, pois uma simples camponesa, não teria condições de ter um animal, e isso certamente chamaria a atenção sobre ela. Estava muito cansada e precisava descansar um pouco, antes de iniciar  o seu plano de acabar com a vida do rei de Brugnaro e tomar o seu lugar de direito.
Já tinha as linhas gerais do seu plano, mas nesse momento precisava descansar.
Seu objetivo era chegar até a vila  do castelo e conseguir de alguma forma acesso a ele.
Colocou sua capa com capuz para disfarçar seus cabelos ruivos, mas duvidava que alguém ali se lembrasse da jovem princesa Margery. A reclusão e o exílio levaram seis longos anos e duvidava que existia alguém ali que ainda se lembrasse dela.
Chegando ao portão  do castelo de Brugnaro, percebeu que a bandeira não estava hasteada,  o que significava que o rei não estava no castelo. Não sabia se aquela era uma notícia boa ou ruim.
Sentou-se no chão, encostada na parede. Não podia mais gastar as moedas que carregava no seu alforje. Svern tinha sido generoso lhe doando várias moedas de prata, mas elas estavam acabando, e ela precisava com urgência conseguir um meio de entrar no castelo.
Quando a noite chegou, a barriga de Margery fez barulhos. Estava faminta, pois havia duas que não fazia uma refeição decente.
Devagar, Margery caminhou ao lado do castelo, profundo investigar a segurança e quais torres eram de observação e tinham sentinelas. Caminhava devagar procurando fazer o mínimo de barulho possível, quando esbarrou num peito forte e cambaleou fazendo com que seu capuz deixasse seus longos cabelos ruivos a mostra.
O soldado sentinela a olhou admirando a beleza da jovem camponesa.
- Ora, ora ora, o que faz aqui sozinha, belezinha?
Margery olhou para o soldado e sua primeira reação foi de ataque. Mas num átimo pensou que se pegasse o punhal que tinha na cintura e o ferisse, possivelmente seus planos iriam por água abaixo. Então fingiu uma vulnerabilidade que não sentia.
-Oh senhor.. me desculpe... eu.. eu...
O soldado continuava segurando seus dois braços a olhando-a com olhos perigosos.
-O que faz aqui? Responda!
Sem saber o que iria falar, para que não causasse nenhuma má impressão, ela se calou. Então, viu uma figura conhecida se aproximar. Bronson!
O Velho criado que voltava para o castelo depois de ir pegar uma encomenda na vila, viu de longe os cabelos ruivos muito peculiares. E só havia uma pessoa que ele conhecia que tinha os cabelos com aquela cor.
Rapidamente se aproximou do lugar onde a jovem  estava  com um soldado do reino de Walden.
Surpreso por confirmar que aquela era a rainha Margery, por um segundo, Bronson não sabia o que fazer. Porém os olhos de Margery lhe enviou sinais claros que ele  fosse cauteloso.
-Titio! Sou eu Diot!
Bronson  olhou de um para o outro rapidamente. O soldado afrouxou  a sua mão, sem no entanto soltá-la completamente.
-Di...Diot? É você?
Margery estava aflita e não sabia àquela altura, se o mordomo que havia sido leal a seu pai e que tinha visto ela crescer, a apoiaria naquela estratégia.
-Sim, sou eu mesma titio. Dionisia.
O soldado olhava para o velho mordomo que parecia abalado com a presença da jovem e bela mulher.
Então Bronson se recuperou do choque em que estava.
-Solte-a imediatamente, essa é minha sobrinha Dionisia, filha de meu... de meu... querido...
Margery sabia que o Velho criado não poderia dizer aquelas palavras, então ela completou.
-Irmão. Sou filha do irmão dele.
O soldado sentiu uma tensão diferente naquela conversa, mas como não era natural de Brugnaro, pouco sabia sobre a vida das pessoas dali.
Olhou para Margery a contragosto. Ela era bonita e muito atraente. Sabendo que ela era sobrinha do Velho criado poderia ter alguma chance de aproximação no futuro, e pensando nisso, a soltou.
-Nos vemos em breve, senhora.
Quanto o soldado se afastou, Margery se aproximou do Velho mordomo e pegou suas duas mãos.
- Como é bom revê-lo Bronson. E Muito obrigada por isso.
Quando o Velho ia fazer uma reverência, Margery o impediu.
-Não! Por favor, Bronson. Ninguém pode saber quem sou. Não preciso de reverências, preciso de ajuda para entrar no castelo.
Bronson pareceu aflito e sussurrou:
-Mas.. majestade... precisa informar ao rei de sua presença. Esse é o seu reino!
Margery sabia que isso era uma verdade, mas não era tão simples assim.
-Bronson. Sabe tão bem quanto eu que isso não será possível. Todos pensam que estou morta e há uma verdadeira instabilidade em Brugnaro. Ninguém pode saber quem sou. Apenas me dê acesso ao castelo. Você não precisa saber dos meus planos, pois não quero colocar sua vida em risco.
O Velho mordomo bem sabia que não somente sua vida estaria em risco. Os poucos nobres que haviam permanecido em Brugnaro viviam em constante conflito com o rei e sua corte de cavaleiros.
O ambiente não era bom para a chegada da rainha. Mas ela era a sua soberana e lhe cabia obedecê-la e tentar de alguma forma protegê-la.
Margery se afastou um pouco e olhou para o castelo.
-Ainda existe a ala dos criados?
Bronson assentiu.
-Pode me levar até lá?
O mordomo a olhou assustado.
-A intervenção de Walden é rigorosa, milady. A entrada no castelo e permanência é aprovada somente pelos conselheiros ou pelo próprio rei.
Ha pouquíssimas pessoas na convivência do rei, no castelo. Apenas seus cavaleiros vindos de Walden. Ha pouquíssimas criadas aqui. Apenas as lavadeiras e cozinheiras, os demais são todos cavaleiros oriundos de Walden. Não sei bem como agir nesse caso milady.
Margery o olhou com atenção e com uma dureza desconhecida por ele.
-Esqueça esse negócio de Milady Bronson. Isso pode comprometer o meu disfarce. Sou Diot, sua sobrinha e não se fala mais nisso.
O criado assentiu a contragosto.
-E como faremos?
Bronson  tomou uma decisão arriscada, mas ia seguir com seus compromissos de sua lealdade com a coroa de Brugnaro, e a levou até os fundos do castelo entrando com ela na cozinha, surpreendendo a todos com a presença  da jovem.
-Olha a benção enviada por Deus! Minha sobrinha Diot! Filha do meu... meu... irmão! Veio para ficar com seubVelho tio! Não é uma benção do todo poderoso?
Os criados presentes na cozinha olharam para a jovem, que tinha uma beleza quase sobrenatural.Ela definitivamente não parecia uma criada.
Etthe a cozinheira limpou as mãos no avental e se aproximou da jovem. Seus cabelos eram belíssimos e ela os tocou, olhando para eles com curiosidade. Rodeou Margery observando-a nos mínimos detalhes: a túnica e capa eram de péssima qualidade, estavam sujas e  encardidas, os sapatos de pele de animal estavam gastos e pareciam ter andando muitas léguas, o que sinalizava que ela caminhava a pé. Então pegou as mãos de Margery. Eram  calosas, ásperas e não tinham aspecto de  uma mão de nobre.
Etthe continuou olhando-a com curiosidade.
-Não sabia que você tinha um irmão Bronson.
O mordomo fungou com desprezo.
-Você não sabe nada sobre mim senhora, e nem sou obrigado a lhe contar detalhes sobre minha vida.
Etthe pegou um prato e colocou um pão e um
Pedaço de carne, colocando-o sobre a mesa de pedra da cozinha.
-Sente-se Dionisia e coma algo. Vamos ver se sua gentileza é igual a sua beleza, ou se puxou a falta de educação de seu ... tio... porque graças a Deus, a feiúra você não herdou...
Satisfeita com o prato de comida, Margery sentou-se e comeu como um animal faminto.
A cozinheira e o mordomo a olhavam com preocupação e compaixão.
-Parece que na casa de seu irmão não tinha comida...
Enquanto os outros criados se afastaram para terminar o jantar que seria servido, Bronson se retirou para falar com o Conselheiro Do rei, Joran, rezando para que o bom cavaleiro permitisse que sua "sobrinha" permanecesse no castelo, servindo na cozinha, ou na limpeza dos estábulos.
...
Margery esperava com aflição que o mordomo lhe trouxesse uma boa notícia. O principal já tinha acontecido. As pessoas a viram e não a reconheceram, ela conseguiu comer um prado de comida quente e estava sentada na cozinha do castelo. Os olhos de Etthe não saiam de cima dela. Mas Margery não se lembrava da cozinheira dos seus tempos de criança. Então, se ela não a conhecia, certamente, Etthe, também não a conhecia.
Enquanto esperava, Margery levantou-se. Precisava acertar com Bronson, alguns detalhes da sua história, para que não houvesse nenhuma margem de dúvida entre todos. A criadagem gostava de falar de suas vidas e histórias, e ela tinha que ter fabricar algumas memórias para si mesma.
Então Bronson entrou com o rosto preocupado, a procurando com os olhos.Se aproximou dela e sussurrou:
-Milorde Joran permitiu que vo... que você ajude Ethhe na cozinha.
Margery sorriu. Finalmente! Tinha voltado pra casa! Pra sua casa!



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