Reunião no jardim

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A semana passou voando. Bom, sempre passa por aqui, digamos que desocupada eu não fico. Consegui terminar todas as tarefas que tinha de fazer.

E a despedida de hoje foi difícil. Acho que sempre é complicado dar adeus para tudo e começar a minha vida nova. Eu estava com o coração nas mãos ao momento que saí pela grande porta do orfanato entrar no carro preto, que José — o simpático senhorzinho que sempre nos ajuda quando precisamos de fazer alguma viagem longa — dirigia. Foi emocionante ver as meninas correndo atrás do carro, acenando alegremente, me desejando boa sorte.

O carro seguia pela longa estrada calçada com pedras perfeitamente encaixadas. Saia do pequeno vilarejo de Rundum e seguia em direção à serra. O internato não era muito longe, acho que aproximadamente uma ou duas horas para ir do orfanato até lá. O ambiente era maravilhoso, a medida que o carro de aproximava, eu contemplava a natureza que cercava o grande castelo onde se encontra a escola. José estacionou o carro em frente ao grande portão de ferro. Ele estava escancarado e os estudantes estavam entrando. Saí do carro e respirei fundo.

— Já deu tudo certo, Ágatha. Vai lá, corre atrás dos seus sonhos. — José disse.

— Obrigada por tudo. — eu disse enquanto acenava para o simpático senhor, que saia com o carro.

Passei pelo portão. Pisei na grama molhada pelo tempo úmido. Essa sensação foi indescritível, era como se nada mais pudesse dar errado, mas, em simultâneo, a ansiedade me corroía por dentro. O caminho que levava ao castelo passava pelo jardim, que era maravilhoso. Com estufas, flores cheirosas e fontes de água.

Ao final do percurso, me deparei com a grandiosidade da construção. Foi feita em meados de 1840, se não me engano, pelo Lorde Beatus, um cientista que estava à frente do seu tempo. Concretizou muitas pesquisas extremamente importantes para a medicina e a tecnologia da época.

O castelo era feito de tijolos cinza, haviam plantas que escalavam suas paredes e criavam um ambiente tranquilo e revigorante. As grandes portas de madeira se abriram e os estudantes novatos tinham que ir á secretaria efetuar a matrícula.

Com a abertura do portão, pude ver o grandioso salão que ele guardava, parecia ser destinado a um baile. Simplesmente o lugar mais bonito que já vi. A luz suave de mil velas de um enorme lustre iluminava as paredes de mármore verde-escuro e o chão de madeira perfeitamente encaixada, que formava no exato meio do salão, uma gigante estrela. Também haviam grandes vitrais com o brasão do internato. Eu não sei de mais nada além de que isso foi caro. Como alguém pode ter todo esse dinheiro? Chega a ser injusto.

Havia uma grande escada ao fundo, que ligava o salão a um corredor, eu o atravessei e me dirigi à secretaria. Me apresentei à atendente e a entreguei os documentos para minha matrícula.

— Você é Ágatha Borges, a bolsista deste ano, certo?

— Sim, senhora.

— Olha, você também é de Rundum, que novidade boa. Cresci lá. Mas... Borges? Que estranho, nunca ouvi falar dessa família, quem são seus pais?

— Na verdade, Borges é um nome fictício. Eu não tenho família, sou órfã.

— Oh, me desculpe pela inconveniência. Pronto, está tudo certinho, a matrícula saiu de graça, você terá de pagar apenas os 30% da anuidade, já está sabendo disso?

— Sim, obrigada.

— Aqui está a chave de seu quarto, já pode arrumar suas coisas, o número é 401...

Ela me deu as instruções de como chegar lá e me avisou sobre o encontro de Boas-vindas que teríamos às 18 horas no jardim, que eu não posso perder. Guardei meus documentos, e segui o longo corredor até encontrar a ponte que ligava a escola aos dormitórios.

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora