A Maldição de Ágatha | ⚢

Inferno

Lembro que um dia me disseram que ser uma garota adolescente era um inferno. Pelas minhas vivências em particular, devo concordar. Bem, gostaria de acrescentar algo nessa frase: ser uma garota adolescente lésbica é o dobro do castigo.

Heitor hesitou ao aceitar meu pedido, mas acho que ele deve ter visto o desespero em meu olhar. Mesmo assim, ele foi buscar a chave, enquanto eu me dirigia para fora. Logo, entrei no banco da frente do carro velho de Heitor e seguimos a estrada verde e tortuosa. Às vezes víamos um pasto, uma fazenda talvez parecida com a de minha visão, mas não tinha como eu apreciar a natureza enquanto meu coração batia incontrolavelmente e eu estremecia de ansiedade.

Foram longas horas de tortura. Aquele arrepio frio me fatiava enquanto imaginava como seria, o que dizer, o que fazer para recuperá-la...
Quando finalmente chegamos perto do local, saí do carro apressadamente, correndo em direção à Igreja antes mesmo de Heitor estacionar.

Meus passos eram largos e desesperados, eles batiam no asfalto com força e eu só pensava em chegar lá, em encontrá-la, eu não podia perdê-la assim. Logo virei a esquina, podendo finalmente ver a construção antiga, talvez com um pouco de inspiração gótica, uma torre alta e seus vitrais maravilhosos: a catedral de Petrópolis. Nada disso me interessava, e sim a pessoa que estava em sua frente, vestida inteiramente de branco, com um buquê de rosas e seus cabelos perfeitamente presos em um coque chique. Eu poderia simplesmente afirmar algo clichê como "Neste momento tive certeza que estava olhando para a pessoa mais linda do mundo", mas seria uma baita mentira, pois sempre soube disso, desde o momento que a vi carregando sua bandeja no restaurante, ou quando a vi descabelada e de pijama. Nesse momento, claro que era possível ver beleza, mas apenas superficial, pois tudo o que percebi foi como sua alma estava devastada, e seus olhos, tristes.

Ela ainda não havia me visto, por isso apressei meus passos, com meu coração nas minhas mãos.

Parecia que o mundo não se movia aos meus passos, como se eu estivesse desconectada do planeta e ele girasse ao contrário de minha direção, deixando meus passos inúteis a sua grandiosidade. Estava cada vez mais distante dela. Não importava o quando eu acelerava, não me locomovia um passo sequer.
Então, sem outra alternativa, eu parei, ofegante, esfreguei meus olhos enquanto convencia a mim mesma a voltar para o mundo real.

Pus-me a correr novamente, e dessa vez tudo voltou ao seu perfeito normal.

Ela estava desesperada, sibilando algo como "Cadê ele?", mas quando cheguei perto dela, minha voz fraca se atropelou:

— Por... favor.

Foi tudo o que eu disse, e Lúcia levou um susto ao perceber minha presença.

— Ágatha? — ela me encarou por alguns segundos, e me abraçou — Você veio! — ela suspira.

— Eu não posso te perder. — sussurrei. — Por favor... vem comigo.

— Ágatha... — seus olhos encontraram os meus, com uma expressão vulnerável de pena e desespero, mas sua doçura ainda estava transparecida debaixo de todo esse medo. — Eu te amo, mais que tudo no mundo, por favor acredite em mim, mas você precisa entender, não existe uma escolha.

— Claro que existe!

— Eu não vou discutir mais. Não podemos continuar tendo a mesma conversa. Te chamei para termos pelo menos uma única memória boa do pior dia de minha vida, mas você tem essa síndrome de bancar a heroína de uma coisa que não dá para me salvar!

Ela me magoou. Estava fazendo tudo por ela, e ela nem se dava o trabalho de agradecer. Passei três horas de tortura e ansiedade na porra de um carro, só para ver ela, e ela não reconhece o que sinto. Por outro lado, ela estava certa. Quais as chances? Quais as chances de meu plano mal pensado funcionar? Sou apenas mais uma idiota apaixonada, entre tantas no mundo. Talvez eu devia ter minhas esperanças acabadas no momento que ela recebeu a carta que alertava sobre seu casamento. Como queria nunca ter retribuído aquele beijo...
Simplesmente fiquei em silêncio. Sem nem saber o que dizer. Ela me encarava no fundo de meus olhos.