Capitulo 26: Os Três Reis

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Theo entrou no salão  parecendo que um raio o havia atingido na sua cabeça. Ainda havia muitas  pessoas ali, pois o rei ainda não havia se retirado do recinto e ele procurou seus amigos e os encontrou sentados sozinhos no tablado superior.
Derek e Cornell conversavam enquanto bebiam suas cervejas. Theo se aproximou silenciosamente e se sentou numa cadeira ao lado deles com o rosto fechado.
Ambos notaram que Theo parecia transtornado. Derek concluiu que ele tinha brigado com sua amante e criada Diot e divertido falou:
-Creio que não vai gostar de nossa conversa sobre o que as crianças fazem a noite que não deixam seus pais terem momentos prazerosos de quando eles ainda não existiam.
Cornell deu um meio sorriso. Mas percebeu que a fisionomia de Theo continuava rígida.
-O que aconteceu?
Derek olhou para o amigo. Imediatamente percebeu que havia algo de muito, muito errado com ele.
-Fale logo! O que aconteceu?
Theo se voltou para os amigos, e com uma voz grave falou:
-Precisamos conversar num lugar reservado.
Percebendo a urgência na voz de Theo, todo o sistema de alerta foram acionados. Os amigos então, não hesitaram e imediatamente,  os  três saíram do salão e Derek os guiou até a biblioteca.
Trancando a porta, ele  indagou o amigo:
-Fale logo, pois agora sou um pai de família e preciso beijar meu filho antes de dormir.
Cornell chegou perto de Theo e viu que os ombros sempre ereto do amigo estavam arqueados. Ele parecia um homem derrotado.
Percebendo que o assunto era sério, Derek também se aproximou do  amigo. Então Theo finalmente revelou o que o Duque de Pelayo havia lhe falado:
-Diot é a rainha Margery de Brugnaro.
Cornell e Derek se olharam surpresos. Cornell  saiu primeiro do estado de topor em que se encontrava diante daquela notícia estapafúrdia.
-A rainha Margery morreu a muitos anos, pelo que eu me recorde.
Theo olhou para o amigo, e seu semblante era mistura de raiva e dor.
-Você foi ao enterro da rainha? Sabe onde o corpo dela está enterrado? Sabe onde ela morreu? Ou a causa da sua morte?
Cornell ficou pensativo.
-Não.
-Pois então. Pelayo me falou que era íntimo do rei Allard e que conhecia muito bem a princesa que depois virou a rainha regente. Ele me garantiu que ela é Margery, filha e herdeira do trono de Brugnaro.
Derek que até então estava calado, decidiu dar sua opinião.
-Pelayo é um homem confiável e leal. Ele não mentiria sobre uma coisa tão importante assim, colocando muitas coisas em risco.
Theo assentiu,
-Sim. Por isso decidi escuta-lo. Na verdade, a mentirosa é Diot, ou Margery, como queiram chamá-la.
Cornell estava pensativo. Aquilo mudava tudo em Brugnaro. Ou seja, se confirmassem que ela era realmente a rainha Margery, ela era a herdeira legítima do trono. E aí... toda a luta que tiveram para tomar o trono não tinha valido de nada.
-Nunca desconfiou dela? Ela nunca deu sinais de sua origem?
Theo suspirou.
-Sim, algumas vezes... mas...
Derek completou:
-Mas se deixou levar pelas tormentas da paixão... sei bem o que é isso...
Consternado, Theo não podia admitir que tivesse sido enganado por tanto tempo.
-Fui levado pela rede de mentiras dela, isso sim. Ela me manipulou como toda boa filha de Eva que é. Aliás, ela esta  mais para Lility. Um demônio traiçoeiro que me enfeitiçou com suas mentiras.
Tentando encontrar uma solução plausível para aquele dilema e também tentando entender os objetivos daquela trama, Cornell falou:
-Será que tem mais alguma pessoa envolvida? Será que ela está planejando uma rebelião? Ou será que ela mesma iria fazer justiça com as próprias mãos?
Derek ouvia a tudo atentamente.
-Ela sabe  lutar? Maneja espada, adaga, flechas? Ela sabe ler?
Theo negou com a cabeça.
-Realmente, eu não sei.
Os três ficaram pensativos, até que de repente Theo explodiu toda a raiva que sentia.
-Ela é uma mentirosa! Uma farsante ardilosa! Sabe-se lá o que se passa pela mente dessa mulher! Tenho vontade de...de.... Matar ela com minhas próprias mãos.
Cornell resolveu intervir quando viu o estado de raiva e indignação de Theo.
-Calma. Talvez possamos resolver esse problema sem luta e sem derramamento de sangue.
Theo estava se sentindo traído por Diot. Ele a havia acolhido, cuidado dela, e tinha realmente boas intenções para com ela. Como ela pode fazer isso com ele? Como? Porque? O que realmente está pretendia com aquela rede de mentiras? O que ?
Theo sofria, pois sabia que seus sentimentos por eram puros e verdadeiros. Na verdade, estava profundamente apaixonado por aquela mulher! Um amor que agora, o devorava vivo.
-Como? Perguntou Derek curioso.
Cornell então explicou o que pensava
-Talvez a ideia de Beatrice seja a melhor opção. Case com ela.
Theo e Derek o olharam surpresos. Porém Theo não poderia sequer admitir uma solução como aquela. Impreterivelmente a resposta era não!
-Em hipótese nenhuma vou fazer isso! Como posso entregar minha vida a um inimigo?
Cornell continuou.
-Exatamente é sobre isso que estou falando. Lembram-se o que nossos pais sempre nos falaram? Tenha seus amigos por perto, e mais perto ainda, seus inimigos. Case com ela, devolva-lhe o trono, quem sabe assim não fique livre de qualquer atentado contra a sua vida.
Derek achou aquela uma ideia perigosa, mas que resolveria a questão até um certo ponto. A questão política e militar estariam resolvidas, mas as questões emocionais dessa atitude, Theo teria que resolver sozinho.
-Não quero dormir ao lado de uma traidora.
Derek sorriu.
-Mas não precisa. Será um casamento de conveniência, assim como tantos que vimos por si. Inclusive, os nossos- disse Derek apontando para Cornell . - Você manteria os dois reinos seguros. E ela conseguiria o que achamos que ela quer, ou seja, reivindicar o trono. Seja astuto. Talvez assim,possa dormir tranquilo. Mas, sozinho.
Theo sentia o gosto amargo da decepção e da ingratidão. Ela o enganou direitinho! Talvez a ideia de casar com ela não fosse tão ruim. Mas não sabia se conseguiria casar com uma pessoa que lhe trouxe tanto pesar.
-Se ela fez o que fez, deve ter seus motivos. Seria interessante saber sobre eles. O que aconteceu com ela? Quais seus motivos para se fingir de morta? Não sabemos. Apenas sabemos que Malaki era um homem cruel.Talvez seus fins justifiquem os seus meios.-Ponderou Cornell.
Theo entretanto estava irredutível.
-Não há justificativa para a mentira. Ela usou de artifícios para entrar no castelo e se fingir de outra pessoa. Pelo menos uma pessoa sabe quem ela é: Bronson, o mordomo e ele mentiu descaradamente para mim.
Derek pontuou:
-Não se esqueça que ela é uma rainha. E elas costumam ser amadas pelo seu povo, e no caso do mordomo, deve tê-la visto crescer e possivelmente mentiu para que ela pudesse estar segura.
Theo não estava entendendo as considerações dos seus amigos.
-Sim! Segura para me matar! Para saquear os 0s poucos bens que restaram no castelo.Ela com certeza deve querer provocar uma rebelião! O que vocês dois estão pensando? Estão com o coração amolecido? Ela é uma farsante, uma mentirosa. Uma mulher vil que usou dos meus sentimentos para com ela para me fazer passar pelo bobo da corte. Nunca irei me casar com ela! Nunca! Vou prendê-la na masmorra pelo resto da sua ignóbil vida, isso sim que vou fazer!
Derek se aproximou do amigo e colocou a mão sobre seu ombro.
-Estarei com você seja qual for sua decisão. Mas lembre-se, a partir dessa descoberta, todos saberão quem ela verdadeiramente é. Sua aparição vão causar uma comoção geral e não somente em Brugnaro. Você tem que ser estrategista como se estivesse num campo de batalha. Ela é a herdeira legítima do trono. Você conquistou um reino que já tem uma rainha.
Theo o interrompeu.
-Uma rainha mentirosa! Farsante ! Vil!
Cornell completou,
-Concordo com você meu amigo. Entretanto, ela é a rainha. O povo de Brugnaro vai recebê-la de braços abertos. E você sabe que isso pode acontecer. E aí... uma rebelião pode ser formada e você pode perder a sua vida. Por mais que coloquemos nossos exércitos lá dentro de Brugnaro, essa atitude pode ser desastrosa também para Walden. Você sabe que sua origem não lhe garante a lealdade dos seus vassalos, então porque arriscar toda a sua vida, se um casamento pode resolver tudo?
Theo estava inconsolável.
Não conseguia acreditar que há poucos momentos atrás iria lhe revelar seu amor e pedi-la em casamento. E agora, a ideia  de desposa-la, lhe era completamente estranha e inconcebível.
-Fala isso porque é feliz em seu casamento e lady Beatrice não é uma mentirosa contumaz como Diot, Margery, ou seja lá quem ela seja realmente.
Cornell sentia muito pelo seu amigo. Sentia sua dor e sabia que casamentos infelizes podiam gerar sentimentos bem duros de tristeza e de...
-Antes de Beatrice fui casado com Joanne. Tive que aturar muita coisa dela e de Ursulla. Aprendi que nem sempre as coisas são do jeito que sonhamos. Terá que lidar com sua frustração ou partir para o ataque militar. E terá que ser impiedoso. Porque se essa for a escolha, terá que por fim a vida da rainha. Está pronto para isso? Está pronto para lidar com as consequências dessa atitude?
Theo estava cansado.
Precisava descansar e colocar sua cabeça, mas principalmente suas emoções em ordem. Nesse momento, não podia tomar nenhuma decisão. Seu peito explodia de raiva e rancor por..por Margery. Precisava sair dali e ficar n sua solidão. Um porto seguro , conhecido e que sempre o acolheu.

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