Eu e o meu coração

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Eu olhava para o papel, paralisada de medo, algo não estava certo, isso é irracional, isso não é possível...

— Stefane... você desenhou isso? — perguntei, mostrando o desenho para ela.

— Não. Por que?

— Por que você e a Lúcia foram as únicas pessoas que sabiam que eu vi isso. Se não fui eu e nem você, só poderia ter sido ela!

— Que estranho... — ela segurou o livro em suas mãos, observando o desenho, até que eu o arranquei.

Eu peguei uma caneta e escrevi no verso:

Lúcia,
Foi você que desenhou isso?
Por favor responda logo,
Ágatha

Então eu o dobrei e passei pelo buraco no chão. Então bati compulsoriamente no mesmo, até ouvir reclamações de barulho no andar de baixo. Eu deveria ter lembrado que eram quatro da manhã e não seis da tarde antes de fazer isso...

Até que alguém puxou o papel do andar de baixo. Logo, o papel retornou.

Querida Ágatha
Não, não fui eu. O que é isso?
Com amor,
Lúcia

— Oh meu Deus! O que está acontecendo? — Stef exclamou, levando as mãos à cabeça.

Me virei rapidamente, e lá estava ela, olhando vidrada para o livro, e eu me juntei a ela, aterrorizada. Se formava, sem auxílio de um sequer lápis ou caneta, a figura arrancada, novamente em seu papel.

E em questão de segundos, o desenho se finalizou. Passei uma página, lá estava a experiência traumática que passei ontem, completamente ilustrada. E quando me dei conta: todas as minhas visões estavam registradas no livro.

Então, me assustei com batidas na porta. Desvirei a chave e Lúcia entrou, ainda de pijamas.

— Está tudo bem? O que era aquilo? Você não me respondeu, Ágatha.

— Um desenho apareceu do nada no livro que eu ganhei. Eu pensei que pudesse ter sido você ou Stef, mas o livro começou a desenhar sozinho e...

— Ei, calma, respira... sente-se um pouco.

— Como você quer que eu fique calma? Stef viu tudo! O livro está criando imagens por si só!

Ela olhou para mim, confusa, então foi até o livro e deu uma olhada.

— Eu nem sei como reagir, Ágatha.

— São as minhas visões! Tudo o que eu vi está aí.

Eu fiquei perplexa, sem acreditar no que vi. Pelo resto do dia, tentei esvaziar minha mente, fazer outra coisa. E no último momento da última aula, minha atenção foi finalmente tomada:

— Bom, foi isso, pessoal. Aproveitem muito as férias! Daqui a 15 dias estamos de volta. — Ernesto, o professor de matemática, proclamou.

Férias? Em minha percepção de tempo, ainda faltava pelo menos um mês para as férias de inverno. Confusa, ao sair pelo corredor, perguntei à Lúcia:

— Já estamos de férias? Mas ainda falta um mês.

— Sim, as aulas acabaram. Não percebeu como todos estavam animados hoje? — ela riu — Você é muito distraída, Ágatha.

— Você não prestou atenção em nenhuma das vezes que eu estava falando do quão animada estou para ir ao Rio de Janeiro nas férias?

Na verdade não. Eu me perco em meus pensamentos muito facilmente, mesmo não sendo intencional, e vamos concordar que isso piorou desde que comecei a ter visões.

A Maldição de Ágatha | ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora