Reflexão

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As férias passam depressa na casa de Lúcia. Bem, talvez seja porque a percepção de tempo muda completamente quando estamos muito felizes. E no meu caso, eu estava apaixonada.

Não foi uma tarefa fácil esconder isso, desde que descobri que meus sentimentos eram recíprocos, simplesmente parei de reprimir o amor que sentia, e em consequência, agora tinha uma vontade louca de expressar meu amor por Lúcia o tempo todo. Devo admitir que no começo era vergonhoso, era estranho beijar minha melhor amiga, e era mais estranho ainda gostar disso.

E os momentos com Lúcia passavam tão rápido... ao contrário dos momentos em que tive alucinações, que por sua vez pareciam durar anos. Algumas eram simples, como as que a mulher fantasma aparecia repentinamente nos momentos mais inusitados, já outras eram terríveis, como a que aconteceu no segundo dia.

Essa foi a alucinação que mais me amedrontou, mas está longe de ser a pior.

As piores mesmo, eram as quais eu não sabia se aquilo era real ou não. Tal como a que tive no primeiro dia.

Não posso mais confiar em meus olhos.
Não posso mais confiar em meus ouvidos.
Não posso mais confiar em ninguém.

As visões não me deixaram em paz um dia sequer, em dirá os pesadelos, quanto mais visões eu acumulava, mais elas se repetiam, e pior era meu sono.
Não tinha como eu me acostumar com isso. Eu precisava de uma solução. Esses momentos são tão horríveis que, sinceramente, eu preferia estar morta ao ter de enfrentá-los. Me sentia tão culpada por ter esses pensamentos, tão culpada. Quem me salvou dessa situação foi Lúcia. Eu olhava para ela e lembrava do quanto eu gosto de estar viva, apenas por poder amá-la.

De qualquer forma, os pensamentos negativos sempre estavam em minha cabeça, sejam estas horríveis insinuações suicidas ou então, a tristeza por ter que esconder meu amor por Lúcia.

O fato de que Antônio passará as férias inteiras conosco complicou nossa relação mais ainda, pelo visto ele morava em outra cidade, e tinha o objetivo de se aproximar de Lúcia em suas férias. Resumidamente, ele tentou fazê-la gostar dele, talvez em prol de uma vida menos estressante.

Bem, era isso o que eu pensava.

— Ágatha, eu sei que posso parecer inconveniente, mas eu realmente preciso conversar contigo, pode me conceder essa chance?  — Era a terceira vez que Antônio perguntava isso, agora na sala de estar, onde estávamos sozinhos, pois Lúcia havia saído com os pais, nos deixando em uma situação extremamente desconfortável.

— Claro. Vá em frente. — disse, não sabendo mais como fugir disso.

— Eu nem sei como prosseguir, mas enfim, você acha que Lúcia não me ama?

— Você quer uma resposta sincera?

— É claro que quero!

— Olha, pense pelo lado dela... primeiramente, ela soube desse casamento por uma carta! Literalmente, uma carta! Foi extremamente insensível com ela, e por cima de tudo, sem seu consentimento. Você não sabe por quanto tempo minha querida... — eu gaguejei — minha querida amiga Lúcia sofre por conta disso, te juro, se você estivesse em meu lugar até se cansaria de ouvir suas reclamações. Ainda por cima, ela sonha em se casar por amor, entende? Ela é uma pessoa tão doce, romântica e sonhadora... e todos os sonhos dela estão sendo massacrados com essa desgraça de casamento!

Acho que peguei um pouco pesado.

— Então, resumidamente ela não me ama, certo?

— Certo. Ela não...

— Então quem ela ama? — ele me interrompeu.

— O que...?

— Ágatha, quem ela ama? — ele dizia em tom sério, mas ao mesmo tempo tranquilo. Não parecia uma ameaça, na verdade não era nada do tipo, eu pude ver o brilho da curiosidade em seus olhos — E não minta para mim, não há motivo para isso.

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora