Capitulo 13: Sobre intuição

241 48 1
                                    

No dia seguinte, após o desjejum que foi feito em seu quarto, Theo convocou Bronson para uma audiência particular.
O Velho mordomo acostumado a ser requisitado pelo  rei, não estava preocupado com a chamada repentina. Havia muitas coisas a se fazer em Brugnaro recentemente e ele, que a princípio estava desconfiado do rei e sua gente, agora começava a apreciar a forma cuidadosa e justa que ele estava encaminhando as coisas por ali.
O guarda abriu a porta para ele entrar e o rei já estava de pé, vestido com seu colete de couro, pronto para mais um dia.
Bronson fez uma reverência e colocou as mãos para trás, esperando as ordens do rei.
Entretanto, Theo parecia não ter presa.
Ele estava sentado à mesa e  colocou as mãos  cima dela, olhando seriamente para o velho criado.
-Você está aqui a quanto tempo Bronson?
O mordomo olhou para o rei surpreso. Não esperava por essa pergunta, e principalmente, no tom em que enlaçou feita.
-Eu nasci aqui mesmo neste castelo milorde.
Theo se recostou na cadeira.
-Seus pais serviram ao reis de Brugnaro?
Bronson estufou o peito e disse com orgulho:
-Há quatro gerações servimos ao reis de Brugnaro, majestade.
Theo  deu um pequeno sorriso.
-Isso é muito bom Bronson. Lealdade é uma palavra muito importante, para aqueles que creem nela.
O coração do Velho mordomo quase parou. Não estava gostando nada do rumo daquela conversa. Parecia que o rei o estava sondando de alguma coisa que ele queria saber, e pelo visto só havia um assunto em comum entre eles: Diot, ou melhor, a rainha Margery.
-Você serviu ao rei Allard?
Bronson confirmou o que pensava. Era sobre isso que o rei queria lhe falar?
Infelizmente iria responder com lealdade na medida do possível. Na medida em que a sua lealdade a coroa de Brugnaro, não colocasse a vida da rainha em perigo.
-Por toda a vida de sua majestade. Milorde.
Theo  levantou-se.
-Conte-me tudo o que aconteceu desde  a vinda do príncipe Malaki para Brugnaro e também sobre a princesa Margery que depois se tornou rainha deste reino.
Bronson sentia o suor escorrendo pelas suas costas. O que será que aconteceu para o rei estar lhe perguntando aquelas coisas? Simples curiosidade? Ou havia algo mais ali?
-Bem vossa majestade, não me sinto altura de dar minha opinião sobre meus soberanos.
Theo o olhou seriamente. Somente ele poderia lhe dar as informações que ele queria e precisava.
-Estamos só nós dois aqui. Não quero sua opinião pessoal, quero somente os fatos.
Bronson se recompôs e começou a falar:
-O rei Allard vem de uma longa linhagem de reis, muito jovem se casou com a princesa Kather e ambos tiveram apenas uma filha, a princesa Margery.  A rainha morreu alguns anos depois deixando a princesinha aos cuidados das amas e  aias do castelo. O reino  apesar de muito pequeno sempre foi próspero e o rei Allard sempre governou para o  seu povo, Milorde.
Até aí, essas informações eram confiáveis, pois o rei Allard tinha uma reputação respeitada nos cinco reinos Ele queria saber mais sobre a princesa, na verdade.
-E a princesa, como era?
Bronson pareceu voltar no tempo ao falar da princesa Margery.
-A princesinha Margery  era o encanto desse reino. Ela era muito esperta, sempre fugia de todos os  compromissos na corte. Não dava sossego aos criados. Foi criada com muita liberdade, o rei simplesmente fazia todas as suas vontades. E ela sabia disso.
Theo quase riu. Estava gostando de saber sobre a pequena princesa de Brugnaro
-E então, Cono foi a chegada de Malaki?
De repente, o Velho  pareceu incomodado, mas parecia disposto a falar, e isso era bom.
-Quando o príncipe Malaki se juntou a corte, houve muitos comentários, pois ele era de um reino distante, se dizia viajante e muito culto. Milorde há de entender, que a corte de Brugnaro era muito cortês, os nobres que aqui viviam, em sua grande maioria eram nobres idosos, vassalos do rei Moaestd, que vinha  a ser o pai do rei Allard. Era todos bons e compassivos. Eram pessoas tolerantes e fáceis de se lidar.
A curiosidade de Theo estava aguçada.  O reino de Brugnaro atualmente estava muito longe dessa imagem que Bronson lhe passava. O que havia acontecido ali?
-E então...
Bronson estava mais a vontade nesse momento, relembrar tudo o que havia acontecido e isso lhe dava a total dimensão do desastre que viria a seguida.
-Quanto mais vossa alteza, o príncipe Malaki permanecia aqui, mais aliados ele ia fazendo. Quando o rei Allard foi adoecendo repentinamente, já se ouviam boatos de muitas conspirações pelas paredes. O rei parecia não levar os boatos muito a sério, mas aos poucos, foram acontecendo pequenos vandalismos, os vassalos começaram a se rebelar contra o rei, que nessa altura estava completamente adoecido e de cama. Então, enquanto reinava o caos, repentinamente, sua alteza se casa com a nossa princesinha.
Theo estava sentado  na mesa, frente a frente com Bronson. Parecia muito interessado na conversa, neste instante.
-Houve boatos de quem estava inflamando essas pequenas rebeliões era o próprio príncipe?
Incomodado, Bronson não sabia como responder aquela pergunta. Era extremante perigosa.
-Não tenho como lhe responder  da melhor forma majestade, mas os boatos entre as colunas sempre afirmaram isso.
Theo estava começando a entender porque o povo tinha tanta desconfiança dele. Eles haviam sido traídos em sua confiança por Malaki
-Continue, Bronson.
O Velho assentiu,
-Então assim que  houve o casamento, o rei Allard faleceu e a princesa se tornou a rainha regente e o príncipe, o rei consorte. Porém, a verdade milorde, e que quem reinava era o rei. Passado um ano de sua coroação, a rainha foi afastada de suas funções e nessa altura, devo dizer, que reinava a desordem no reino.
Pouco se sabe sobre o adoecimento da rainha. Um belo dia, o rei anunciou seu falecimento e ninguém mais falou sobre isso. Era um assunto proibido, assim como muitos outros, se milorde me entende. A insubordinação reinou durante todo o reinado do rei Malaki e aos poucos, ele foi perdendo as forças políticas, os  ducados se rebelaram e aí, como milorde sabe muito bem, Brugnaro foi tomado por Walden.
Theo o olhou seriamente.
-Conquistado, Bronson. Conquistado.
O mordomo assentiu.
-Sim milorde.
Mas ainda havia uma questão que não estava bem clara  para Theo. A morte da rainha era uma incógnita e ele resolveu insistir.
-Não existem quadros da rainha no castelo? Já que antes havia boas práticas  na corte, com certeza, deve ter havido pintores e artistas por aqui. Não tem nenhum  retrato de milady?
Bronson ficou pálido.  Tinha medo de falar e sua voz falhar, mas não tinha jeito, teria que  responder  da melhor forma possível.
-Infelizmente, não há nenhum retrato da rainha milorde. Todos foram destruídos.
Theo ficou pensativo. Havia alguma coisa ali. Sua intuição não falhava nunca.  Ele iria descobrir.
-E não há um túmulo para trazermos as relíquias da rainha para sua terra natal?
Bronson abaixou os olhos e  encolheu os ombros diante da insistência do rei.
-Não saberei responder essa pergunta milorde, possivelmente, os padres no mosteiro saberão  informar vossa majestade com maior precisão.
Theo se deu por satisfeito por enquanto.
Sabia que Bronson não havia lhe contado tudo, pois, os anos interrogando prisioneiros de guerra, lhe deram um aprendizado bastante amplo sobre o assunto  e ele sabia, pela postura corporal do mordomo, que ele estava mentindo.
-Mas porque? Essa era a questão.

O Rei Bastardo Onde histórias criam vida. Descubra agora