Fadada ao maligno

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Hoje começa oficialmente o ano letivo. Acordei esfregando meus olhos secos, tentando processar a realidade.
Uau. Eu realmente estou aqui.

O jornal foi deixado em minha porta com ótimas notícias. Eu estou procurando por propostas de emprego, e eu vi um perfeito: Assistente da loja Magia e Cia. É basicamente uma loja de uma vidente, ou coisa assim. Enfim, o trabalho é de meio período e com ele vou conseguir arrecadar o suficiente para pagar a anuidade. Eu verifiquei as informações e a entrevista de emprego é hoje à tarde.

Stef dormia como uma pedra. Ontem ficou acordada até tarde, conversando com os amigos.

Entrei no banheiro e fui tomar uma ducha rapidamente. Quando sai, Stefany estava parada ao lado da mesa, olhando para o jornal, com olheiras gigantescas e uma expressão extremamente cansada.

— Por que você pediu o jornal? — ela diz com voz de sono.

— Eu estou procurando um emprego.

— Para quê?

— Eu preciso de dinheiro para pagar a anuidade.

— Seus pais não vão pagar para você? Que egoísmo da parte deles. Que tipo de pais não ligam para o futuro da filha assim?

— Eu não tenho pais. Eu morava num orfanato.

Stef me olhou com pena, e pareceu se sentir culpada.

— Ai meu Deus. — ela diz pausadamente — Sinto muito, que falta de consideração a minha. Se você quiser eu pago para você! Eu juro...

— Não, não... não quero isso. Eu preciso de trabalhar para conseguir sustento, e isso também vai ajudar muito o meu futuro. É sempre bom ter experiência. Agora, Stef, você precisa se arrumar, o café já vai começar.

A manhã passou rapidamente enquanto a luz do sol pintava os muros da grande propriedade. Depois do café começaram minhas aulas.

O professor alto, barbudo e vestido como se não estivéssemos no calor do Brasil entrava a passos largos na bela capela, que ficava separada do resto do castelo, era necessário passar pelo jardim para chegar lá. Ele carregava uma Bíblia nas mãos.

Ele nos pediu para abrirmos a Bíblia, lermos alguns versículos, interpretá-los e depois falou mais um pouco do projeto evangelizador da escola.

Stef e Lúcia estão na mesma turma que eu, logo passamos muito tempo juntas, mas as duas não são muito próximas, a Stef prefere socializar com o resto dos amigos dela, eu entendo ela, se eu fosse alguém legal com vários amigos, não gastaria meu tempo conversando comigo.

Saí da grande capela e voltei ao longo corredor, lá me dirigi a sala de aula da primeira série. A segunda aula foi matemática, achei muito interessante que aqui, as matérias de geometria e conteúdos mais avançados são obrigatórios, e lecionados por um único professor. Na minha antiga escola não era assim, apenas a matemática básica era obrigatória, o resto era opcional. Penso se isso não é uma estratégia para fazer com que os ricos continuem no poder, pois os pobres não são incentivados a nada disso, tudo o que querem é um trabalho que dê uma renda suficiente para não morrer de fome.

Depois disso, o professor Ernesto, de matemática, se retirou, e Rute, de Geografia, adentrou a sala, trazendo um bonito globo e um sorriso no rosto. Foi uma aula muito tranquila, divertida e descontraída, ao contrário das outras. Ela era muito paciente e explicou a introdução à matéria de forma simples e clara.

— Como foram suas primeiras impressões daqui? — Stef me perguntava, empolgada, me encontrando no corredor.

— Gostei bastante, todos foram muito gentis. — menti. A maioria das pessoas foi simpática e respeitosa, mas não fui poupada de escutar alguns comentários muito cruéis sobre mim. Entre cochichos e risadas se destacavam as frases: "coitada!", "cuidado com a maldição dela!". E outras nem tentavam esconder, apenas gritavam: "olha a macumbeira passando!"

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora