Desilusões do acaso

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Já fazem algumas semanas que estudo em Lorde Beatus agora. Cada dia que se passa eu estudo mais e mais pesado, me esforçando para continuar com minha bolsa de estudos ano que vem (e talvez até melhorá-la, conseguindo os 100%).

Eu não consegui me enturmar com os amigos de Stef, apesar de sermos bem próximas. Não são todos, mas digamos que vários deles tem uma espécie de fixação em ficar me fazendo de chacota o tempo inteiro. Stefane os repreende, mas eles não vão parar. Além disso, simplesmente não consigo me encaixar em um lugar cheio de intrigas, onde um fala mal do outro pelas costas. As vezes eu acho que a "amizade" que eles tem é só de fachada, lá dentro é só inveja.

Bem, esse é um dos muitos motivos que me fez ficar muito próxima de Lúcia, nós simplesmente nos entendemos, quando eu estou com ela, o mundo fica mais leve, mais fácil. Ela é o mais próximo que tenho de uma melhor amiga. Mas chega a ser estranho que a nossa conexão parece ser ainda mais forte do que isso, por exemplo, eu amo Stef, mas o que sinto por ela é totalmente diferente do que sinto por Lúcia, como se fôssemos almas gêmeas.

Durante todas essas semanas, o lugar onde mais passei o tempo foi no jardim, porém depois do primeiro dia, nunca mais fui lá sozinha novamente, nem entrei na mata fechada. Eu e Lúcia descobrimos uma parte abandonada no jardim, parece ser muito antiga, e lá tem uma linda lagoa, com uma ponte branca que passa por ela. Também há ruínas de uma fonte, que combinamos de concertar, e várias estátuas, cobertas de lodo.

Cada dia eu fico melhor em meu trabalho, até devo admitir que eu estou achando isso tudo muito interessante, mas ainda nada me convenceu que isso é real (e nem vai). Todavia, agora eu sei o nome e a função de quase todos os apetrechos antiquados que se vende lá. Segundo o próprio Calipso, tudo é original ou uma réplica perfeita do que os nossos ancestrais mágicos usavam. As vezes eu me pergunto se ele possa ser algum descendente direto deste povo, pois é impossível ele saber tanta coisa assim. Parte de mim ainda acha que ele inventa isso tudo por dinheiro ou é maluco, e se for a primeira opção, não está dando muito certo, nossas vendas caíram muito, se bem que nunca subiram.

A minha rotina é bem simples, assisto aulas, estudo e faço tarefas, e ao entardecer vou até a Vila de Pombas, com a bicicleta que Stef me emprestou, para ir ao trabalho. Eu estou dando conta disso tudo e ainda tenho tempo de sobra.

Enfim, acordo em minha cama bagunçada, cheia de cadernos que não guardei noite passada. Meu alarme não despertou. Já era tarde, quase sete horas, hoje não vai dar para tomar café da manhã. Vesti meu uniforme o mais rápido que consegui e estava fechando a porta quando reparei que o montinho na cama de Stef não eram almofadas, e sim ela mesma.

— STEFANE ACORDA! — gritei — Já são quase sete horas!

Ela acordou desesperada, me olhou com um olhar assustado, mas a expressão subitamente se transformou em raiva, ela arrancou o calendário de sua parede e arremessou contra mim.

— Qual é o seu problema, garota?

Eu demorei alguns segundos para raciocinar que já era sábado. Eu tentei me desculpar mas fiquei com medo de ela me matar se eu dissesse mais uma palavra.

Ela deitou seu corpo e fechou os olhos. A porta ainda estava aberta, e para piorar, haviam pelo menos umas três meninas com a cabeça para fora dos quartos espiando para tentar entender o motivo dos gritos.

— Me desculpa, pessoal. — disse e fechei a porta.

— Tenta não gritar da próxima vez. — me assustei ao ver Stef parada ao meu lado.

— Eu sinto muito, eu pensei que era sexta. Você não ia voltar a dormir?

— Eu ia, sim, mas eu não vou conseguir. Mas, relaxa, tá tudo bem. Eu só não entendo o porquê desse seu instinto protetor. Você não precisa me tratar como se eu fosse sua filha. Na verdade você trata todo mundo assim. Se preocupa demais. Bem, de qualquer forma, eu já vou tomar café. Você vem?

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora