Capítulo 14: Uma ordem vil

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Havia dias que Margery estava angustiada. Bronson havia lhe contado em pormenores sobre sua  audiência particular com o rei.
Ambos chegaram à conclusão,  que ele estava levantando suspeitas sobre a morte misteriosa da rainha, mas segundo Bronson, ele não desconfiava dela.
Ainda.
Tudo isso aconteceu depois daquela fatídica noite no corredor.
Ela havia esquecido de trancar a porta do seu antigo quarto e possivelmente ele entrou lá. Mas o que será que ele viu , que o fez ficar tão interessado e curioso  a respeito da sua história?
E como se não lhe bastasse todas essas preocupações, havia outras coisas menores acontecendo. Usher havia sido transferido permanentemente para Walden, nenhum soldado mais poderia ter relacionamento com as criadas, a não ser com o consentimento do rei e não bastando isso tudo, ele mal a olhava.
No outro dia, o rei passou por ela, como se nunca a tivesse visto, como se não a tivesse beijado com paixão e lhe tocado o corpo com ânsia desenfreada. O rei passou por ela, e agiu como se ela fosse invisível! E no fundo, mesmo negando seus sentimentos, isso a estava magoando.
Profundamente.
Margery sentia que sua presença o incomodava quando por ventura, se encontravam no mesmo cômodo, e isso ficou comprovado quando alguns dias atrás,  Bronson lhe informou que ela havia sido terminantemente proibida de cumprir suas tarefas diárias em outras alas do castelo, e que a partir daquele data, seu trabalho estava restrito a cozinha, ou seja lavar pilhas e pilhas de pratos, já que não sabia cozinhar absolutamente nada.
-Fui colocada onde o rei não possa me ver...-Pensou ela com desgosto.
Ette a cozinheira a olhava pelos cantos dos olhos, os outros criados também. A vinda dela para a cozinha significava para todos, que ela desgostado e rei, e ele então, a havia castigado colocando-a ali. No auge de sua cólera,Diot estava irritadiça e um dia, passou  dos limites.
Ette estava na cozinha e viu quando Diot batia os pratos de madeira na bacia, demonstrando seu descontentamento em estar ali.
-Não desconte sua raiva nos pratos! O que você fez para nosso rei jovenzinha, é o motivo que veio parar no fundo da cozinha.
Margery estava com os nervos a flor da pele e aquele comentário foi o suficiente para que sua fúria viesse a tona. Seus planos não avançavam, o tempo estava passando e ela se sentia cada vez mais envolvida pelo homem que ela deveria odiar.
-Eu não fiz nada. Vocês se vendem muito fácil! Ele agora é o rei de vocês? Pois ele nunca será meu rei! Jamais! Ele não passa de um bastardo isso sim!
Margery  estava no fundo do aposento, de frente para a porta de entrada,  e então viu a figura do rei adentrar a cozinha.
Em seus olhos cinzas, ela viu uma mistura de sentimentos: Raiva, incredulidade, sofrimento, dor...
-Oh meu deus! Sua situação só piorava! Como era difícil ser vingativa nesse mundo!
Seu coração se compadeceu com a tristeza que viu nos olhos dele. Ele era um homem bom e justo e aquela altura, ela já não sabia muito bem o que fazer. Não queria continuar mentindo. A mentira era um fardo pesado e ela simplesmente estava cansada. Estava enganando a todos e uma tristeza se abateu sobre ela.
Com os olhos, ela lhe pediu perdão. E obteve a indiferença como resposta.
Ela não  devia ter falado aquilo! Foi tão cruel e desumano. Era responsabilidade dela estar naquele lugar. Ninguém a obrigou a retornar para Brugnaro, ela fez isso por sua legítima vontade. Então não deveria sair despejando suas frustrações nos outros. Envergonhada ela abaixou os olhos e disse baixinho:
-Eu não  pretendia dizer isso milorde. Eu realmente sinto muito pelas minhas palavras.
Theo a olhava e sua face era uma máscara fria e pesada. Os outros criados estavam com os olhos esbugalhados e todos aparentavam uma verdadeira comoção pelo acontecido. Inclusive Etthe, que mesmo tendo uma certa implicância com a jovem, estava preocupada com o que iria acontecer com a jovem criada.
-Guardas!
Margery ficou paralisada. Isso realmente estava acontecendo? O que ele iria fazer?
-Não! Não.
Sem pensar, Margery se jogou aos pés do rei.
-Por favor milorde, eu clamo a vossa majestade, não me prenda por favor, eu peço clemência milorde, eu lhe peço seu perdão pelas minhas palavras... mas não me prenda por favor.... Eu lhe imploro...
As lágrimas e o desespero de Margery estavam tocando o mais fundo do seu coração. Mas ele também estava ferido. Ela o havia ferido com suas palavras, e merecia pelo seu desacato cumprir uns dias na masmorra, para aprender a conter suas palavras.
Enquanto ela chorava, ele pensava: não estava sendo cruel demais? Estava punindo-a simplesmente por um ato vil de vingança?Embora seu coração estivesse partido pela dor que ela transmitia, ele decidiu que precisava tomar uma atitude, pela suas palavras ofensivas contra o rei. Não contra o homem.
Theo franziu o cenho.
Se Diot podia pensar que ele abusava de mulheres, e que sua personalidade era moldada pelas suas origens, ele ia lhe mostrar que ela estava certa.
-Levem-a até a masmorra. Comida e água uma vez por dia.
Dois guardas a pegaram pelos braços e Margery saiu carregada pelos dois. Ela se debatia, como se estivesse sendo carregada por criaturas do mal.
Theo não sabia, mas era assim que Margery se sentia. Ser encarcerada novamente a fazia temer pela sua vida. O que poderia acontecer com ela na masmorra? Havia passado anos da sua vida no cárcere, não suportava a ideia de passar um dia sequer ali, novamente.
O desespero tomou conta da alma de Margery. Ela havia sido tão humilhada e machucada dentro de uma masmorra. E se acontecesse tudo de novo? Ela não suportaria.
Sabendo que não lhe restava outra opção a n não ser aceitar,nno final, sucumbiu as ordens do rei. E logo após a sua histeria, seu corpo e sua mente foram entrando em um estado letárgico de dor e resignação. Não havia nada a fazer. A não ser aceitar.
...
Theo se recompôs o máximo que pode. Nunca havia sido cruel com nenhum criado e isso estava lhe devorando os nervos. E não era uma criada qualquer. Era Diot! Ele sabia que tinha passado dos limites da sua honra de cavaleiro, mas agora estava feito.
Virou-se então para Ette que tinha uma os olhos arregalados, esperando que ele lhe falasse algo, mas Theo que havia ido na cozinha apenas para ver Diot, não tinha absolutamente nada para falar, ainda mais naquele momento. Ele então, citou as costas e saiu ouvindo de longe os gritos de Margery que depois, subitamente, silenciou.
Aquela demonstração de pavor que ela transmitiu aguçou a mente de Theo. Só quem conhecia uma masmorra de perto, sabia do horror de estar ali. E pelo visto, Diot sabia muito bem.
Mas como?
Precisava conversar com Bronson novamente.
Com urgência!

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